Em muitas comunidades sadomasoquistas espalhadas pelo mundo, existe o hábito de deixar as escravas carecas, seja como castigo ou com fins de humilhação. Essa interferência na aparência visual tem o objetivo de aumentar o nível de submissão ferindo a vaidade.
Estou disponibilizando abaixo um interessante texto ilustrativo sobre a evolução dos padrões estéticos nos cabelos femininos e como isso pode mexer com a auto-estima:
Hoje não existe praticamente nenhuma mulher que deixe os cabelos crescerem como a natureza queria. Se alguma delas fizesse isso, acabaria com uma cabeleira na altura dos joelhos ou, se tivesse pele escura, com uma imensa floresta cobrindo-lhe a cabeça. Como nossos ancestrais remotos lidavam com esses extravagantes penteados antes de inventarem as facas, tesouras, pentes e outros utensílios é uma questão que nunca é discutida pelos antropólogos, talvez porque não tenham resposta para ela. Muitas vezes, quando seres pré-históricos são descritos nos livros, as ilustrações mostram, em sua imaginativa reconstrução, mulheres que parecem ter feito uma misteriosa visita ao cabeleireiro antes de posar. Seus cabelos são sempre curtos demais. A menos que o cabeleireiro, e não a prostituição, seja a profissão mais antiga do mundo, há algo de errado nisso, e o erro esconde um dos maiores mistérios da anatomia feminina: por que a fêmea humana desenvolveu essas madeixas ridiculamente longas? No antigo mundo tribal, essa exagerada cobertura capilar seria um estorvo enorme, assim como uma cauda de pavão. Qual foi a vantagem evolutiva desse desenvolvimento excessivo?
Ainda mais estranho é que, exceto pelo topo da cabeça, pelas axilas e pelos genitais, a fêmea humana quase não tem pêlos. É verdade que, sob uma lente de aumento, é possível ver minúsculos pêlos cobrindo-lhe toda a pele, mas à distância eles são invisíveis, e sua pele é funcionalmente nua. Isso torna seus cabelos longos ainda mais extraordinários.
Não é muito difícil traçar a origem desse padrão capilar. Quando um feto de chimpanzé tem cerca de 26 semanas de idade, exibe uma distribuição capilar muito semelhante à de um adulto humano. O fato de que, nos humanos, esse padrão tenha sobrevivido na vida adulta é outro exemplo de neotenia. Ao contrário dos macacos, que desenvolvem um pelame antes de nascer, nós preservamos o padrão capilar fetal durante toda a vida. Os homens são menos evoluídos que as mulheres nesse aspecto, pois possuem um corpo mais peludo, além de bigode e barba, mas ambos os sexos se mantêm funcionalmente nus na maior parte da superfície corporal. Mesmo ao mais peludo dos homens, os pêlos do peito não dariam qualquer conforto numa noite gelada nem evitariam uma insolação em dias de intenso calor.
Portanto, parece que a natureza nos dotou de um padrão capilar muito estranho se comparado ao de outros animais. A explicação fetal pode nos dizer onde o adquirimos, mas não é capaz de explicar que vantagem ele nos deu em termos da sobrevivência da espécie. Como sempre, quando não existe uma explicação óbvia, abundam especulações.
Os defensores da teoria aquática da origem humana acreditam que perdemos nossa pelagem porque precisávamos nos adaptar à natação, mas conservamos nossos cabelos para proteger o topo da cabeça dos raios do sol. Eles também sugerem que os longos cabelos femininos tiveram outra utilidade: os bebês podiam agarrar-se a eles quando nadavam com as mães. Os críticos da teoria aquática a julgam infundada. Se a mãe mergulhasse em busca de comida, era pouco provável que permitisse que os filhos a acompanhassem. Além disso, se nossos ancestrais evoluíram num tórrido clima africano, é provável que não mantivessem os cabelos compridos e flutuantes, mas muito mais curtos e eretos - mais semelhantes aos penteados que vemos hoje em cabeças africanas.
Entretanto, a idéia de manter a cabeleira como proteção tem algum mérito, em ambientes aquáticos ou não. Se os humanos primitivos se dedicavam à caça e à coleta nas savanas africanas durante o dia, precisavam proteger-se contra o forte calor do sol tropical. Uma vasta cabeleira lhes proporcionaria essa proteção, e o resto do corpo pelado aumentaria drasticamente o resfriamento proporcionado pelo suor. (O suor refresca cinco vezes mais a pele nua do que um corpo peludo.) Se outros animais africanos conservaram a pelagem, foi provavelmente porque eram mais ativos ao amanhecer e ao anoitecer, quando o sol não é tão forte. Os primitivos humanos eram animais tipicamente diurnos, como outros macacos.
