Os perfiladores do BDSM - cuidado com eles!
Dom Fernandez de Alcântara Machado de Lisboa e Albuquerque não precisou de mais que cinco minutos, de conversa via chat, para dar o diagnóstico da Maria Clara da Silva Pintus, uma moça aflita que o procurara (melhor, que ele viu dando sopa na sala com perguntas básicas e a levou para o reservado dizendo que era um ícone do BDSM):
- Então, minha menina, eu vejo que você é realmente submissa, tem um algo de insegurança e está no caminho errado. Larga todos esses remédios que esses médicos babacas te dão e vem ser minha mentorada que resolvo tudo para você. Arrumo seu cartão de crédito, te dou Dono e ainda te levo para o sítio de um amigo para fazermos você gostar de bondage. É... sua vida vai mudar... Sorria!
- Próxima! Ele disse ao sair do reservado e ir para o chat aberto.
Com o próximo, um homem, ele não levou mais que dois minutos cortando o moço que contava sua história e estava só no começo:
- Então, querido, para mim está claro que o seu negócio é trocar dor com a sua Domme virtual. Sinceramente acho que ela está toda errada contigo, mas quem sou eu para falar daquela fdp? Desculpe, meu querido, eu respeito a todos, mas essa moça não vale absolutamente nada e tenho medo dela já não ter te ferrado a mente e o coração. Você é submisso de alma e ela está te estragando, viu... Pode procurar no meio. Ninguém gosta dela! Dizem que ela usa submisso como motorista quando ela vem do sul para a feirinha da madrugada no Brás. Aquela que as sacoleiras vem comprar roupas para revender, sabe?
Bem, faz assim: Acabe com ela que vou te arrumar uma Domme da hora, velhinho.
Não... Que satisfação que nada! Mande um e-mail para ela avisando da sua dispensa e se ela não gostar manda vir falar comigo!!! Duvido que ela tenha coragem de me enfrentar meu caro Aqui poucos tem porque sou sumidade no meio!!!
Dom Castro de Aliança e Braquilha Aberta, de alguma forma, viu tudo aquilo e foi tentar ajudar.
- Dom Fernandez, meu amigo... Não faz isso... estou vendo o honrado amigo fazendo diagnósticos precoces e isso pode prejudicar a todos (inclusive ao meio BDSM).
Dom Fernandez faz o maior drama:
- Eu!?!?!?!? Fazer diagnóstico é exercício ilegal da profissão de médico. O que estou fazendo é ajudar ao dar alguns conselhinhos, mas tudo bem... É isso que dá querer usar seus 75 anos de BDSM para auxiliar e aconselhar a outros.
- Desculpe, mas o Dom não tem só 55 anos de idade? Como assim 75 de BDSM?
- Vidas passadas não contam, caríssimo!?
- Entendo... Mas voltando. Mesmo sendo conselho o amigo pode estar errado, afinal como saber o que é certo em tão pouco tempo?
- Oras, médico do SUS e do Plano de Saúde Barato fazem consulta de cinco minutos, te dão uma receita que não tem nenhum remédio na Farmácia Popular e, por isso, te fará gastar toda a aposentaria e ai pode!?
Por favor, vá, vá, vá, vá, vá!!!
Dom Castro se calou e, na mesma hora, pediu exílio. Foi morar na Europa porque BDSM bão era o de lá. E pronto!
Brincadeiras a parte a pergunta que fica é:
Até que ponto temos real habilitação para identificar, classificar e catalogar a posição do outro quando o próprio outro não sabe?
Até que ponto tenho o direito de ser o perfilador do BDSM?
Até que ponto eu, com meus conselhos, não posso, com esse ato, estar num ciclo vicioso onde impossibilito as descobertas do outro no outro mesmo?