cilicio 2

O cilício é um instrumento para a prática ascética. O ascetismo cristão tem por objetivo a penitência, a expiação dos pecados, o controle das coisas desordenadas em nossos corpos. Aplacando assim a Santa Ira Divina sobre nós, nossas famílias e a humanidade inteira.

O Cilício tem sido usado em vários momentos da história da fé cristã para os efeitos da mortificação da carne ou como penitência. Praticada há séculos, o uso do cilício tem sido comum na vida dos Santos, como São Francisco de Assis, São Thomas More, Santa Teresa de Lisieux, o Papa Paulo VI, São Padre Pio e Madre Teresa de Calcutá.

Mortificação corporal ou mortificação da carne é a prática espiritual ou não de causar dor a si mesmo através de lesões corporais. Isso é feito com o objetivo de se autoconhecer ou de crescimento espiritual, de auto sacrifício aos deuses ou à comunidade, ou da expiação de pecados.

Modernamente tem sido substituído por instrumentos mais discretos que produzem efeito corporal similar.

Cilicio no BDSM:

É usado como objeto de tortura por Sádicos para gerar sangramentos, cicatrizes e marcas... Uma forma de impor disciplina e poder sobre seu escravo.

Visa a práticas de meditação e de interiorização em que a alma, desprendida de qualquer perturbação material se abre conectando intimamente com seu DONO... Porque quando existe essa conexão, quando existe esse vínculo unindo dois praticantes o circulo se fecha e se tornam UNO.

O SM erótico que vivemos numa sociedade sadomasoquista é uma relação afetiva. Onde só existe a real entrega se existir amor. É tão complicado, tão labiríntico, tão contraditório, como qualquer outra relação, mas com um enorme diferencial. É a única, com exceção do amor romântico, onde é possível viver o amor com toda a sua intensidade. Até porque nada é mais parecido do que o amor romântico e o sadomasoquismo.

Como caminhar na franja estreita da conjunção entre a dor e o prazer, entre o consenso e a obediência sem o conhecimento profundo do outro que só o amor permite?

Sob o ponto de vista de um sádico, as coisas são ainda mais claras e precisas. Como fazer sofrer alguém que não se ama? Como impingir dor em alguém que não se deseja? Como impingir sofrimento e agonia em alguém se não existe o cuidado com a alma?

Seria crueldade apenas. Sadismo puro.

Sim, o sadomasoquismo é uma forma intensa e muito profunda de amor. Na verdade é a mais profunda maneira de amar. Um amor que sabe das diferenças, que sabe da alegria de ter o outro e de ser de outro.

'Só vou te punir, porque te amo. Só vou te fazer sofrer porque te amo. Porque sei que o amor é profundo e eterno, e rima perfeitamente com dor. Só vou te punir porque sei que amar é sofrer, e fazer sofrer'.( by SadicoDominador)

Teu corpo é fácil de ter, sei onde moram teus desejos, sei onde buscar tuas dores e prazeres. Mas eu quero mais, quero tua alma. Quero possuir teus anseios, tuas virtudes, teus medos. Quero antecipar tuas paixões, adivinhar teus encantamentos.

Quero tua boca seca, teus olhos marejados, teu coração aos pulos. Quero teus segredos nus ao meu olhar indiscreto. Eu sei e você sabe que você só o é, por mim, que seja por mim então. Que tua alma seja minha, para que você seja você. Livre!

Com essa visão e pensamento o Sádico utiliza esse mítico instrumento com esse intuito... Libertar a alma do escravo, para que ele seja, finalmente, livre de fato. Livre dos pudores. Livre das vergonhas. Livre de sua culpa.

Utilizando o cilício o Sádico permite que a alma do escravo se desprenda da sua ligação carnal e evolua para o espiritual!

Da minha experiência com o cilício:

Ao colocar o cilício, deparo-me com uma dor, mas não uma dor como muitos dizem ser louca, atroz, sem noção ou aberração, mas sim uma dor sublime, porque quando me deparo com ela, vejo não apenas a minha dor, mas a dor de todos os sadomasoquistas... Não há maneira mais eficaz para compreendermos o próximo e ficarmos próximos dele, do que a dor.

Por mais compreensíveis que sejamos e por mais eficaz que seja a nossa empatia, nada se compara quando sentimos a dor e nos igualamos a outro praticante. Quando sentimos essa dor, nós nos aproximamos de uma forma muito forte de outros membros desse Universo. Nesse momento, conseguimos compreender na prática e na carne o que ele sentiu e o que ele sente, assim como quando vemos uma pessoa sentir uma dor que já conhecemos e compreendemos perfeitamente o que ela está sentindo.

Nesse instante posso saborear cada segundo como se fosse único e sentir tal proximidade com outros praticantes de uma forma intensa e gratificante.