Isso pode explicar o penteado de estilo africano - uma cabeleira espessa que cobre o crânio, protegendo o cérebro do superaquecimento -, mas não esclarece o mistério da existência de longos cabelos flutuantes nas regiões frias do norte. Alguns antropólogos afirmam que os cabelos compridos ajudavam a manter o corpo dos habitantes das regiões frias aquecido durante o inverno — como uma capa natural pendente dos ombros. A noite, quando dormiam, a longa cabeleira pode ter funcionado como um cobertor. Isso pode até lhes ter dado a idéia para suas primeiras roupas, feitas de peles de animais enroladas no corpo. Mas, se isso fosse verdade, por que os humanos dos países frios não fabricaram um casaco de peles para proteger-se?
A explicação mais provável é que o bizarro padrão capilar humano funcionasse como uma bandeira da espécie — um sinal que nos diferenciaria de todos os nossos parentes próximos (parentes que desde então eliminamos). Se tentarmos imaginar um pequeno grupo de nossos remotos ancestrais antes que eles fabricassem roupas ou qualquer tipo de instrumento cortante, é claro que eles deviam parecer muito diferentes de tudo o que existia no planeta. Com corpos pelados, encimados por longas capas de cabelos ou jubas eriçadas, eles seriam imediatamente identificados como membros daquela nova espécie que caminhava sobre as patas posteriores. Talvez essa seja uma maneira singular de classificar uma espécie, mas um rápido exame dos outros macacos pode nos mostrar com que freqüência estranhos padrões capilares surgiram como sinais de identificação das espécies. Há uma rica variedade de crinas, penachos, jubas, barbas, bigodes e tufos de cores brilhantes. Os primatas são animais predominantemente visuais, de modo que exibir evidentes sinais visuais seria a maneira mais rápida e eficiente de se distinguirem das outras espécies.
Com seus corpos pelados e cabelos longos, nossos ancestrais humanos podiam ser avistados à distância e facilmente diferenciados dos primos de corpo coberto de pêlos. De mais perto, seria então possível fazer a distinção entre os sexos. Os machos, com suas faces peludas, jamais seriam confundidos com as fêmeas imberbes.
Mas existe outra razão para o padrão capilar dos humanos, além de servir para identificar a espécie e o gênero. À medida que começaram a sair de sua terra natal na África e foram obrigados a se adaptar a diferentes ambientes, esses humanos passaram a diferir cada vez mais dos que ficavam em terras tropicais. A necessidade de adaptar-se a diferentes climas os colocou num caminho evolucionário que levou ao desenvolvimento de vários e diferentes tipos raciais. Lutando pela sobrevivência em desertos áridos e quentes, em zonas de clima moderado ou nas geladas terras do norte, seu corpo precisava mudar para sobreviver. E, uma vez conquistadas essas mudanças, era importante que elas não se perdessem. Como ocorre com qualquer outra tendência evolutiva, era necessário impor barreiras que reduzissem os cruzamentos inter-raciais. As raças tinham que se diferenciar o mais possível. Uma das maneiras mais rápidas de fazer isso era variar o padrão capilar humano. Cabelos crespos, cabelos encaracolados, cabelos ondulados, cabelos lisos, cabelos loiros — variações desse tipo podiam diferenciar rapidamente um grupo humano dos outros.
Esse processo começou a ganhar impulso desde um estágio muito primitivo, à medida que os humanos foram se espalhando pelo globo. Não resta dúvida de que estávamos evoluindo para constituir um novo grupo de espécies intimamente relacionadas - humanos tropicais, humanos desérticos, humanos temperados, humanos polares e assim por diante. Nossos diferentes estilos de penteado foram o primeiro sinal de que esse processo estava ocorrendo. Mas, antes que ele chegasse muito longe, a história humana sofreu uma reviravolta. Graças à nossa inteligência avançada, tornamo-nos incrivelmente móveis. Inventamos barcos e navios, domamos cavalos e os montamos, inventamos a roda e construímos carruagens, fabricamos trens e carros, ferrovias e rodovias, e depois aeroplanos. As diferenças raciais estavam ainda num estágio muito preliminar de desenvolvimento. Apenas duas delas tinham feito progresso: as relacionadas ao calor e à umidade (diferenças na pigmentação da pele, na densidade das glândulas sudoríparas e aspectos semelhantes) e as relativas ao sinais visuais: os padrões capilares.
