jupiterÉ complicado lidar com o desespero dos primeiros passos. Especialmente com o desespero que percebemos em algumas pessoas chegando recentemente ao BDSM, geralmente meninas candidatas a personagens literárias de romance erótico, que precisam muito virar sub-princesas antes que a moda acabe!

Mas o fenômeno em si não é novo, mesmo muito antes do livro, me deparei não apenas no Fetlife, mas também no falecido Orkut, e nas poucas vezes que entrei nas velhas salas de chat do UOL, com pessoas em busca de caras-metades instantâneas para vivenciarem suas fantasias "BDSM". E aí mora uma série de questões problemáticas que acho importante abordar.

Poderia começar abordando as questões atinentes à segurança, diante do despreparo oriundo da inexperiência das subs neófitas em compreender riscos de se relacionarem de modo tão intenso com desconhecidos (às vezes desconhecidos de todos nós, um pouco mais antigos no meio), e também de Tops iniciantes pisarem em chão escorregadio pelas má intenções de pessoas descompensadas, frustradas, ou até mal intencionadas mesmo.

A pressa ajuda muito as piores coisas do mundo a acontecerem com as pessoas que procuram prazer e satisfação imediatos.

Não raro sou procurado para indicar, ou apresentar pessoas, por submissas e Dominadores que estão se aproximando ou retornando ao BDSM, já de posse de uma espécie de currículum vitae (o que não é má ideia!), prontos a se candidatarem a Donos ou subs para suas práticas. Acho louvável que sejamos capazes de delinear o que somos, e traçar o perfil do que procuramos, de forma até um pouco objetiva. Mas é necessário compreender que a vida não é objetiva. E muito menos no BDSM.

Até pelo fato de que é impossível saber através dos itens listados numa conversa curta, ou num currículo de preferências e experiências, o tipo de pessoa com quem estamos lidando. Mesmo os praticantes da linha Masô, que não buscam nada muito sentimental, nem D/s, e pretendem mais um parceiro de atividades do que uma "metade da laranja", precisam perceber que por trás de um chicote existem pessoas que podem deter TODO O TIPO DE INTENÇÕES. É sim necessário conhecer MUITO BEM com quem estamos lidando. E isso, meus caros, passa por um processo um pouco mais longo do que simplesmente trocar MSN e marcar o motel.

Evidente que este textinho (mais um) pode estar passando batido e desinteressante pra galera da velha trilha no BDSM, que já conhecem bem todos os parâmetros de risco, e tals... Mas o que não falta é gente chegando, completamente perdida.

Apesar de o BDSM não ser um covil de lobos malvados (se bem que...), certamente tem a amostragem de gente boa e ruim em proporções muito semelhantes à do meio baunilha (e isso não é pouca gente ruim não). A diferença é que no BDSM, essas pessoas tem sua vida e sua saúde nas mãos. A segurança de sua integridade física, moral e emocional (talvez até espiritual!). E isso não depende do quanto você está disposto a entregar de sua vida.

- Depois que a porta fecha, e "a luz apaga", você só terá as certezas que construiu antes de entrar.-

É aí que cravo o facão no chão na minha afirmativa: Você terá o que mereceu. Não importa o quão maravilhoso, terrível ou trágico, você terá o que mereceu, e estará perto de quem você escolheu. Então, minha recomendação é que cada passo seja pensado com responsabilidade.

E não pensem os senhores Dominadores mega-fodões que estão livres disso. Uma submissa frágil, inocente, portadora de olhos doces e voz macia pode ser a ruína da vida de um verdadeiro Capitão Nascimento ou King Kong. Nada que meia dúzia de palavras difamatórias falsas, um B.O. de delegacia, ou uma campanha pessoal pelo fim de sua privacidade não faça tornar um desgosto. Dominador "Comedor", que passa o rodo geral nas subzinhas pode escorregar nas intenções de alguma delas.

Agora, combinados de que o risco não tem posição hierárquica, fica minha proposta: Olhemos com responsabilidade para nossas escolhas, não apenas para que fiquemos longe de riscos, mas também para aumentar nossas chances de estarmos próximos de gente realmente compatível e interessante em todos os aspectos.

Não esqueçam que o tempo que perdemos ao lado de pessoas que não são o que procuramos não volta mais. E que muita gente bacana deixa de estar perto da gente neste período.

Mas, por último, e não menos importante, lembremos também que perfeição é coisa "bem rara". E geralmente, pura aparência. Saber aceitar os outros como são também é uma das fórmulas da felicidade. Não adianta perfilar tudo o que queremos de alguém. É preciso que sejamos um perfil que merece aquilo que deseja.

Afinal, SEMPRE estaremos cercados de gente que merecemos. Como quer que eles sejam, é o que merecemos.

Parlamento de Júpiter