A REPÓRTER DOLORES OROSCO É IMOBILIZADA EM AULA DE SHIBARI PELO MESTRE TOSHI-SAN (FOTO: RODRIGO SCHMIDT)
Sempre me encantei pelo erotismo das fotos de Bettie Page, especialmente aquelas em que a pin-up aparece com pés no salto agulha presos por cordas. Arrebatamento igual sentia ao me deparar com uma imagem da heroína Valentina nua e amarrada, em aventuras sexuais nos quadrinhos do italiano Guido Crepax. Antes de fazer esta reportagem, eu ainda não sabia, mas aquele meu fetiche tinha nome específico: shibari.
Nessa versão japonesa do bondage, apenas cordas são permitidas para imobilizar a "vítima" – nada de algemas, coleiras ou correntes. Sua beleza está em produzir laços simétricos e nós que formem desenhos harmoniosos. "A corda entrelaçada no corpo nu de uma mulher, para mim, é tão excitante quanto uma lingerie", me explicou Edward Toshi-san, um administrador de empresas de 41 anos que se tornou "shibarista" de tanto pesquisar sobre o tema em grupos de BDSM (bondage, dominação, sadismo e masoquismo). Sim, esse termo existe e virou uma espécie de segunda profissão para ele.
Toshi amarra garotas em festas fetichistas e também dá aulas para grupos, cobrando R$ 50 por pessoa. Após uma conversa por telefone, veio até mim para uma sessão particular. "O shibari turbina as preliminares. Quem está imobilizado pode ser estimulado com carícias, até ficar hipersensível para a penetração." Esse #ficaadica do Toshi foi dito com uma timidez que destoava do conteúdo da conversa. "Por ser oriental, sempre fui retraído. Só tive a primeira namorada há três anos e por causa do shibari", confessou.
E que namorada! Em uma balada sadomasô, ele conheceu a farmacêutica Jéssica Notário, 31, um mulherão de 1,75 m e olhos puxados estilo Sabrina Sato. "Também sei um pouco do shibari, mas prefiro ser amarrada. Me sinto sexy com as cordas ressaltando meus seios", contou. Jéssica seria a cobaia pedagógica em minha estreia naquela amarração, capaz de trazer – ou melhor, prender – seu amor em até sete minutos, horas, dias...
O modelo de imobilização em que fui introduzida é chamado takate kote (que deixa braços dobrados presos nas costas). É o tipo mais conhecido de shibari e na internet é possível encontrar centenas de vídeos tutoriais. Tentei acompanhar as complexas etapas do processo e só conseguia pensar que seria impossível repetir aquilo: um balé de cordas dando rodopios por pulsos, subindo por braço e ombros até cruzar entre os seios da Sabrina masoquista.
Depois de prendê-la de bruços, Toshi começou a desatá-la, agilmente. Comentei que demoraria horas para desfazer aquilo. O mestre prontamente respondeu: "Então, quando você amarrar seu parceiro, tenha uma tesoura de ponta redonda à mão. Ser imobilizado mexe com o subconsciente, ele pode sofrer uma crise de pânico". Achei um exagero, até que Toshi propôs que eu fosse amarrada. Sem dar muita bola, ofereci meus pulsos. A sensação dos nós pesados paralisando meus movimentos foi aflitiva. Descobri que ser amarrada, sem chance de escapatória, é para os fortes.
Por outro lado, confesso que gostei de imobilizar Jéssica. Sob a orientação de Toshi, atei seus punhos com a amarração mais simples. Foram dez minutos de trabalho árduo em que me achei vilã de desenho animado, prendendo a donzela nos trilhos do trem. Certamente com meu marido a emoção seria bem diferente. Tentei então me lembrar onde ficava a loja de material de construção mais próxima para providenciar minha corda...