As populações modernas praticamente não precisam adaptar o corpo ao clima. Essas adaptações se tornaram quase obsoletas. Aprendemos a controlar o ambiente com roupas, com lareiras e aquecimento central, com refrigeração e ar condicionado. As diferenças que sobreviveram entre as raças não são mais importantes. Quanto aos diferentes formatos de cabelos que surgiram como mecanismos isolantes, ajudando a manter os diferentes tipos afastados, hoje não passam de uma chateação. Como não nos mantemos mais afastados, mas nos misturamos em todas as partes do mundo, eles só levam à desarmonia. No futuro, quando as populações estiverem ainda mais misturadas, esses mecanismos de isolamento deverão desaparecer totalmente. Mas, enquanto isso, precisam ser compreendidos. Se continuarmos imaginando — erroneamente — que os cabelos refletem profundas diferenças raciais, eles continuarão a nos causar problemas. Podem chamar a atenção, mas, apesar disso, são comuns e superficiais, e como tal devem ser vistos.
Tratando agora especificamente dos cabelos das mulheres, é claro que suas longas madeixas e sua face lisa devem ter criado um atraente contraste visual. Se, como discutimos, o crescimento excessivo dos cabelos evoluiu originalmente como um sinal visual, não deve nos causar surpresa que, ao longo dos séculos, eles tenham sido alvo de tanta atenção, positiva e negativa. Os cabelos foram exibidos, escondidos, penteados, cortados, alisados, ondulados, presos, soltos, coloridos e enfeitados de milhares de maneiras diferentes. Representaram um pouco de tudo: de glória da feminilidade a motivo de tabus religiosos. Nenhuma outra parte do corpo feminino passou por tantas e incríveis mudanças culturais.
Antes de analisar essas mudanças mais detalhadamente, convém dizer que existem cerca de 100 mil fios de cabelo numa cabeça humana. As loiras têm cabelos mais finos e, como compensação, um número de fios ligeiramente superior à média — geralmente cerca de 140 mil. As morenas têm cerca de 108 mil fios, enquanto as ruivas, que possuem cabelos mais espessos, têm apenas 90 mil.
De modo geral, cada fio cresce durante cerca de seis anos. Então, passa por uma fase de repouso de três meses antes de começar a cair. Em qualquer tempo, 90% dos fios estão crescendo, enquanto 10% estão descansando. No período de uma vida humana, cada papila capilar produz cerca de doze fios, um depois do outro. Ao contrário de muitos outros mamíferos, os humanos não têm trocas de pêlo. Nossos cabelos se mantêm no mesmo volume em todas as estações.
Na média, cada fio cresce 13 cm por ano, mas, entre adultos jovens e saudáveis, pode chegar a 18 cm por ano. Então, nesses jovens, se não forem cortados, os fios podem atingir mais de 1 metro antes de começar a cair. Nenhum outro primata apresenta tal crescimento, e essa é uma das características únicas da espécie humana.
Há uma curiosa exceção a essa regra: em alguns casos, em vez de cair depois de seis anos, os cabelos simplesmente continuam crescendo cada vez mais, até chegarem ao chão. Em alguns casos, crescem além disso. Em uma americana, os cabelos atingiram 4 metros de comprimento, mas o recorde mundial pertence a uma chinesa cujos cabelos chegaram a 5 metros. É como se o impulso genético para desenvolver cabelos humanos mais longos tivesse escapado de controle, criando indivíduos super-cabeludos.
Mesmo sem considerar esses casos extremos, era natural que, com tanto cabelo a seu dispor, o ser humano, sempre inventivo, se sentisse tentado a experimentar diferentes formas e estilos. Sabemos, por algumas das mais antigas imagens de Vênus, que isso ocorre há pelos menos 20 mil anos. Algumas gravuras rupestres mostram claramente diferentes penteados, inclusive cabelos elaboradamente repartidos no meio da cabeça e, em um caso, uma trança caída sobre o ombro direito.
Analisando os primeiros períodos históricos, é possível ver como os estilos foram mudando devagar, com penteados bem característicos de cada época. Na era moderna, com a chegada dos salões profissionais de cabeleireiros e dos sistemas de comunicação global, a velocidade dessas mudanças se acelerou drasticamente.
Hoje, no século XXI, são tantas as influências, que não existe mais um único modelo predominante. Com a individualidade na ordem do dia, existem mais penteados e cortes do que nunca. A ânsia de imitar celebridades ainda cria tendências de curto prazo, mas são tantos os modelos a copiar que ninguém mais pode afirmar que um estilo predomine. Os cabelos curtos e práticos da executiva, as longas madeixas flutuantes da pop star, os cabelos cuidadosamente desarrumados das atrizes de Hollywood, os cabelos espetados do rebelde - são todos modelos que encontramos lado a lado nos jornais e revistas. E dar um nome a todos esse estilos é criar estereótipos injustificados, porque dentro de cada estilo existem incontáveis e sutis variantes.
