Pedofilia

A pedofilia é considerada um desvio sexual ou parafilia. Ela consiste em excitação sexual intensa com crianças pré-púberes. Quem abusa está na faixa etária de, no mínimo 16 anos de idade e é pelo menos cinco anos mais velho que a vítima. O abuso ocorre em todas as classes sociais, raças e níveis educacionais. Quem mais abusa são os homens, mas se suspeita de que existam casos de mães que abusam de seus filhos.

Há quatro tipos de pedófilos: 

  1. jovens até 18 anos de idade, que aprendem sexo com suas vítimas;
  2. adultos entre 35 e 45 anos de idade, que molestam filhos seus, de amigos ou vizinhos;
  3. pessoas com mais de 55 anos de idade, que sofreram algum estresse, perda por morte ou separação ou, ainda, doença que afete o sistema nervoso central; e
  4. pedófilos crônicos.

 O sexo praticado com crianças geralmente é orogenital (beijo ou sucção da genitália), sendo menos freqüente o contato gênito-genital (penetração na vagina) ou gênito-anal (penetração no ânus). As causas de abuso são variáveis. O molestador geralmente justifica seus atos, racionalizando que oferece oportunidades à criança de desenvolver-se no sexo, ser especial e saudável, inclusive praticando sexo com a permissão dela. Pode envolver-se afetivamente e não ter qualquer noção de limites entre papéis ou de diferenças de idade.

Quando ocorre dentro do seio familiar - o pedófilo é pai ou padrasto -, o processo é bastante complexo. O normal é o internamento da criança para sua proteção. Muitas vezes a criança também foi espancada e deve receber tratamento adequado. A família costuma se dividir entre os que acusam o pedófilo e os que acusam a vítima. culpando-a de provocação do abuso. O tratamento então é inicialmente direcionado para a intervenção na crise.

Depois, criança, pedófilo e família devem ser tratados. Devido ao fato de o abuso de menores se constituir em crime, o tratamento do agressor torna-se mais difícil. As conseqüências emocionais para a criança são bastante graves, podendo torná-la insegura, culpada, deprimida, com problemas sexuais e problemas nos relacionamentos íntimos na vida adulta.

A versão de quem pratica

O pedófilo considera seu desejo uma orientação sexual, como heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade. Segundo essa visão, ele é apenas uma pessoa adulta que deseja sexo com crianças. Dependendo dos gostos e de suas preferências, a criança agredida pode variar em idade.

O termo pedófilo significa amante de crianças. Como em outras orientações, verdadeiros pedófilos não se interessam exclusivamente por crianças para sexo. Eles estão contentes na companhia delas, além de desejá-las para atividade sexual.

Pedófilos não são extremamente comuns, embora existam sinais de sua atividade no correr dos séculos. É sabido que várias pessoas famosas faziam parte desse grupo. Lewis Carrol, autor do clássico literário Alice no país das maravilhas, talvez seja o mais famoso deles. Fotografava meninas, mas não houve queixa de que tenha tentado contato sexual com nenhuma delas. Por causa do estigma social ligado ao sexo entre adultos e crianças, a maior parte dos pedófilos esconde seu desejo, já que enfrenta prisão por sua conduta sexual.

A pedofilia não seria tão estigmatizada se não envolvesse pessoas em formação, que não podem ainda escolher com o discernimento da experiência.

O escândalo do clero

A regra eclesiástica que estabelece a castidade dos membros da Igreja, aliada ao fato de padres atuarem na educação de crianças e adolescentes nos colégios católicos, criou uma bomba de efeito retardado. Segundo o John Jay College of Criminal Justice, mais de 4 mil padres católicos norte-americanos são acusados de agressão sexual contra menores.

As vítimas são 11 mil crianças, seviciadas entre 1950 e 2002. Desse total, 149 dentre os acusados teriam seduzido 10 vítimas ou mais. A pesquisa se baseou em questionário distribuído para 195 dioceses norte-americanas e 142 comunidades religiosas. Os assediados se dividem em 81% de meninos e 19% de meninas.

Entre os meninos, 40% foram agredidos sexualmente quando tinham entre 11 e 14 anos. As agressões ocorreram principalmente durante os anos 1970.

O fardo das vítimas

As pessoas que sofreram ações de pedofilia se organizaram como RSVP - Rede dos Sobreviventes Vítimas de Padres. Elas consideram modesto o número de vítimas levantado no relatório. Durante anos a cúpula da Igreja norte-americana tentou esconder a realidade. Mas após as primeiras denúncias o escândalo veio à tona. As vítimas de carícias sexuais na infância costumam esperar, em média, a idade de 44 anos para romper o silêncio, segundo a RSVP.

