No final do século XV, a Inquisição já era uma maquina bem lubrificada e rodada para eliminar os hereges. O sucesso e a carreira dos inquisidores dependiam do numero de processos julgados e das condenações executadas.
Também se acreditava que o povo devia se sentir constantemente ameaçado pela visão dos castigos exemplares, para não ousar sair do recinto da verdadeira fé. As fogueiras e as mortes em praça pública serviam de exemplo.
Por sorte, não faltaram pessoas que se opuseram ao clima da época, como o filósofo e matemático Nicolau de Cusa. Em 1457, ele julgou, na qualidade de bispo de Bressanone, o caso de duas mulheres que haviam confessado ter sido transportadas a um sabá por uma misteriosa mulher chamada Richella, após terem abandonado a fé cristã e terem visto homens devorando crianças não batizadas.
De Cusa encerrou o caso como se fosse um sonho e condenou as mulheres a uma simples penitência. A crença na bruxaria, de acordo com o raciocínio do bispo, alimentava nas pessoas o medo do diabo, a ponto de fazê-las acreditar que este fosse mais poderoso que o próprio Deus.
Em 1489, Urlich Müller declarou que as bruxas não eram nada além de mulheres pobres dominadas por uma ilusão diabólica. No início do século XVI, o frei Samuel De Cassinis chegou a acusar os inquisidores de heresia, pois acreditavam nos sabás, e lutou para que os tribunais devolvessem aos parentes das bruxas executadas os bens que haviam confiscado. O humanista Andrea Alciato, em 1544, afirmou à inutilidade da perseguição as bruxas.
Em 1553, o médico Johann Weyer afirmou que as bruxas eram apenas pobres mulheres vítimas de alucinações. Por causa dessa teoria, foi atacado violentamente pelos teólogos católicos e protestantes. Em 1594, Reginald Scot publicou um livro contra os excessos cometidos durante a caça às bruxas. As cópias do volume foram queimadas por ordem do rei da Escócia.
No início do século XVII, o renano Cornelius Loos tentou inutilmente mandar imprimir uma obra em que acabava com a fantasia dos sabás, das cavalgadas noturnas e das negociações com o demônio. Ele foi o primeiro a identificar nas bruxas uma cultura alternativa a dominante e muito arraigada entre os pobres. Por suas idéias, foi condenado a fogueira, mas morreu de peste na prisão antes da execução.
Em 1631, o jesuíta alemão Friedrich Von Spee, em seu tratado Cautio Criminalis, seu de processibus contra sagas, afirmou: "Envergonho-me de confessar que, principalmente na Alemanha, entre católicos e o povo, estão presentes superstições inacreditáveis [...] que [...] recaem mais sobre as pobres mulheres. [...] Com a tortura, um inquisidor conseguiria fazer até o papa confessar-se bruxo.” Todavia, até a metade do século XVII, esses tipos de manifestações eram sempre isolados.