Há alguns anos atrás, eu jogava BDSM e ia para cima dos submissos qual um trator. Simplesmente, começava o jogo e me permitia pouquíssimos, ou quase nenhum, intervalo.
As sessões duravam de duas a oito horas (quão menor o tempo, menos intervalos). Algumas vezes, o submisso saía da sessão tão confuso, que tinha dificuldades para retornar ao seu lar.
O fluxo de informações, sentimentos, reflexões eram tão intensos que, em um dado momento (geralmente pós sessão), seu cérebro travava. Ele, simplesmente, tinha que parar tudo e tentar, de alguma forma, organizar sua mente.
Com o passar dos anos, fui percebendo que o submisso precisava, após cada extasy, cada nova (e forte) sensação de um tempo, de suporte, de novos canais para processar novas emoções, sensações, percepções e visões.
Não podemos esquecer que, por mais experiente que seja um adepto, um jogo novo é sempre um novo jogo, sobretudo se a relação estiver, também, no início.
Com o passar dos anos, fui entendendo uma coisa que denominei de "tempo submisso".
O Dominador observa e começa a entender, já na prima sessão, que o submisso tem seu próprio tempo para absorver, processar e devolver o que sente, como sente, de onde sente e isso até gerar condições de buscar o "porque sente".
É preciso ter discernimento e maturidade para não somente confeccionar o tapete para a viagem do submisso, como, igualmente, estar atento a tudo e conseguir deixá-lo nessa viagem tempo suficiente para que absorva e "se tenha em si".
Quase algo tântrico.
Para isso, é preciso, já no início da sessão, gerar uma imersão onde o submisso entenda que não é somente sexo. É algo que está além, está mais fundo, está mais dentro.
É como se o sexo fosse, somente, uma pequena porta para um palácio imenso com muito mais prazeres. Com prazeres muito mais profundos – e melhores – que o sexo em si.
Até porque, para um Dominador realmente a fim de explorar os sensores de um submisso, a gama de possibilidades, acessórios e jogos mentais são infinitas.
Pode-se ir muito além, porém é importante saber que o caminho só será trilhado com maestria, se houver respeito ao tempo submisso.
Ele [o tempo submisso] age como placas em uma estrada. Antes mesmo de aprender a dirigir, será preciso aprender a interpretá-las e isso só se dará se houver, respeito, atenção e muita, mas muita, conversa.
Certa vez um oráculo me disse: - Não foque na resposta, faça a pergunta certa.
Essas conversas, com perguntas certas, é que dão o mote dos jogos, da relação, do envolvimento e até do crescimento pessoal de ambos.
Outro ponto relevante é conseguir ser você mesmo dentro de todo esse contexto de "Mestre-auxiliar-de-serviços-gerais".
Uma vez que, inicialmente, estará em um papel duplo (o Mestre que usa e o Parceiro que leva além), é importantíssimo não se deixar levar por momentos e estar atento aos subjogos submissos. São jogos, dentro de jogos, onde (quero crer) o submisso não acredita em si mesmo e tenta negativar aquela viagem. Onde por pouca, ou nenhuma imersão, o submisso desfoca do Dominador e foca somente em seu prazer.
Cabe ao Dominador criar um "Plano de Ação" onde ele tenha algumas variantes e alternativas de caminhos para atingir o mesmo ponto.
Não deu certo pela estrada principal? Que tal usar uma secundária? Não deu certo de modo algum? Que tal retornar até o último ponto de conforto e segurança para, então, depois de conversar, ajustar e alinhar, tentar seguir de novo?
Muitas vezes, aflorar sensações ajuda, e muito, a reestabilizar o submisso. Risos, choros e similares levam o submisso a um lugar comum e dali é possível partir para mais uma viagem.
Acima de qualquer coisa é acreditar que, se vocês forem em um crescendo constante, todo o tempo do mundo será de vocês.
É usar e, literalmente, abusar.