Eu acredito que poucas coisas no BDSM são mais significativas do que a coleira usada por um escravo que tem Dono... A coleira é o símbolo máximo de compromisso entre um Dominante e um escravo... É uma marca de propriedade... É uma aliança... É a prova cabal que sua submissão é reconhecida pelo seu DONO.
Ter com alguém um laço de servidão tão forte implica sempre numa entrega sem reservas... E essa entrega, por vezes, cria situações contraditórias... A sensação de que quanto mais me ajoelho aos pés dele, quanto mais o reverencio, quanto mais lhe pertenço... Mais sou livre.
Livre para me entregar sem reservas... Livre para viver essa fantasia, livre para recusar o que não mais me apetece na vida, livre para erguer a cabeça e me orgulhar de ser sua escrava.
Não me sinto diminuída por me ajoelhar aos pés de meu DONO... Pelo contrário, quando me ajoelho aos pés dele, sou a escrava que ELE escolheu...
Sou a mulher que compartilha suas fantasias... Sou a puta que lhe dá prazer... Sou a cadela que se entrega a ele, sem reservas.
Eu aprendi que o BDSM é mais do que sexo violento... No BDSM, as emoções são mil vezes mais intensas que na nossa vida baunilha... BDSM é uma via de mão dupla, é um Universo onde existe uma intensa e imensa troca de emoções... Em um relacionamento dessa grandeza você tem que confiar cegamente no outro... Você precisa confiar em outro ser humano de uma forma rara, intensa e especial... Precisa estar conectada emocionalmente, mentalmente e espiritualmente com seu DONO.
Uma escrava é envolvida pela rendição - não porque ela é fraca - ela se rende porque é forte... Se render aos pés do seu Dominante é a atitude mais corajosa na vida de uma mulher... Eu sei que pode parecer estranho, mas sinto que se posso me submeter dessa forma, consigo fazer qualquer coisa.
Por essas e por outras várias razões é que tenho orgulho da minha condição... Não da minha condição de escrava... Mas da minha condição de ser escrava DELE... Não por ter um Dono, mas por ELE o meu DONO!
A coleira me dá essa sensação de que minha alma não pertence mais somente a mim... Minha alma tem um Dono... É um pacto... E esse pacto, simbolizado pela coleira, me protege... É como um lembrete... Lembra aos outros, que não pertenço a mim mesma... Lembra a mim, a quem devo reverenciar.
Eu não acredito em muitas coisas nesse Universo... Eu não acredito em Dominantes que traem e que mentem... Eu não acredito em Dominantes que valem-se da fragilidade emocional de suas escravas para obter vantagens ilícitas... Eu não acredito em Dominantes que encoleiram uma escrava numa semana e na semana seguinte está fazendo sessões com outra sem que a escrava oficial saiba... Eu não acredito em Dominantes que traem seus irmãos de armas... Eu não acredito em submissas que fazem jogo sujo com irmãs de coleiras... Eu não acredito em submissas que embora com coleiras, ficam se oferecendo para outros DOM's.
Mas eu acredito piamente que o significado da coleira é o da escravidão consentida... A coleira é a forma mais emblemática da entrega e da submissão... Uma coleira é sagrada e hoje é a minha identidade dentro desse Universo.
E zelar pela dignidade dessa coleira é tarefa minha e do VERDUGO... Porque não deixa de haver grandeza e, inclusive, alegria em abandonar-se à vontade de um outro (como acontece com os apaixonados e os místicos) e em ver-se, enfim, aliviado de seus prazeres, interesses e complexos pessoais.
Todo dominante em sessão tem o 'poder' e ele só pode ir tão longe quanto sua escrava permitir... Todo Dominante em sessão tem o direito de ser cruel, caprichoso e manipulador... Todo Dominante tem o direito e o dever de ser firme e exigente... Mas nenhum Dominante nesse Universo tem o direito de não respeitar a mulher que se entregou a ele e lhe concedeu sua submissão.
Faça com que a tua escrava cresça... Se a fizeres diminuir ao portar sua coleira, estará diminuindo a você ainda mais, e acabará, por não ser digno, de lhe beijar os pés.
Mas acontece que a relação não se resume apenas na posse, ela implica em outros cuidados que vem no bojo e um desses exemplos é a "SAFEWORD".
A origem da "SAFEWORD", tal qual a conhecemos hoje, data de meados dos anos 80... A ideia amadurecida e popularizada através dos canais de discussão na época teve seu primeiro conceito semelhante ao de um sinal de trânsito... O bottom utilizava cores como forma de indicar ao Top o seu estado físico e emocional... No decorrer da cena, o Top perguntava a cor e o bottom através sinalizava seu estado pelo "verde, amarelo ou vermelho".
