sábado, 8 de dezembro de 2012

Difícil descoberta


Aí um dia você acorda, em pleno sábado de sol, e descobre, por SMS, que sua filha de 18 anos sabe muito mais sobre sua vida do que você podia imaginar. Vá lá que nunca foi algo muito escondido, mas não precisava ser assim. Desde que me conheço como mãe, sempre procurei o diálogo aberto e objetivo, o mais honesto e preciso que coubesse em cada momento e para cada questão. E de repente percebo como é difícil para alguém tão jovem falar de um assunto como esse - como tudo o que aqui está - abertamente com ninguém menos que sua mãe. A mãe que mantém este blog, com toda a sua explosiva carga erótica. Ai!

Há alguns anos, ela já  havia feito uma investida  superficial, perguntando com todas as letras se eu havia traído seu pai e meu marido alguma vez. Deixei, na época, bem claro, que trair, para mim, era faltar aos combinados e que, de qualquer modo, eu não iria responder a uma pergunta que envolvia não apenas a privacidade que é e deve permanecer minha, mas a do seu pai. Aquela zona não lhe pertencia. E pronto. Talvez na época já suspeitasse de algo, não sei. O fato é que não era preciso mentir, pois essa é a realidade na qual nos movimentamos.

Como dizer a quem ainda engatinha na lida das emoções e na construção do modelo de relacionamento que vai adotar em sua  própria vida , o tanto de complexidade que envolve um relacionamento de 23  anos, como o meu com meu marido, ambos intensos em nossas emoções? Como explicar que fomos, sim, um casal fetichista até que ele se cansou da brincadeira e me incentivou a continuar sozinha, recusando-se não apenas a participar mas também a saber do que me vai por essa zona cinzenta que é só minha? Como convencer alguém tão jovem de que há amores e amores e que nenhum é exatamente igual ao outro, nem precisa rezar pela cartilha das convenções da sociedade? Como desenhar para uma artista a regra de ouro da boa convivência, pela qual não se pergunta o que não se sabe se quer saber, nem se procura o que não se sabe se quer achar? Tão pouco se esconde por trás do acordo tácito de duas pessoas que tanto se respeitam! E é por isso mesmo que, ao pouco se esconder, tudo se preserva e nada vai mudar - a menos que se obrigue as partes ao confronto indesejado e, com ele, se detone o que merece ser preservado. Ninguém merece ser  obrigado a expor e destruir sua intimidade por um lindo par de olhos azuis acusadores, que não conseguem deter a correnteza de suas emoções. Muito menos um pai amoroso que não vai saber lidar com essa nova realidade. A cada um, apenas, o que lhe pertence. Não é sensato aliviar o próprio peso sobrecarregando o outro.

Sei que você vai ler isto, minha filha, como leu todo o resto. Mas acredite naquilo que falei  para você agora há pouco: entre mim e seu pai, nada muda porque não tem de mudar. A família, no que lhe diz respeito, não se altera nem sua descoberta afeta meu amor por você - ou por ele. Não sei se terá maturidade suficiente para processar tudo o que leu aqui e o que isso representa. Se não for hoje, talvez um dia, se se permitir expandir o horizonte de sua visão emocional, talvez possa absorver a intensidade do tanto de vida e informação que aqui está resumido. Resumido, sim, porque toda palavra, como toda imagem, nada mais é que uma fatia de algo muito mais intenso e elaborado, que apenas se adivinha. A vida não é simples, já lhe disse isso muitas vezes, e cada um deve achar o melhor caminho não apenas para sua sobrevivência, mas para seu enriquecimento pessoal. Acha que tudo o que  leu não foi enriquecedor e não acrescentou a tudo o que sou, inclusive mãe e esposa? Nem por um instante acredite nisso. Somos o resultado de todas as nossas opções, nem mais, nem menos. "Yo soy yo y mis circunstancias", já dizia Ortega y Gasset. Esta é a mãe que você tem. E esta mãe não se envergonha nem arrepende de ser o que é. Entre outras coisas menos nobres, a pessoa que mais ama você neste mundo.

 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um passo adiante

Há poucas coisas mais contraditórias do que fazer uma mudança. Por um lado, é a oportunidade de tirar da frente tudo o que já não serve mais, tudo o que representa momentos que deixaram de ser relevantes, tudo o que está atravancando nossos caminhos e enchendo gavetas esquecidas do que não precisa mais ser. É, assim, um momento de exorcismo para fantasmas que muitas vezes sequer identificávamos como tais.

