O sucesso da trilogia Cinquenta Tons de Cinza é incontestável. Tanto os livros quanto os filmes acumulam milhões de dólares e têm levado muitas pessoas (principalmente mulheres) ao cinema e às livrarias nos últimos anos.
No entanto, o sedutor personagem principal da franquia não é tão bem visto e querido assim por quem é realmente adepto de práticas fetichistas. A comunidade #BDSM (sigla que inclui bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo) não encara o personagem da trama (vivido no cinema pelo ator irlandês Jamie Dornan) como um bom representante das ideias e costumes desse tipo de prática sexual e #Comportamento.
O site internacional Slate publicou esta semana um artigo que explica os motivos: o personagem Christian Grey está mais para um stalker (perseguidor) e um abusador antes de qualquer coisa; longe do que é pregado na vida real.
E mais: Grey é um personagem fictício criado por uma escritora (a britânica E.L. James) que não tinha nenhuma experiência real com o mundo BDSM para uma audiência que também não tinha nenhuma experiência real com o mundo BDSM (pesquisas na época do lançamento dos livros chegaram à conclusão de que a maioria das leitoras era composta por mulheres de meia-idade, casadas, e que não possuíam afinidade com o mundo dos fetiches). A ideia que essas pessoas tem a respeito do tema é, muitas vezes, errônea.
Com frequência, Grey viola as regras, ignora o consentimento, persegue a personagem Anastasia (Dakota Johnson, nos filmes), mostra poucas habilidades de diálogo e exibe trejeitos de um abusador narcisista.
Nada disso faz parte dos jogos eróticos reais e com total consentimento de todas as partes envolvidas nas práticas BDSM da vida real.
O mesmo artigo também conclui que Christian Grey faz tudo o que Anastasia quer e deseja, justamente porque ambos personagens foram criados pela mesma autora. No entanto, na vida real, não é assim que funciona. Alguém que de repente surge na porta de outra pessoa dizendo, trazendo coisas e agindo exatamente como a outra pessoa espera pode ser realmente assustador na vida real.
Grey é um stalker, mas isso funciona na história de Anastasia; mas nunca na vida real. E um dos problemas disso é a romantização da perseguição e da falta de consentimento, que são coisas que não devem acontecer. As pessoas que são adeptas e conhecem melhor o universo BDSM sabem que, quando se trata de vida real, as coisas são realmente diferentes.