Este não é o lugar para listar todas essas criativas variações, mas é im-portante registrar que, ao longo dos séculos, ocorreram poucas "estratégias de penteados femininos". Elas não dependem dos caprichos da moda, mas das possibilidades básicas do que pode ser feito com os cabelos femininos. Algumas dessas estratégias se desvaneceram na história e hoje parecem muito estranhas. Outras ainda estão em uso.
A estratégia mais simples é optar por um ar natural. Quando a adota, a mulher usa os cabelos soltos e naturais o tempo todo, em casa ou na rua, nas ocasiões especiais e no dia-a-dia. Ela lava, escova e penteia os cabelos, mas não tenta modelá-los ou dar-lhes alguma forma especial. Embora seja a mais básica das estratégias, ela é hoje relativamente rara. Ainda pode ser encontrada em sociedades pouco sofisticadas ou em culturas em que a simplicidade se tornou uma doutrina social. A pobreza seria um fator para a sua adoção, mas, mesmo quando não têm dinheiro para comprar produtos para os cabelos ou freqüentar um salão de cabeleireiro, as mulheres não deixam de arrumar os cabelos. Enrolar, frisar e trançar não custa quase nada e ajuda a matar o tempo.
Para mulheres que têm um trabalho físico extenuante - nos campos ou nas fábricas, por exemplo -, um estilo prático é o ideal. Os cabelos são presos por razões de conveniência, para que não caiam sobre os olhos ou se embaracem. Quando não estão trabalhando, elas soltam os cabelos e os deixam cair naturalmente. Essa foi uma estratégia muito usada pelas camponesas no passado e ainda hoje é adotada por muitas mulheres, que, mesmo não se dedicando a trabalhos físicos, acham que prender os cabelos num rabo-de-cavalo pode ser uma forma de controlar cabelos rebeldes, tanto no trabalho quando em casa.
Mas, em sua grande maioria, as mulheres, especialmente as que vivem em sociedades urbanas, nunca se contentaram com soluções práticas e naturais. Há séculos, têm optado por alguma forma de penteado, prendendo, cortando, modelando, tingindo, ondulando, alisando, mechando ou enfeitando os cabelos. Essa é a estratégia mais comum, principalmente em países onde há muitos salões de cabeleireiro, mas proibida em países em que há estritas normas religiosas ou onde a beleza feminina é tabu.
Duas das principais estratégias no cuidado dos cabelos são o corte e o alongamento. Os cabelos longos mostram mais as mudanças escolhidas e fazem a mulher parecer mais alta.
Uma maneira de ter cabelos longos é usar uma peruca. Essa é uma estratégia que tem no mínimo 5 mil anos. No antigo Egito, as mulheres da classe superior raspavam a cabeça e usavam uma peruca ornamentada em público. As damas romanas não raspavam a cabeça, mas também gostavam de usar perucas como demonstração de status. Essa predileção criou moda: a de que os cabelos com os quais as perucas eram feitas tinham que ser de mulheres de povos conquistados em batalha — uma versão romana do costume de escalpelar os inimigos.
As perucas foram banidas pela Igreja na Idade Média, mas reapareceram na era elisabetana. Isso aconteceu em grande parte porque os primeiros cosméticos danificavam tanto os cabelos e a pele que era necessária uma espessa cobertura. Mas a moda da peruca só atingiria seu ápice no século XVIII, quando, com um exagero atrás do outro, surgiram penteados nunca vistos. Algumas dessas perucas, sempre primorosamente decoradas, chegavam a ter 75 cm de altura. A altura das portas teve que ser aumentada para permitir que as damas passassem por elas. O assento das carruagens teve que ser rebaixado. Cabeceiras especiais foram criadas nas camas para que a mulher pudesse deitar-se e descansar sem tirar a enorme peruca. Na Opera de Paris, as perucas só eram permitidas nos camarotes, porque sua presença na platéia impediria a visão do palco. Nenhum outro estilo de penteado teve tal impacto sobre a sociedade. Como o custo de fabricar e manter uma peruca era muito alto, os maridos tinham que ser extremamente generosos para financiá-las. Por isso, as perucas passaram a ser uma demonstração de riqueza.
A única mulher que podia pôr um fim a essa moda extravagante era Madame Guilhotina, que decepou as cabeças aristocráticas sobre as quais se exibiam as enormes perucas. Depois da Revolução Francesa, a peruca nunca se recuperou totalmente. Houve momentos em que ela ressurgiu brevemente sob uma forma ou outra — como as divertidas perucas da década de 1960, fabricadas de material sintético e em cores brilhantes e artificiais —, mas seus dias de glória tinham ficado para trás. Em tempos mais recentes, quando são usadas, as perucas devem ser tão semelhantes aos cabelos naturais a ponto de passarem despercebidas.