Mas há também o outro lado, o do passo adiante, o empurrão para novos caminhos e moradas, aquele passo que nos assusta, por mais seguro que pareça. É um sentimento primitivo, de preservação, que nos segura no lugar. Que nos faz olhar para trás uma e outra e mais outra vez, sob o pretexto de buscarmos algo que talvez, apenas talvez tenha ficado esquecido, algo importante que nos fará tanta falta um dia, pode ser,quem sabe...

Como é de contradições que se constrói a vida e são elas que dão cor e sabor a nossa trajetória, o passo adiante é o momento mágico que finalmente nos libera de amarras que já não nos pertencem. Em alguns casos, como este, as amarras se estenderam até onde não deveriam jamais ter avançado. Agora, você está livre. Solto para viver sua vida, ocupar seu espaço e degustar sua independência. Nada mais é transitório, não além do que tudo o é. Este é seu mundo. Esta é a vida que você procurou. Tenha muito orgulho de tudo e por tudo, meu amado. Eu tenho muito, mas muito orgulho mesmo de você!

TE AMO!!!

Uma tarde de carinho

E lá fui eu, ontem, para mais uma experiência de massagem tântrica com o amigo Flávio. Sim, podem me chamar de assanhada, afinal em plena segunda-feira, depois de uma manhã de muito trabalho e com perspectiva de trabalhar ainda mais noite adentro, tem que ser muito gulosa para escapar da rotina e ir ao encontro de uma deliciosa tarde de prazer. Prazer e carinho. Porque o mais gostoso dessa brincadeira toda é perceber que é possível se jogar ao encontro do desconhecido e sair do mergulho melhor, mais alegre e de bem com a vida, coração aquecido por esse sentimento gostoso que é o carinho, algo que se costuma identificar com momentos mais piegas, cachorrinhos abanando rabos e velhinhas com netinhos no colo, bolinhos de chuva e vasinhos de violeta ao entardecer. Os comerciais de margarina que me perdoem, mas carinho é fundamental para o prazer e tempero dos mais gostosos para o erotismo. E por mais que alguém goste de sexo selvagem, por mais masoquista ou vadia que a criatura seja, sempre haverá aquele momento em que a adrenalina se acomoda e o corpo pede... carinho. Por um cafuné bem dado, subo o Everest dez vezes, vou e volto - miando... Ai!

O diabo é que nem sempre o parceiro eventual de uma transa sabe ou quer dar aquilo que tanto desejamos. Carinho dá trabalho, exige que se abra o peito e o espaço íntimo para o outro. É possível fazer sexo com alguém sem se aproximar realmente desse alguém. Um toque aqui, um aperto ali, mexe, mete, tira e até logo. Isso é sexo puro e, convenhamos, muito do sem graça, mesmo que o orgasmo tenha se feito presente, como convém. Se não vier, será uma perda absoluta de tempo. É o tipo de encontro que esquecemos daí a pouco, nem vale a pena anotar no caderninho, o sexo cujo coadjuvante terá o nome esquecido em alguns dias, ou horas. Carinho, não. Carinho é algo mais. No sexo, então, é muito mais. E não, não é para qualquer um dar, nem para qualquer um receber. É só para quem ousa e se permite. Porque exige, antes de mais nada, confiança por princípio e disposição para a entrega a alguém, às vezes um quase ou total desconhecido.

Vá lá que a ousadia e o excesso de confiança, às vezes, podem cobrar seu preço. Mas, como comentei ao próprio Flávio dia desses, em algum post do Facebook, eventuais tropeços nessa rota são exceções fartamente compensadas pelas vantagens de ousar. Medo, sempre há e tem mais que haver. Só não podemos deixar que nos atrapalhe. Sai!

Sim, ontem eu fui ao encontro do prazer e do carinho nas mãos do Flávio, ele que há poucas semanas me apresentou por primeira vez aos prazeres da massagem tântrica e me mostra, a cada encontro, mais potencial dessa prática deliciosa.  Nessa viagem, o abraço apertado e o sorriso aberto são tão importantes quanto o orgasmo. Despertar a sensibilidade de cada terminação nervosa, conduzindo o corpo do outro ao prazer, é um jogo bem diferente da sedução romântica. Pode ser um desafio separar as coisas, para os mais carentes e/ou desavisados. Mas para quem consegue, só posso dizer uma coisa:

- Eu recomendo!

