BDSM tradicional x BDSM modernoVejo que isso envolve muitas questões que precisam ser bem definidas e a primeira delas é a de se assumir uma posição, seja ela qual for. Entendo como uma questão de essência, não um fetiche ou diversão, pelo menos no meu caso. Não decidi brincar de sádico. Essa é meu perfil psicológico e vivo-o tranqüilamente.

Julgo inconcebível um relacionamento onde falta a autoridade. Minha conduta é voltada mais para o SM e menos para a liturgia, tenho uma peça atual que me serve com toda dedicação há três anos e não abro espaço para negociação nessa relação. O Dono manda e a escrava obedece. Não negocio concessões. Na minha visão o que determina a autoridade de um Top é sua postura e sua atitude com o bottom e junto ao meio que se relaciona.

Não me preocupa se peça A ou B me chama de Senhor ou de você, quem me deve obediência e respeito é minha escrava, dela sim exijo tudo o que tenho direito. Já outros acham que toda submissa deve reverencia ao titulo do Top, seja ela dele ou não. Isso é um ponto de vista de cada um. Já a coleira identifica o compromisso, a posse e o Dono, é preciso muito cuidado para não manchar um símbolo de tal importância. A questão filosófica é discutível.

Vejo posições radicais e inflamadas sobre muitas condutas, mas tem um detalhe. Não existem regras explicitas sobre o BDSM, infelizmente ainda não temos a tábua com os dez mandamentos. Existe um consenso sobre a maioria dos comportamentos dentro de um grupo e os membros procuram ajustar-se a isso. Porém, há muitas controvérsias dentro do que se prega e esse tema abre espaço para uma discussão maior.

Um detalhe não pode ser posto de lado e muitas pessoas às vezes não vêem, é que esse guarda-chuva (BDSM) abriga uma gama enorme de grupos, cada qual com seus subgrupos e peculiaridades e é natural que cada um procure uma identificação com o subgrupo que melhor corresponda-lhe as expectativas. Muitas correntes defendem SM como uma conduta ou orientação sexual. Historicamente as siglas S & M evocam Sade e Masoch. Sade era um libertino dentre outras coisas.

Por conveniência, moralismo ou qualquer outra razão, ficar só com a definição do termo médico e excluir seu comportamento e obra libertina me parece estranho, pois a maior parte da literatura sadomasoquista nos remete a isso. Observo que o termo descaracterização do SM coloca alguns comportamentos numa posição bem desconfortável, não está muito claro onde começa e onde termina. “Sexo Fácil?” Como se conceitua isso? Donos e Rainhas emprestando peças entram nesse critério? Submissas com fantasias de ser cadelas também? E Dominadores com harém? Terão esse estigma? Qual a fronteira para isso? O bom senso? Bom senso de quem?

Quero esclarecer que não estou levantando bandeira alguma, estou colocando questões e comportamentos que me parecem obscuros, porque pelas coisas que leio e vejo, faltará lenha para essa fogueira. Fica a impressão que a sexualidade, a sensualidade e o erotismo acabam sendo colocados no mesmo patamar do que se rotula “sexo fácil”. SM clássico, conservador, de raiz? Será muito didático alguém explicar claramente tudo isso com embasamento palpável e não de forma conceitual. É muito evidente que as relações atuais em sua maioria carregam consigo afetividade, cuidado e respeito. As mensagens diariamente postadas em inúmeros grupos traduzem isso.

Difícil imaginar que todos os indivíduos entram nesse mundo para ser apenas e tão somente um saco de pancadas (me refiro a pessoas com um grau minimo de sanidade mental). Quero enfatizar também que minha visão sobre esse assunto pressupõe sempre um comportamento hierárquico, ético e de respeito à propriedade alheia, sem o qual nenhuma comunidade sobrevive.

Evolução no SM coletivo é para se pensar... Prefiro acreditar em evolução individual, porque no meu caso isso é real, pratico o SM de acordo com meu prazer e minha conveniência, porque sou Senhor absoluto de minhas fantasias e não permito nenhum cerceamento nisso.

O que me une a um grupo são semelhanças em determinados pontos, mas dentro de meu universo, as regras são minhas. Se isso me exclui de um subgrupo, seguramente me agrega a outro, mas de maneira alguma minha conduta me exclui do núcleo principal no universo BDSM.