Há mulheres (especialmente aquelas cujos cabelos ficam mais ralos com a idade) que nunca aparecem em público sem uma boa peruca. Algumas celebridades também adotam essa estratégia, não porque tenham problemas com os cabelos, mas por conveniência. Mesmo que os cabelos estejam em bom estado, às vezes é mais fácil usar uma peruca do que perder tempo arrumando os cabelos. A grande vantagem disso é que as elegantes perucas podem ser cuidadas e penteadas sem a presença da dona.
Voltando à estratégia dos cabelos compridos, um notável exemplo do passado recente é um penteado que ficou popular na década de 1980. Em lugar da peruca, o cabelo natural era penteado de forma a parecer o mais volumoso possível. Para obter essa exuberante cabeleira, era preciso "secar os cabelos de baixo para cima com a cabeça abaixada, modelá-los com mousse e por fim pulverizá-los com muito spray fixador". O resultado, que desafiava a gravidade, foi maldosamente descrito por um crítico como "uma das maravilhas arquitetônicas de nossa época". Às vezes batizado de "estilo Dolly Parton" (uma famosa cantora country americana), o penteado ficou muito popular nas pequenas cidades norte-americanas e nos Estados do sul do país, onde com freqüência se ouvia dizer que, "quanto mais alto o cabelo, mais perto de Deus". Uma das razões dessa popularidade era que esse volume todo fazia as feições parecerem mais delicadas, e portanto mais atraentes. Era também um penteado extrovertido e afirmativo, dando à mulher um ar mais confiante. Para seus críticos, porém, era chamativo e vulgar, nada mais do que uma maneira de compensar as imperfeições. E tinha um grave defeito: podia ser uma inegável propaganda de feminilidade, mas também era anti-sexual, porque os homens não podiam correr os dedos pelos cabelos, nem desmanchá-los carinhosamente.
Mais recentemente, surgiu uma forma mais sofisticada de alongamento: mechas que são coladas aos cabelos naturais para fazê-los parecer mais longos. Esse recurso é utilizado quando a mulher se cansou dos cabelos curtos ou quando os cabelos naturais não crescem tanto quanto ela desejaria. Técnicas modernas tornaram praticamente impossível detectar a presença dessas mechas, embora algumas delas sejam visíveis, propositalmente falsas e funcionem quase como uma meia peruca.
A segunda estratégia importante é diminuir o tamanho ou o volume dos cabelos naturais, seja por meio de um corte, seja usando-os rigorosamente presos. Algumas mulheres usam os cabelos presos num penteado sóbrio em ocasiões sociais, mas soltos e naturais na vida cotidiana. Nas últimas décadas, muitas mulheres querem parecer "livres e naturais" a maior parte do tempo, mas gostam de se arrumar para ocasiões especiais, como casamentos, enterros e grandes eventos e celebrações. No intuito de criar uma aparência de pessoas de alta classe e disciplinadas, prendem os cabelos, querendo dizer: "Sou importante, sou séria e não permito familiaridades".
Algumas mulheres vão ainda mais longe e nunca usam os cabelos soltos em público. Mantêm-nos presos num coque o tempo todo, a não ser na privacidade do lar. É o que se pode chamar de estilo "governanta" ou "diretora de escola". Mulheres que precisam impor sua autoridade costumam amplificar esse ar de controle e poder mantendo os cabelos colados ao crânio. Isso as torna menos femininas e evita passar a impressão de relaxamento ou liberdade. Sem um fio fora do lugar, os cabelos não podem ser despenteados ou acariciados. Isso as faz parecer literal e metaforicamente impecáveis, inacessíveis e intocáveis.
Há mulheres que optam por usar os cabelos tão curtos que não é possível prendê-los nem soltá-los. O pouco cabelo que resta fica solto, e não precisa ser preso para facilitar o trabalho físico, nem pode ser mudado em diferentes contextos sociais. As melindrosas da década de 1920 foram as primeiras a adotar essa moda, que reapareceu nos anos de 1960 no trabalho do cabeleireiro Vidal Sassoon.
Evidentemente, a mensagem que se quer passar com o estilo curto é a de uma mulher ativa e independente, que faz dos cabelos uma demonstração de molecagem elegante, e não uma exibição de futilidade feminina. A desvantagem porém é que na prática esses cortes dos anos 1920 e 1960 se revelaram mais difíceis de cuidar fora do salão de cabeleireiro.