Foto do alto de Massimo Bisotti

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um fim de semana de Shakti e Shiva.

Desde que o amigo Flávio nos apresentou ao intenso mundo da Massagem Tântrica, estávamos curiosos para ir além, mais fundo, aprender alguma técnica, descobrir mais sobre esse mundo novo que nos desafiara. Por recomendação sua, procuramos o site do Metamorfose, onde vários cursos estão voltados em maior ou menor grau para o assunto. E, por sorte, conseguimos duas vagas para o curso de Massagem Êxtase Total, que se realizaria no fim de semana passado. "Você está disponível este fim de semana?", perguntou Mestre Dexter. Imagina se não... E lá fomos nós.

O curso duraria um fim de semana inteiro, das 9 às 18h nos dois dias. Mas será que havia tanto assunto? Ô se há!

Ao todo, éramos 12 pessoas, seis casais, todos héteros. Nos apresentamos e descobrimos que havia um número significativo de engenheiros e advogados. Bem, talvez o mundo tenha salvação, no final das contas...

A parte inicial nos apresentou ao conceito do Tantra, de forma bem elementar, e à fisiologia dos genitais masculino e feminino, mais elementar ainda. Com muita conversa sobre o encontro do Divino e do Sagrado no contato entre Shaktis e Shivas, ou seja, entre a mulher e o homem, meu ateísmo e o paupérrimo senso espiritual que me preenche começaram a se inquietar. Não, eu não estava ali para me curar de nenhum trauma ou frustração, nem para me tornar uma pessoa melhor para um mundo mais harmônico, muito menos pensando em como contribuir para o equilíbrio das energias no universo. Eu estava ali para aprender mais sobre algo que podia (ou não) acrescentar prazer a algo que já me é muito prazeroso ao lado de meu parceiro e cúmplice: o sexo. Sem disfarces ou pretextos. Ponto. Pode ser?

Colocadas as ressalvas quanto ao misticismo da coisa toda, fomos finalmente à prática. Formados os casais (e só nós dois éramos algo parecido com um casal real, os demais não se conheciam até então), daquele momento em diante tratados como Shaktis e Shivas, ficamos frente a frente, mergulhando no olhar e no espaço do outro. A trilha sonora era boa até demais, considerada a situação e a expectativa. OK, incluía a indefectível Enya - mas com o tema do filme O Gladiador, "Now we are free". Dessa, eu gosto. Me dá vontade, sempre, de alisar uns triguinhos. E o Russel Crowe saradaço daquele filme é uma boa inspiração para as circunstâncias. Ai!

Após os salamaleques iniciais, de conexão com o outro, começamos nós, as Shaktis, deitando nos colchonetes, para a prática chamada Sensitive. Uma interminável e deliciosa sequência de levíssimos toques feitos com a pontinha dos dedos e as unhas sobre todo o corpo - frente, verso, lado direito, lado esquerdo. Para quem recebe, uma maravilha. Para quem aplica e não tem o preparo físico de um atleta olímpico, um desafio a músculos que, no dia seguinte, latejarão de dor. Se duvidam, experimentem ficar mais de uma hora alisando daqui pra lá, de lá pra cá, ida e volta, volta e ida, de cócoras, ajoelhados, de quatro, esticando e puxando, sem perder a conexão com o corpo do parceiro. Caras, isso cansa. Mas vamos que vamos.

A certa altura do alisamento, a orientadora pede aos Shivas que espalhem óleo mineral sobre coxas e ventre de suas Shaktis. Todos os homens vestem luvas de látex e confesso que sempre que escuto o barulhinho de uma luva de látex sendo esticada me dá um arrepio de tesão... coisas de uma fetichista empedernida, que adora um fisting, mas é melhor tirar esse pensamento nada zen da cabeça. Aos poucos, o óleo vai sendo espalhado para a região da virilha e, de lá, para a vagina. Hummm. Lá vamos nós pra montanha russa!

