Especificar individualmente quando cada prática começou é uma tarefa árdua e quase impossível devido à diversidade de praticas abrigadas sob as siglas BDSM, pois cada uma delas tem origens tão distintas que nos levariam a uma longa jornada pela antiguidade.
Socialmente podemos referenciar o ano de 1918 como um marco para o surgimento do que chamamos hoje de BDSM. Foi quando surgiu a “London Life”, a primeira revista comercial com tendências fetichistas de que se tem notícia, em suas páginas começaram a ser veiculados os primeiros anúncios de encontros e festas privadas.
No ano de 1946 foi impressa a revista “Bizarre Magazine” (http://www.bizarremag.com), cujo conteúdo era voltado ao Bondage, Dominação e Fetichismo. Sua distribuição era basicamente em clubes e ambientes sadomasoquistas.
A explosão realmente aconteceu após a segunda grande guerra mundial, com a volta dos soldados começaram a aparecer grupos de motociclistas com claras tendências homossexuais, tendo o couro como sua bandeira e o S/M como uma prática social. Esses grupos começaram a ter uma forte influência estética sobre o vestuário, o couro passou a ser parte integrante da indumentária, virando um símbolo desse movimento.
Em Nova Iorque no ano de 1951 foi fundado o primeiro local reconhecidamente S/M, o Shaw’s.
Esse entusiasmo também se refletiu na Europa onde associações e locais S/M começaram a surgir num primeiro momento para grupos homossexuais. Grupos como “Berlin”, em 1964 na Alemanha, “Sixty-Nine Club London”, em 1966 na Inglaterra, “VSSM” em 1970 na Holanda, “Boys Cuir France”, na França em 1973, “MSC” em 1974 na Bélgica.
Em novembro de 1969 na cidade de Colônia na Alemanha, ocorre a primeira festa pública que reúne mais de cem pessoas. Dá-se
nesse momento o impulso e a roda começa a girar. As grandes sociedades S/M da época começam a dar os primeiros passos.Nos Estados Unidos em 1971 a “The Eulenspiegel Society”, na Europa em 1975, mais especificamente na Inglaterra a “European Confederation of Motorcycle Clubs (ECMC), em 1976 é fundada por Cynthia Slater e Larry Olsen a “Society of Janus”, em 1978 Pat Califia e Gayle Rubin fundam a “AtomAge Magazine”, um grupo formado por mulheres lésbicas baseado no romance História de Ó. Abriram-se as portas para as mulheres. Nessa mesma época surge a AtomAge Magazine, uma revista especializada em couro, borracha e PVC. O universo fetichista ilustrava suas páginas com forte ênfase na borracha, catsuits, capas e gasmasks .
Na Europa começam a desenvolver-se os grupos heterossexuais e também a aceitação do Switcher (Indivíduo que sente prazer tanto dominando quanto sendo dominado), criando-se assim novos espaços de encontro, mas ainda assim vinculados às associações pansexuais.
Em 1986 forma-se o grupo de S/M austríaco “Libertine Wien”, em 1987 o “Flagellantenclub Fórum 88”, que chega a ter em 1995 aproximadamente 400 sócios. As festas S/M “Lês Fleurs du Mal”, realizadas no pub “Molotow”, em Hamburgo são realizadas com grande êxito em 1990. Essas festas aconteceram mensalmente por cerca de nove anos.
Foi fundado no ano de 1987 o primeiro grupo estritamente heterossexual no seio da comunidade S/M, o alemão S/M-Sündikat Hamburg, que logo desenvolveu uma intensa atividade social, editorial e divulgadora. (Schlagworte Ressourcenliste Version 0006ª, mazo 2000). Foram os realizadores da primeira grande festa S/M européia, na galeria “Abriss” de Hamburgo, com mais de 700 pessoas. Calcula-se nesse mesmo ano a existência de aproximadamente 200 grupos S/M nos Estados Unidos e 180 na Europa, destacando-se a Alemanha com 53 grupos. Outros continentes não foram considerados por não existirem dados confiáveis.
Foi realmente a partir dos anos 90 que se intensificou o desenvolvimento de casas, clubes, associações e literatura destinada ao gênero.
Originalmente B/D (Bondage e Disciplina), D/s (Dominação e submissão) incorporavam-se ao Sadomasoquismo (S/M, S&M e SM). Muitas pessoas envolvidas nessa subdivisão não quiseram estar associadas a práticas mais violentas ou vistas como abusivas. Muitas discussões se seguiram com os grupos envolvidos e acordou-se um novo acrônimo mais abrangente: BDSM (Bondage e Disciplina, Dominação/submissão e Sado-Masoquismo).
O PAPEL DA ALT.SEX
Em Abril de 1991 foi criado um grupo de discussão na Internet chamado alt.sex, a partir daí é que as siglas BDSM tornam-se conhecidas, mas vamos primeiro compreender essa terminologia toda.
Era popular na época o NEWSGROUP, que é um grupo de discussão categorizado que circulava numa rede chamada USENET (Users’ Networks, ou Utilizadores da Rede). As categorias mais populares eram “alt”, “comp” e “rec”. Só para exemplificar, existiam categorias alt.music, alt.games, alt.movies e obviamente alt.sex. Foi essa a mola propulsora que tornou a comunicação mais abrangente e permitiu a uma discussão mais ampla do BDSM através do alt.sex.bondage. Se você tiver curiosidade em conhecer as perguntas mais frequentes (FAQ list) de uma lista que tornou-se referência do BDSM na década de 90, CLIQUE AQUI!
O BDSM no Brasil
Naqueles tempos embrionários das décadas de 80/90, toda a forma de comunicação no Brasil se dava através de caixa postal nos correios, revistas como a Internacional, Ele e Ela e Fiesta eram os principais veículos de interação... Qualquer pessoa que tivesse interesse em encontrar parceiros para práticas sadomasoquistas, adquiria uma dessas revistas, mandava seu anúncio e esperava até meses para vê-lo publicado. A forma mais comum e segura para essa troca de mensagens era a caixa postal. Alugava-se uma delas nos correios e aguardava-se as correspondências chegarem.
Com a popularização de outras ferramentas, como Videotexto ou VTX, os BBS (bulletin board system) e o mIRC, a forma de comunicação evoluiu.
O nascimento do Bar temático Valhala em São Paulo foi um marco e começou a receber grupos que antes só se encontravam em restaurantes e bares.
Mais tarde foi ianugurado o Clube Dominna que por muito tempo foi o polarizador do BDSM nacional, promovendo encontros, play parties e reuniões com a nata do sadomasoquismo da época. Também merece menção o LIBENS Fetish Club, criado por Mister K Rock e mayriKa em 2008, um dos últimos locais de encontro do grupo SoMos.
Foi assim que o BDSM Nacional começou a ganhar forma.
Atualmente a Internet permite uma interação dinâmica, temos todo o tipo de informações à mão, basta pesquisar, existem vários grupos de discussão brasileiros das mais variadas vertentes. A informação está disponível e fácil para quem está chegando agora e a propagação dessa filosofia está tendo penetração em todas as mídias.