Admitindo o problema

O arcebispado de Boston, onde o escândalo dos padres pedófilos veio à tona, revelou que 162 entre seus religiosos foram acusados de agressão sexual. Sete destes foram responsáveis sozinhos por mais de 400 casos de abusos sexuais. O cardeal Bernard Law foi obrigado a se demitir, em 2002, após encobrir os escândalos por anos a fio, apenas transferindo acusados de uma paróquia para outra.

A arquidiocese de Boston pagou, em 2003, o equivalente a 100 milhões de dólares em compensações a vítimas de abusos sexuais e ainda vai desembolsar mais 120 milhões de dólares aos fiéis que sofreram abusos sexuais por parte de padres no Estado Kentucky (sul dos Estados Unidos). Trata-se do maior acordo já obtido até hoje nesse escândalo.

O acordo, revelado neste momento pelo bispo local e o advogado das vítimas, encerra uma ação coletiva contra a diocese de Covington, que cobre o centro e o leste Kentucky.

Segundo o acordo firmado entre as partes, que ainda precisa ser aprovado pelo tribunal, as vítimas receberão pagamentos que vão de 5 mil a 450 mil dólares, dependendo da magnitude do abuso sofrido. O dinheiro também cobrirá a atenção psicológica das vítimas. Quem ainda não denunciou o abuso também poderá ter acesso ao fundo.

A quantia será conseguida com a venda de propriedades da Igreja, assim como de seus investimentos e companhias de seguros, segundo comunicado divulgado pela diocese.

Uma questão global

0 clero norte-americano não está sozinho na berlinda da pedofilia religiosa. O seminário austríaco de Sankt-Poelten, situado a 80 quilômetros a oeste de Viena, revelou-se um antro de pedofilia extremamente requintado. Em novembro de 2003, foram encontradas cerca de 40 mil fotos pornográficas, de caráter pedófilo ou zoófilo, em computadores de padres do seminário.

A imprensa se referiu ao caso como Sodoma e Gomorra no seminário, ou ainda Crepúsculo de Deus em Sankt-Poelten. A revista Profil publicou fotos de dois responsáveis pelo seminário praticando relações homossexuais com alunos. O diretor, Ulrich Kuechl, e seu adjunto, Wolfgang Rothe, se demitiram de suas funções após as acusações de manterem relações sexuais com seminaristas.

As fontes policiais e eclesiásticas indicam que os religiosos levavam uma vida alegre, promovendo festas noturnas com a presença do reitor. O fato conferia um sentimento de impunidade. O diretor, que se demitiu, celebrou uma espécie de casamento de dois seminaristas homossexuais. Ele nega categoricamente, mas testemunhas confirmaram as denúncias à revista Profil. As revelações reviveram para a Igreja da Áustria os tormentos de 1995, quando o arcebispo de Viena, dom Hermann Groer, foi acusado de abusos sexuais por antigos alunos e obrigado a se retirar para o claustro.

Pedofilia na web

A rede mundial de computadores é um viveiro de pedófilos de todo o mundo. Em 2004, uma operação da Interpol rastreou 30 sites de pedofilia. Durante o período da investigação 40 mil pessoas acessaram esses endereços da web. Foi descoberto o Wonderland Club, rede de 180 pedófilos, trocando 750 mil fotos e 1.800 vídeos de pornografia infantil.

Os investigadores encontraram fotos de bebês de até três meses. A maioria das fotos era de crianças entre 8 e 10 anos. O Corpo Nacional de Polícia, da Espanha, também realizou, em 2005, uma operação importante contra a pornografia infantil na web. Pela primeira vez foram detidos os autores dos vídeos e fotografias divulgados na rede. A ampla operação resultou na prisão de 19 pessoas em Madri, Múrcia, Palma de Maiorca, Barce¬lona, Badajoz, Valência, Granada, Santander, La Coruna e Córdoba.

A origem da investigação foi a denúncia de uma moradora de Madri. Um desconhecido fizera contato com seu filho de 12 anos, via web, propondo relações sexuais por dinheiro. Em todos os casos, realizou-se a apreensão do equipamento de informática utilizado no intercâmbio pornográfico, assim como centenas de CDs e dezenas de fitas de vídeo.

O ministro do Interior qualificou a ação policial como "uma operação de sucesso contra uma das pragas sociais e éticas mais terríveis do mundo em que vivemos".