A sequência de toques é de matar um monge budista de impaciência. Primeiro, uma longa massagem nos lábios da vagina, para cima e para baixo, ida e volta, passando por cima do clitóris. Depois, mais uns minutos de pressão do polegar sobre o nervo clitoriano. Daí, um processo muito esquisito que ela chama de extrusão do clitóris: dois movimentos que beliscam (sic) e alongam (sic, sic, siiiic) o dito cujo, que se ressente da agressão. Porra, isso dói! Mas a instrutora informa que a dor é psicológica, que vem de nosso condicionamento. Pode até ser, mas esse "condicionamento" vai se manifestar por pelo menos uma semana... ufa!

A certa altura dos acontecimentos, a moça manda os Shivas ligarem um bullet vibrador na potência mínima e, com ele, passearem pela lateral do clitóris até acharem o ponto em que as Shaktis vão reagir. Por reação, leia-se: REAÇÃO. Quando o aparelhinho encosta no ponto certo, o orgasmo é violento e inevitável. Ao redor, a mulherada se esbalda, ri, gargalha, chora, grita, uma zona total. A mulher manda aumentar a intensidade do vibrador. A balbúrdia aumenta. Na intensidade máxima, a maioria pede penico - quantos orgasmos uma mulher pode ter antes de desmaiar???

- Morram, Shaktis... morram...!

Nem precisa mandar...

Aos poucos, a loucura se esvai e nos permite relaxar, ali mesmo, desmontadas, suadas e lambuzadas de óleo, sobre os lençóis embolados ao nosso redor. Agradecemos aos Shivas a dedicação com que nos honraram e saímos para um sábado de chuva e calor, quase surpresos de ainda estarmos em São Paulo, em plena Vila Madalena, e não em algum lugar do Tibet...

De volta da pausa para o almoço, é a vez de invertermos os papéis. Cabe agora às Shaktis se aplicarem aos corpos de seus Shivas. Com a sensação de intimidade que nos dá o orgasmo coletivo, me permito ficar só de top e calcinha (sim, eu levei uma, para variar, depois de uma conversinha básica com o Flávio...rsrs) para a maratona de toques do Sensitive. Para quem, como eu, adora fazer cafunés nas pessoas queridas, é uma viagem deliciosa. Só que, prolongada por uma hora, começa a impor seu preço a tudo quanto é articulação, músculo e terminação nervosa, de resto já esgotados da jornada da manhã. Enfim, noblesse oblige e meu amado está ali, entregue a minhas mãos. Nada de fazer corpo mole! E toca tocar mais e mais.

Quando finalmente acaba a primeira etapa, é hora de dar toda a atenção ao lyngan - ou pênis - de nossos Shivas. Gosto disso, juro. Vestindo as luvas (a vontade é de dizer que não, obrigada, pele na pele é bem melhor, mas no Tibet como os tibetanos, melhor ficar quieta e não criar mais caso), começamos a espalhar o óleo pelas coxas, as virilhas, o saco e o pênis. Com a mão espalmada, massageamos o saco para cima, até a ponta do pênis. Depois, pressão ao longo de todo o nervo até a base da glande. Pontinha do indicador ao redor da glande. Estica e prende a pele do pênis na base e começa a trabalhar a glande, com a mão em conchinha, chuveirinho, e torção para um lado, para outro... a coisa vai ficando cada vez mais interessante. As manifestações de orgasmo são ouvidas daqui e dali, à medida que aumentamos a velocidade dos movimentos e a intensidade da pressão. Uns berram, outros suspiram, outros mergulham para dentro de seu próprio prazer. Vale tudo. E tome óleo! No final, relaxamento e até amanhã. Sim, porque no dia seguinte tem novo round, desta vez com pares trocados. Tudo em nome da troca de energias, claro. Então tá.

No final das contas, feito o balanço do evento, o saldo é pra lá de positivo. Conhecemos pessoas interessantes, outras nem tanto, mas o clima estava muito gostoso. Agora falta praticar mais, claro. Nessas coisas físicas, a repetição é que garante a excelência...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Sátiros mil, em noite de grande estilo