O penteado curto ressurgiu novamente na década de 1970, quando, numa forma mais austera, tornou-se uma estratégia feminista, uma demonstração de assertividade nos locais de trabalho, onde as mulheres queriam ser tratadas com mais respeito por seus colegas homens. Na década de 1990, os penteados curtos suavizaram-se e ganharam um toque mais feminino. O estilo da mulher executiva pós-feminista está comunicando: "Continuo disciplinada, mas não preciso abrir mão da minha feminilidade para ocupar um lugar de destaque no mundo". A moda dos anos 1990 caminhou na corda bamba, oscilando entre o estilo agressivo e masculinizado e o modelo ornamentado. O objetivo era combinar um controle refinado com uma sensual liberdade. Esse é o novo desafio para o profissional cabeleireiro do Ocidente no início do século XXI.
Numa forma mais drástica de redução dos cabelos, algumas mulheres se aventuram a cortar o cabelo rente à cabeça, o que elimina a "soltura natural" mesmo na privacidade. Para mulheres bonitas, esse estilo pode parecer uma provocação, como se ela dissesse: "Veja, não preciso de cabelos bonitos para ser atraente", o que pode ser visto como uma demonstração de vaidade. Mas também de rebeldia, manifestação de alguém que ignora as convenções e se recusa a seguir a moda, como as conformistas. As mulheres que não gostam desse corte o vêem como uma tentativa de se exbir com táticas de choque. E os homens podem se sentir ameaçados e frustrados no desejo de acariciar suaves madeixas flutuantes.
Algumas mulheres adotam um corte ainda mais drástico e raspam completamente a cabeça. Em algumas culturas, isso era um castigo. Em outras, um sinal de escravidão ou de submissão voluntária a uma divindade. Em outras ainda, uma imposição a todas as mulheres em cerimônias fúnebres especiais. Entre os fenícios, a mulher que se recusasse a raspar a cabeça em sinal de luto tinha que se oferecer como prostituta no templo. Recentemente, na França, um estilista convenceu todas as suas modelos a raspar a cabeça para mostrar que uma mulher moderna não precisa ser "prisioneira de seus cabelos". Para os homens, esse corte raspado (de Joana D'Arc a roqueiras punk) não tem quase ou nenhum sex appeal, uma vez que nega totalmente a sensualidade dos longos cabelos femininos.
Devido ao seu poder de seduzir os homens, a exposição dos cabelos femininos — em qualquer estilo - tem sido proibida em algumas culturas. Exige-se que a mulher cubra ou esconda os cabelos para eliminar seu potencial erótico. A forma mais branda dessa "cobertura" puritana é usar algum tipo de chapéu. A exigência de que a mulher cubra a cabeça ao entrar numa igreja católica é uma reminiscência da época em que ela era obrigada a esconder os cabelos durante qualquer cerimônia religiosa cristã. Um resquício moderno desse antigo costume é a convenção social de usar chapéus em ocasiões formais, como casamentos e funerais.
Em comunidades religiosas, passadas e presentes, exige-se que as mulheres cubram a cabeça completamente quando estiverem em público e só soltem os cabelos na privacidade do lar, quando não haja estranhos presentes. Em sociedades que praticam rigidamente o islamismo, por exemplo, isso é uma lei. Se, por descuido, a mulher permitir que uma pequena parte dos cabelos seja exposta sob o tradicional véu, pode ser açoitada pelos homens da igreja. As comunidades cristãs também impuseram normas relativas à exposição dos cabelos. No passado, essas regras quase sempre se aplicavam às esposas devotas, cujos cabelos não podiam ser vistos em púbico, e ainda hoje são seguidas pelas freiras.
Um extraordinário exemplo desse costume de ocultar os cabelos por razões religiosas ainda sobrevive hoje em Nova York, nas comunidades de judeus ortodoxos. Nelas, a mulher deve cobrir totalmente os cabelos, que só podem ser vistos pelo marido, na privacidade do quarto de dormir.
Apesar disso, as mulheres dessas comunidades desejam se integrar à vida nova-iorquina e resolvem esse dilema de uma maneira engenhosa. Usam perucas caríssimas, praticamente iguais a seus cabelos naturais. Quando usam essa peruca, que chamam de sheitel, sua aparência não muda. Qualquer observador com certeza acharia difícil dizer que elas estão usando uma peruca. Dessa forma, a regra religiosa é obedecida sem sacrifício da imagem.
É evidente que os cabelos convidam à experimentação mais do que qualquer outra parte do corpo feminino. Isso ocorre porque é fácil mudá-los; essas mudanças podem ser feitas rapidamente, e não são definitivas. Quando os cabelos crescem, pode-se tentar um novo estilo. Acima de tudo, os cabelos são muito visíveis, e a menor alteração é imediatamente percebida.
