Um dos fetiches mais comuns é a adoração por pés e sapatos e tem uma denominação: altocalcifilia. Segundo Freud, o possível gatilho detonador desse fetiche era por ser o sapato feminino o penúltimo objeto que um menino via sob a saia da mãe.

Por se tratar de um fetiche, ele pode não estar associado diretamente ao sadomasoquismo, é possível o individuo ter prazer apenas na contemplação ou consumar sua fantasia acariciando, beijando e chupando os pés, sem que haja a necessidade da dor ou da humilhação explícita.

O foco de atração costuma estar na curvatura da sola, no formato dos dedos, nas unhas e principalmente na dimensão dos pés.

A diferença básica dos pés femininos está em seu tamanho, são menores e mais estreitos que os pés masculinos e essa diferença anatômica é notável no calcanhar mais estreito em relação à planta do pé. Um pé pequeno é considerado muito sensual, simboliza feminilidade e atrai olhares masculinos.

A moda através dos anos passou a valorizar muito esse atributo feminino, tornando-os aparentemente menores pelos calçados criados ao longo da historia, cada vez mais apertados, pontudos e com seus saltos aumentados.

A lógica consiste em apertá-los, seu formato pontudo contribui para estreitar o pé e o salto os faz parecerem menores, ao elevar a posição do calcanhar. É uma técnica eficaz que produz pés mais atraentes, mas cobra seu preço; segundo estatísticas médicas, 80% das cirurgias nos pés são realizadas em mulheres por conta da pressão exercida nos mesmos.

Outros efeitos colaterais também são objetos de estudo; dores nas pernas, problemas de coluna e até dores de cabeça, já que o equilíbrio do corpo é afetado pelo formato desses calçados.

Essa busca pelos pés pequenos é secular, muitas sociedades no passado viram suas mulheres utilizando-se de todas as práticas possíveis e imagináveis para manterem-se sensuais e atraentes, pois pés grandes sempre fugiram à estética estabelecida como padrão de beleza aceitável.

Um dos métodos utilizados ao longo da história pela aristocracia européia era a amputação dos dedos mindinhos para que os pés coubessem nos sapatos estreitos.

Esse desejo feminino foi extremamente valorizado na cultura chinesa pelas castas superiores, onde pés minúsculos eram sinônimos de fundamental beleza.

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As práticas começavam muito cedo, por volta dos sete anos de idade iniciava-se o ritual da amarração dos pés. Normalmente os pés eram lavados em água quente e massageados antes da imobilização. Usavam-se bandagens em geral com cinco centimetros de largura e aproximadamente 3 metros de comprimento.

A técnica consistia em curvar os quatro dedos menores para trás amarrados, passava-se a bandagem pelos tornozelos de tal forma que os dedos se aproximassem o máximo possível do tornozelo, continuando as voltas pelo pé como se fosse uma bota, impedindo assim que os dedos voltassem à posição normal. Apenas o polegar (dedão) ficava livre.

Concluída a imobilização dos dedos, obrigava-se a criança a caminhar dessa forma para que se acostumasse com sua nova situação, sendo punida severamente se chorasse de dor. Existia um objetivo a ser alcançado; reduzir o comprimento total do pé a 1/3 do seu tamanho natural.

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Esse processo continuo tornava o pé atrofiado de forma irreversível ao atingir-se a idade adulta. Essa deformidade impedia o caminhar normal e sua compensação era o status adquirido. Do ponto de vista social, a mutilação impedia a mulher de afastar-se do marido, além, obviamente, da forte conotação sexual gerada pelos minúsculos pés.

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O sentido erótico dessa cultura estava no fato do marido poder colocar todo o pé na boca e chupá-lo durante as preliminares, ou então, num gesto de sadismo, apertar os pés mutilados para vê-la gritar durante o ato sexual. Essa tradição chinesa durou aproximadamente mil anos, teve seu inicio por volta do século X e foi proibida em meados do século XX.

Fetiches normalmente carregam uma mensagem implícita ou explícita. A podolatria (fetiche por pés) tem a propriedade de mimetizar-se com elementos fálicos. No imaginário do fetichista, pés e pênis tem uma relação muito próxima, existindo uma potencialização em função dos saltos altos.

O salto alto, pelo que se tem conhecimento, teve origem no século XVI com Catarina de Médicis, que mandou confeccioná-los por causa de sua baixa estatura, sendo rapidamente absorvido pela aristocracia e espalhando-se pela europa.

Na sociedade moderna, os sapatos tem um significado especial para fetichistas e masoquistas com fixação em pés, a preferência reside nos saltos altos e finos para a pratica do trampling (ato de subir e pisar no corpo).

Já descalços, os pés remetem a um ritual de subordinação num contexto sado masoquista, pois existe um elemento gestual nitidamente humilde e submisso quando o mesmo é beijado.

Embora esses radicalismos ao culto do pé pequeno tenham diminuido muito do ponto de vista torturante, os modelos de sapatos continuam praticamente os mesmos, valorizando os pés pequenos, mesmo que de maneira ilusória.