Há coisa de uns dois meses, as queridas e irrequietas Patricia Aguille e Raissa Peniche me ligaram com uma delicada embaixada: ajudá-las na organização da segunda edição da Satyriase, dentro das já tradicionais Satyrianas que há 13 anos mobilizam o teatro alternativo ao longo de 72 horas seguidas de muita arte e cultura. No ano passado, encerramos a temporada da peça Sappho de Lesbos, produzida por elas mesmas, justamente durante as Satyrianas. E também havíamos estreado o próprio projeto Satyriase, que começou como leitura dramática de textos eróticos e acabou formatado como um evento de leituras sensoriais, nas quais se estimulam todos os sentidos, menos a visão: a plateia é vendada para melhor aproveitar as sensações que lhes são apresentadas. O sucesso foi grande e, neste ano, os produtores do evento queriam que repetíssemos a dose. Tudo bem? Tudo bem. Só um detalhe: Patricia e Raissa estão morando em Los Angeles, estudando. Elas nos dariam as coordenadas à distância e nós tocaríamos o barco por aqui. Otávio, O Amo, dirigiria a cenografia. Eu faria a curadoria e a edição dos textos com elas. E o grupo do ano passado, acrescido de novos convidados, faria o trabalho nada sujo. Considerando que todo mundo tem seus muitos compromissos, era algo que tinha absolutamente tudo para dar errado.

À medida que o projeto caminhava, mais e mais ideias iam se somando ao modelo inicial. Pensamos em performances públicas na praça Roosevelt, recém reformada. Shibari e mumificação, pois sim? O SR WZ, sua princesa, e meu amado Mestre Dexter foram imediatamente convocados para o serviço. Nem é necessário dizer que aceitaram sem piscar.

Para que as donas do brinquedo pudessem participar, se criou a solução do telão Panorgyastico, que acabou definindo a edição 2012 do projeto - a Pansatyriaseglobal. Raissa e Patricia se apresentariam ao vivo, via Skype, desde Los Angeles. A possibilidade de a transmissão dar pau, como se sabe, era grande. Contávamos com a boa vontade e a mãozinha das musas para tudo não virar um enorme fiasco.

Finalmente, o fim de semana chegou e, com ele, o tradicional frio na espinha. Borboletas no estômago são para os fracos - nós tínhamos eram águias revoando pelas entranhas! Fazer aquilo tudo funcionar tinha virado questão de honra, mesmo que até a véspera não tivéssemos conseguido juntar o grupo todo para passar as leituras e as orientações, nem soubéssemos se a proposta do tal telão efetivamente funcionaria. A direção era feita, na prática, por emails. Ai!

Mas aí veio a noite de sábado e todos nos encontramos no escritório do Satyros, de onde sairíamos para as performances previstas. Munidos de uma imensa corda cor de bronze, fomos em procissão, todos de preto, até o espaço em que havíamos planejado fazer as suspensões e a mumificação. O Amo, preso no trânsito, foi direto para o MiniTeatro cuidar dos detalhes técnicos. A apresentação de shibari ficaria toda nas mãos hábeis do SR WZ. Mestre Dexter, depois de mumificar cuidadosamente a menina Maria Andrade, me entregou a tesoura para ficar no comando do fim da brincadeira, correndo para ajudar na montagem do nosso cenário. Não, não usei a tesoura. Foi bem mais divertido arrancar o filme de PVC do corpo dela, toda lambuzada de tinta vermelha, com as unhas e as mãos.

Enquanto isso, Lazlou e Magé, as outras duas voluntárias da cena, subiam pelas cordas sempre perfeitas do SR WZ. Ao nosso redor, uma pequena multidão assistia a tudo, sem críticas ou espanto, demonstrando que estava gostando do que via. Detalhe: toda a performance foi realizada bem em frente ao posto da Guarda Municipal. Os dois guardas de plantão, ali, vieram perguntar se estava tudo bem, quanto tempo ficaríamos lá, e se limitaram a observar atentamente, de seus postos, o desenrolar dos acontecimentos. Tudo muito civilizado, como convém!

Por volta da 1 da manhã, seguimos de volta para o MiniTeatro, pois as sessões de leitura estavam marcadas para as 2, 3 e 4 da madrugada. A praça bombava de gente e logo na entrada fomos informados de que todos os ingressos disponíveis para as sessões estavam, já, esgotados. A Satyriase era um sucesso! E nem tinha começado...