No simbolismo dos cabelos femininos existe uma simples dicotomia: o contraste entre os cabelos naturais, longos, soltos e acessíveis e os cabelos curtos, sóbrios e rigidamente penteados. Os cabelos longos podem ser vistos como símbolo de sensualidade, liberdade de espírito, rebeldia pacífica e criatividade. Os cabelos curtos têm sido associados a disciplina, autocontrole, eficiência, capacidade de adaptação e assertividade. Evidentemente, são generalizações, mas é surpreendente como elas correspondem aos fatos em muitos casos. O maior prazer da mulher em relação aos cabelos, porém, é que eles estão sempre disponíveis, permitindo-lhe expressar seu estilo pessoal e sua individualidade, assim como seu estado de espírito. Desde que o mundo obscuro das práticas religiosas sexistas não interfira, a mulher pode usar os cabelos como um maravilhoso meio de se expressar e se apresentar ao mundo.
Além das inúmeras opções de corte e penteado, há ainda a questão da modificação da cor dos cabelos. As cores naturais, que vão do preto ao loiro-claro, são, como os tons de pele, fruto de uma adaptação às condições climáticas do ambiente. Cada cor — preto, castanho, ruivo ou louro — tem um significado que reflete essa adaptação e um encanto próprio. Portanto, é surpreendente descobrir que, quando as mulheres decidem mudar a cor dos cabelos, exista uma cor que predomine sobre todas as outras. De cada cem mulheres que tomam a decisão de mudar radicalmente a cor dos cabelos, mais de 90% decidem ficar loiras. Mas por que tantas mulheres de cabelos escuros querem parecer escandinavas, quando tão poucas escandinavas querem tingir seus cabelos de preto ou castanho? É claro que isso nada tem a ver com o clima. Nem com raça, já que a maioria das caucasianas têm cabelos escuros. Então, qual é a atração dos cabelos loiros, um apelo tão forte a ponto de criar a bizarra situação de termos no mundo mais loiras artificiais do que verdadeiras?
Parte do poder de atração dos cabelos loiros reside no fato de eles serem finos e leves, mais suaves ao toque e portanto mais sensuais nos momentos de íntimo contato corporal. Por entre os dedos ou no contato com o peito do homem, a suavidade dos cabelos evoca a maciez da carne feminina. Assim, nesse aspecto, as loiras são mais femininas que as ruivas ou as morenas.
Na verdade, a feminilidade das loiras se estende a todo o corpo. A mulher loira tem uma penugem fina e suave nas partes em que a morena precisa usar uma lâmina de barbear ou creme depilatório. As axilas e o púbis das loiras são cobertos por pêlos mais delicados. A sedosidade de seus pêlos púbicos é muito diferente da aspereza dos pêlos das morenas. Em momentos de extrema intimidade, portanto, a loira leva uma ligeira vantagem sobre as morenas.
Diante do argumento de que é a suavidade dos cabelos loiros que leva tantas morenas a clarear os cabelos, alguém poderia contrapor que qualquer vantagem que se obtenha será apenas por associação. O clareamento não torna o cabelo mais fino nem mais macio. Ele apenas parece mais fino.
Eis, portanto, outra vantagem de ser loira, e ela é apenas visual: a mulher loira passa uma imagem mais juvenil do que a morena. E essa imagem, projetada por uma mulher adulta, aumenta seu poder de sedução, transmitindo fortes sinais de que ela deseja ser cuidada. As loiras passam uma idéia de juventude porque, em grande parte da humanidade, os bebês são mais loiros que os pais, de modo que a combinação entre "olhos azuis" e "madeixas loiras" ficou indelevelmente associada à infância.
Nem é preciso dizer que isso é bom para cabeleireiros e fabricantes de perucas. Dos impérios do mundo antigo aos salões da Europa barroca, gerações de mulheres de cabelos escuros acorreram a seus estabelecimentos em busca dos mais modernos estilos e produtos, com a pretensão de se tornarem um pouco — ou muito - mais loiras do que a natureza as fez. Praticamente desde o amanhecer da história, o clareamento dos cabelos femininos foi uma indústria importante.
Alguns dos recursos utilizados para satisfazer as exigências sociais e alourar os cabelos eram perigosos e até mesmo letais. Os antigos gregos usavam uma pomada de pétalas de flores amarelas, uma solução de potássio e pós colorantes que deixava os cabelos opacos na tentativa de dar-lhes a sensual aparência alourada. As damas romanas tingiam os cabelos com um sabão germânico especialmente importado do norte, mas era mais provável que escolhessem o caminho mais fácil de usar uma peruca loira. Essas perucas primitivas eram feitas de cabelos naturais dos europeus do norte que os romanos conquistavam em sua expansão. A moda se espalhou tanto que o poeta romano Marcial zombou dela nos seguintes versos:
Os cabelos dourados que Gala usa
São dela — quem imaginaria?