Eu sinto o peso da carne e do que estamos sujeitos pela carne. Com esse exercício torno-me próxima de outros sadomasoquistas e saberei compreender minhas dificuldades e as dificuldades deles e começarei a aprender a ser mais humilde e a ter consciência do quão importante e necessário é sentir a dor para limpar a nossa alma ao mesmo tempo que a alimenta.

 

Percebemos o quão somos necessitados dessa dor que dilacera nossa alma, que queima nossas entranhas e para enxergamos com clareza o que somos.

E quão grandioso e sublime é perceber e principalmente entender quem somos enquanto usamos o cilício, que sensação prazerosa. É indescritível a sensação de proximidade e de identificação. Apenas quem conhece essa mítica dor sabe do que estou falando e o quão reconfortante, grandioso, e sublime é este momento.

É possível perceber nesse instante, certos aspectos compreensíveis da mortificação voluntária, como a solidariedade no sofrimento, o domínio do corpo, a conveniência de uma livre rebelião à tirania do prazer.

A dor interior se refere ao sacrifício, no âmbito da inteligência e da vontade. A dor corporal se refere ao sacrifício dos sentidos. A atividade sensível, que se exerce seja debaixo da forma do conhecimento sensível pelos sentidos exteriores ou pela imaginação, seja debaixo da forma de apetite sensível ou de paixão.

A atividade racional e livre, princípio de nossos pensamentos, de nossos juízos e das determinações de nossa vontade. Consideraremos a manifestação exterior da vida de nossa alma, ou nossas ações exteriores. E, finalmente, o intercâmbio de nossas relações com o próximo.

Também utilizo o cilício em rituais de purificação como mortificação dos sentidos, da mente e de minha alma. Nesse momento, fecho meus olhos, diante de tudo e todos e inclusive tenho a valentia de fechá-los diante de todo espetáculo vão e inútil. Vejo sem olhar; não me fixo em ninguém e aprendo a ver todos como seres iguais.

Tenho meus ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às suspeitas comunicadas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento na minha alma.

Sinto nesses momentos como se estivessem jogando pétalas de rosas em minha alma e extasiada me liberto e me permito viajar por lugares desconhecidos. Eu me permito ir a lugares que nenhum outro ser humano jamais sequer imaginou existir.

Quando mergulho nesse transe espiritual um denso e grande tesão se apodera do meu ser. Uma luz me envolve e nessa hora nenhum mal pode me tocar e todo o bem cabe em mim. Nesse momento sublime, todas as coisas, mesmo as pequeninas, ganham tal dimensão que minha alma se avoluma a ponto de não caber em meu corpo.

Nesse transe espiritual nenhum mal que outros façam, me atinge. Tenho plena consciência que nunca deixarei a minha felicidade a refém a algo que não dependa apenas de mim e minha alma.

Nesse transe meu orgasmo se prolonga até o infinito, mental, sem pressa, não físico. Meu gozo é denso porque nesse instante telúrico sou cidadã do universo e viajo sem destino pelo subspace. Sou um raio de luz e como um cometa deslizo através de todos os mundos existentes.

Nesse momento mágico não sou melhor porque me elogiam, nem sou pior porque me criticam, sou, na verdade, o que sou e o que eu penso e vivo. Sou apenas a luz da minha consciência.

Nesse momento mágico, sou livre de toda soberba e mesquinhez. Nesse momento orgasmatico eu sei o que é sentir a humilde grandeza de querer servir ao VERDUGO.

Nessa hora não sou nada diante do poder DELE, mas sinto que sou merecedora de todo seu imenso amor.

Nesse momento de gozo, euforia, liberdade e poder eu me conecto ao VERDUGO e nos tornamos UNO. Eu ouço o pulmão dele e eu viajo no doce ritmo de sua respiração. Eu consigo sentir as batidas do seu coração e entro no mesmo ritmo... Eu ouço o sangue dele ferver e correr alucinadamente pelas veias e o meu fluxo sanguíneo se conecta na mesma temperatura e velocidade.

VERDUGO possui a chave que abre as portas que o conduz aos labirintos obscuros de minha mente. ELE me conduz à luz no final do túnel. ELE me liberta, me faz livre e me concede o gozo mais excepcional e puro.

E livre de todas minhas máscaras e pudores, eu desço aos pés DELE... Livre eu me curvo e presto reverência diante daquele que possui meu corpo, minha mente, minha alma e meu coração.

Nesse instante sublime eu permito ao VERDUGO cicatrizar minhas feridas e curar minhas dores. ELE me faz livre das correntes que me prendem. ELE toca minha alma e faz de mim o seu querer!

Por isso eu amo a dor do alivio que o cilício me proporciona e espero que um dia todos possam vivenciar este momento impar em nossa vida sadomasoquista.
Que todos tenham a percepção do poder devastador de um simples cilicio na vida de um sadomasoquista. Não pelo que é... Mas definitivamente pelo que representa.

Um beijo especial e muitos prazeres.

Cris_VERDUGO