Durante a primeira sessão, o Skype não funcionou. Contornamos com os textos que tínhamos disponíveis, e tivemos de conviver com o chilique de um rapaz que, em meio à leitura, começou a berrar, indignado, que alguém estava agarrando o pau de seu namorado. Até nós, no começo, achamos que era um "caco" de algum de nossos colegas, para apimentar o texto. Mas não era. O casal se retirou e saiu xingando escada abaixo até a rua. O bochicho em torno do caso foi tamanho que atraiu ainda mais gente para o espetáculo... na segunda sessão, no lugar dos 25 espectadores previstos, tivemos que abrir espaço para 37, tamanha a demanda do público à porta do teatro! Mas antes de começar a segunda sessão, introduzimos um aviso:

- Este é um projeto desenvolvido para maiores, no qual todos os sentidos serão estimulados. Ninguém vai ser estuprado, a menos que faça muita questão. Quem não quiser ser apalpado, é só avisar agora ou se retirar. Aqui, estamos para desfrutar de tudo o que os sentidos podem nos oferecer de bom. Obrigados!

E assim fomos, sem mais nenhum incidente ruim, pelas duas sessões que se seguiram. Ao longo dos 45 minutos de cada sessão, atiçamos a plateia com plumas, carícias, flogs, chicote longo (ok, bem de leve...rs... mas ninguém reclamou e teve até quem pediu mais!), toques tântricos, licores de menta e cacau, uvas, chocolates, vibradores, mãos, pés e corpos que se esfregavam entre o público, jogado em gostosas almofadas...

Ao final, o elogio supremo: - Vocês precisam repetir isso mais vezes! Por que não fazem uma temporada? Ou pelo menos uma vez por mês? Não entendi nada, mas gostei muito...(sic!)

Não sei se sobreviveríamos a muitas jornadas tão intensas, mas valeu mesmo assim, pelo carinho. Para quem participa da, digamos, manipulação dos sentidos alheios, o processo é extremamente excitante. Você se pegar no meio de um grupo de pessoas completamente entregues a seu arbítrio é um tesão. Constatar que a procura é maior que a oferta, porque as pessoas estão ávidas por novas sensações dá alento para quem às vezes se pega pensando que o mundo está muito chato e acomodado.

Saímos de lá em estado de graça, sem exceção. O brilho nos olhos era ostensivo em cada um de nós, bem como a exaustão da longa jornada. Com tanto tesão para digerir, o destino mais natural, para mim e Mestre Dexter, era a primeira cama disponível. E foi assim, celebrando o prazer de uma tarefa bem cumprida, que deixamos o domingo amanhecer ao redor de nosso quarto, desmaiando lado a lado. Felizes...!


 Obrigada a todos e por tudo! E vamos para a próxima!!!

(Fotos de anjahMah e Andre Stefano)


domingo, 14 de outubro de 2012

Viagem ao centro do corpo

Sábado foi um desses dias intensos, em que fazer de tudo - de comprar pisos cerâmicos e passar na farmácia - é um programa gostoso, por ser a dois. À noite, teríamos um compromisso diferente das baladas habituais: havíamos sido convidados para jantar na casa de um amigo. Justamente o amigo que havia me iniciado na fantástica viagem da massagem tântrica, descrita posts abaixo. Pessoa de conversa agradável, no mínimo seria uma noite gostosa, de convívio entre pares. Às vezes isso faz tanta falta...!

Desde que vivi a experiência de uma massagem tântrica, sabia que meu amado estava curioso para sentir na própria pele o que eu sentira. Mas a conversa corria gostosa à mesa do jantar, entre uma, outra e mais outra garrafa de vinho, e parecia que nada iria muito além disso. Falamos de tudo, de nada e de mais alguma coisa que não vem ao caso. Até que, sem mais nem menos, F. convidou:

- Vocês não querem experimentar a massagem a dois?

Claro que queríamos! E lá fomos nós, tirar a roupa no quarto aquecido (ai, que bom, sou tão friorenta...!), deitar na cama e embarcar naquela verdadeira viagem ao centro da (nossa) terra. A amiga de F. massageava o corpo de meu amado, ali ao meu lado, enquanto F. percorria o meu por todos os cantos mais inimagináveis. É impressionante como, em que pesem os muitos anos de putaria, ainda há um ou outro pedacinho que, ora vejam, não havia sido explorado... aff!!!