Ela jura que são dela, e eu juro que é verdade
Porque sei onde ela os comprou.
À medida que os séculos foram passando, cada vez mais truques eram usados para clarear os cabelos. Cascas de plantas, sementes, sabugos e resíduos do vinagre foram muito populares nos primeiros tempos. Uma das receitas mandava esfregar os cabelos vigorosamente com açafrão. Outra recomendava gemas de ovos cozidos com mel, seguidas de uma longa exposição ao sol forte. As mulheres elisabetanas polvilhavam os cabelos com pó de ouro ou, quando precisavam ser mais econômicas, aplicavam neles raspas de ruibarbo diluídas em vinho branco. Algumas vezes, corriam o risco de embeber os cabelos com ácido sulfúrico ou alumina. Para algumas mulheres, esses tratamentos químicos resolviam o problema dos indesejáveis cabelos escuros: ficavam completamente carecas e eram obrigadas a usar uma peruca loira pelo resto da vida.
As receitas foram se tornando cada vez mais complexas. Em 1825, um tratado denominado A arte da beleza ensinava a suas leitoras a fórmula para obter cabelos da cor do linho: "Ferva 1/4 de galão de lixívia; adicione 1/2 onça de raízes de celidônia e gengibre-dourado, 2 dracmas de açafrão e raízes de lírio, e 1 dracma de cada uma das seguintes flores: verbasco, giesta e hipérico. A solução obtida deve ser aplicada regularmente nos cabelos".
É claro que, ano após ano, século após século, a mulher foi se preparando para superar qualquer obstáculo que a impedisse de adquirir as desejáveis tonalidades douradas. Mas, como acontece com muitos conceitos de moda, foi inevitável que o clareamento dos cabelos adquirisse um sentido colateral de exagero e exibição. Mesmo na época romana, a aparência que ele proporcionava nem sempre era a de uma virgem imaculada. A artificialidade das perucas e tinturas reduziu o valor simbólico da coloração. Num dado momento, tornou-se sinônimo não de inocente feminilidade, mas de sensualidade profissional: a marca da prostituta.
As prostitutas romanas eram muito organizadas. Tinham que obter uma licença para trabalhar, pagavam impostos e, por exigência da lei, usavam cabelos loiros. A terceira esposa do imperador Cláudio, a ninfomaníaca Messalina, ficava tão excitada com a possibilidade de fazer um sexo brutal e repentino com estranhos que saía para a sua caçada noturna usando uma peruca de prostituta. Corriam boatos de que tal era a violência com que fazia sexo que muitas vezes perdia a peruca loira e retornava ao palácio real totalmente reconhecível.
Outras damas romanas logo passaram a imitá-la na cor dos cabelos, e os legisladores foram incapazes de reprimir a nova moda. A obrigatoriedade do uso da peruca loira para as prostitutas caiu por terra, mas um elemento de fraqueza e abandono hoje associado às loiras sobreviveu ao longo de séculos, ressurgindo repetidamente como o reverso da imagem de virginal inocência. Geralmente, a diferença que se estabelecia era a seguinte: loiras verdadeiras são anjos e loiras falsas são promíscuas. O fato de as loiras artificiais terem tido muito trabalho para parecer atraentes significava que o sexo ocupava sua mente por muito tempo, e a loira falsa se reproduziu em diferentes arquétipos: garota fácil, bomba sensual, prostituta, bonequinha de luxo, loira burra. Cada geração tem um nome para ela, e cada geração tem suas superloiras.
No início da Primeira Guerra Mundial, a loira platinada entrou em cena. Em 1937, quando Jean Harlow morreu, aos 26 anos, deixou uma longa sucessão de estrelas de cinema loiras, que continuam dominando a tela até hoje. A grande maioria das personalidades femininas surgidas em Hollywood foram louras - geralmente, mais por força da cosmética do que da genética. Algumas passaram por sacrifícios para aperfeiçoar o visual: Marilyn Monroe chegou a clarear os pêlos púbicos para fazê-los combinar com suas madeixas platinadas. Muitas se mantiveram fiéis à velha associação entre o sol e o dourado de seus cabelos - eram mulheres alegres e calorosas, vitais e intensas. Freqüentemente elas se dão mal, mas isso também faz parte de seu natural poder de sedução: sua loira vulnerabilidade.
Em defesa das morenas, um comentarista do final da década de 1960 afirmou: "Se um homem tem boas intenções em relação a uma garota, deseja que ela seja natural. Nada artificial atrai um homem sério. De modo geral, ele prefere uma loira como amante e uma morena como esposa. Morenas têm mais integridade".