Desta vez, a trilha sonora era bem melhor que da primeira vez e eu agradeci mentalmente por não ter de me concentrar em ignorar Enya e seus tons celtas. O fato de, de certa forma, já conhecer o roteiro, também ajudou a soltar ainda mais gostoso o corpo aos estímulos pacientes de F.. Ali pertinho, eu podia sentir a respiração da mulher que massageava Mestre Dexter, arrancando-lhe suspiros de tesão. Eu estava determinada a não abrir os olhos, não espiar, mas confesso que a vontade era enorme... sei muito bem como é belo o rosto de meu Homem quando está gozando, o rosto relaxado, liso e leve como o de uma criança levada. Eu podia imaginar o que a mulher ali ao lado estava vendo. Da mesma forma que sabia que ele podia adivinhar, pelos meus gemidos e gritos (sim, sou um tanto escandalosa...), que eu estava tendo, em mãos de outro Homem, nu ali sobre meu corpo, o prazer que ele tão bem sabe arrancar de mim. Acho que isso deve ser complicado para casais que não se garantem ou não estão muito seguros de sua relação. Definitivamente, não é o nosso caso. Quero que ele desfrute do maior e mais variado prazer que puder, e tenho certeza de que a recíproca é verdadeira. A cumplicidade e a paixão que nos unem exigem nada menos do que isso.

E foi um tremendo prazer gozar uma e outra vez apertando a mão de meu amado, que estava ali do lado, encharcada de suor, e sentir seus dedos se relaxarem ao chegar, ele mesmo, ao orgasmo. De olhos fechados, sentindo as diferentes peles na ponta dos dedos, saboreava a carga de informação atropelada pelos espasmos do corpo inteiro...

Não nos demos ao trabalho de tomar banho depois da sessão. Saímos de lá para nosso hotel de sempre, ainda com o gosto de uma deliciosa noitada na boca, no corpo e no rastro do abraço de despedida. Um abraço apertado, gostoso, intenso, que foi por onde tudo começou...


Ah, sim, e decidimos que vamos fazer, nós também, o curso de massagem tântrica. Porque nós merecemos! E muita gente precisa...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Exibicionistas em ação

Depois de dias de intensa agenda de trabalho e muito estresse, nada melhor que um final de semana naturista e liberal na pousada do Aluísio, em Itanhaém. Encontrar os amigos e aproveitar o sol à beira da piscina, sem nada entre nós e o mundo a não ser uma boa camada de protetor solar, lava qualquer alma para mais uma rodada de aporrinhações de todo tipo.

Sexta-feira passada, de noite, seguimos para Itanhaém, chegando de madrugada à pousada. Todos dormiam, e nós fomos direto para debaixo do gostoso edredom de plumas de ganso que levamos para o caso da noite se confirmar gelada. Clima invernal à beira-mar é esquisito, mas é o que temos nesta primavera estranha.

No sábado de manhã, encontramos os amigos de sempre no café, todos já ansiosos pelas horas de sol. Deixamo-nos ficar ali, gostosamente, com duas caipirinhas cada um para animar. De almoço, feijoada. Depois, claro, nada como uma boa espreguiçada à sombra... e lá fomos nós para o lindo gazebo instalado num dos cantos da pousada.

Enquanto a conversa corria solta ao redor da mesa, embalada por muitas cervejas diante dos restos da feijoada e do café frio, nos permitimos as carícias que sempre acabam nos levando ao sexo - e quanto mais selvagem, melhor. A camiseta de meu amado e a minha canga, vestidos para o almoço, em nome da educação que nossas mães nos impingiram, ficaram emboladas pelo tatame gostoso. Trepamos loucamente, ante os olhos de quem quisesse nos ver. Não precisávamos de ninguém, nos bastávamos, e com o gozo intenso nos deixamos desmaiar ali mesmo, atravessados e suados, num soninho gostoso de corpos pra lá de satisfeitos.

Só algum tempo depois nos permitimos voltar à vida real e, depois de um banho, sair para uma caminhada de alguns quilômetros até a praia, só para tomar um sorvete cheio de coberturas. Ríamos e brincávamos com tudo, entrávamos nas lojinhas vagabundas de moda periguete e contávamos as igrejas pentecostais que abundam pela avenida. Éramos duas crianças, leves, livres e assumidamente libertinas. Planejamos, até, atrair para o caminho da luxúria uma amiga comum, criatura séria, casada, sisuda, doutora da lei - e muito gostosa. Seria muito engraçado corromper mais uma alma para nos acompanhar no tal inferno em que não acreditamos...

A vida é bela. E o amor é lindo!!!