O verde tinha o significado de que estava tudo sob controle, o amarelo era sinal de algum desconforto momentâneo e o vermelho um alerta de que algo não ia bem ou a ultrapassagem dos limites previamente estabelecidos.
Essa ideia começou a ganhar corpo via internet e espalhou-se rapidamente, incorporando-se assim ao cenário de muitas comunidades e adeptos... Esses códigos evoluíram, foram adaptados e atualmente são combinados antes da cena, podendo ser uma palavra ou um gesto específico (casos em que o bottom está de mordaça ou encapuzado, por exemplo), variando em comunidades, confrarias ou parceiros que os adotam.
Portanto, para quem entrou hoje nesse universo, saiba que "SAFEWORD" é uma palavra de segurança, previamente combinada entre as partes envolvidas numa atividade BDSM, para indicar que se atingiu determinado tipo de limite, físico ou psicológico, ou que alguma coisa não estão bem, como por exemplo, cãibras, tonturas, dificuldade na respiração, etc., ou simplesmente que não se está havendo prazer e se quer parar.
O uso da "SAFEWORD" não é sinal de fraqueza e deve ser usada e respeitada, sem qualquer tipo de julgamento ou ressentimento.
O fato de existirem "SAFEWORDS" não significa uma delegação da responsabilidade ao "bottom" , portanto tem de existir uma atenção permanente por parte do "Top" aos sinais que possam denunciar que alguma coisa não está bem, como à respiração, contrações musculares, etc.
Certas práticas, física e psicologicamente mais intensas, podem conduzir a um estado de êxtase – conhecido por "subspace", em que o indivíduo perde a sensibilidade à dor e em certa medida a consciência, devido à produção excessiva de endorfinas... Nestes casos, não existe a lucidez necessária para proferir a "SAFEWORD", aumentando o risco de eventuais danos.... É nessa hora que entra a sensibilidade e a responsabilidade de quem domina, conduz e cuida.
Estar atento ao comportamento do "bottom" durante uma sessão mais intensa é fundamental e aí reside muitas vezes a importância de ambos se conhecerem profundamente... A intimidade leva à percepção e num breve olhar é possível saber quando as coisas não vão bem.
Não respeitar uma "SAFEWORD" é o pior ato que um Dominador pode cometer, toda a confiança empenhada pelo outro se quebra como cristal... É uma daquelas máculas imperdoáveis que deixam claro a ausência de responsabilidade e zelo pela posse que se tem... Nessa hora o ato pode ser entendido como abuso ou violência, ou seja, crime punível por lei.
Além da coleira que simboliza a comunhão dos parceiros e a palavra de segurança que rege o prazer sadio da cena, temos também os pilares que sustentam o BDSM, denominados de SSC, ou seja, o acrônimo de SÃO, SEGURO e CONSENSUAL.
O SSC surgiu em meados de 1983 (credita-se a David Stein) num dos relatórios do comitê GMSMA (Gay Male SM Activist é uma organização representativa no meio homossexual americano, sem fins lucrativos e comprometidos com os interesses do SM e SSC) e propunha uma conscientização sobre a necessidade de se praticar um SM seguro, desvinculando-o do comportamento autodestrutivo popularmente vinculado ao termo "sadomasoquismo".
Sua aceitação, propaganda e popularização deu-se a partir da grande Marcha de Washington pelos Direitos dos Gays e Lésbicas pelo Contingente S/M - Leather em julho de 1987 e passou a figurar em inúmeros materiais promocionais, camisetas e boletins de divulgação da GMSMA.
Na marcha de 1993 houve a consolidação durante a Conferência S/M Leather-Fetich e milhares de pessoas nos Estados Unidos e de outros países viram naquelas três palavras uma identificação imediata.
Isso também se deu pelo fato de que ninguém pôde controlar seu significado, a interpretação é individual, e sendo assim adaptou-se perfeitamente bem a grande maioria dos praticantes espalhados pelo mundo (atente-se que o BDSM é conceitual, não existem regras, tenha sempre muito cuidado com pessoas que pregam isso porque essa tese não se sustenta).
Foi uma alternativa ao RACK (acrônimo de RISK AWARE CONSENSUAL KINK, ou seja, risco assumido consensualmente para práticas não convencionais) e a Edgeplay (Denominação genérica da prática do Bdsm mais extremo, com os riscos reais podendo provocar danos físicos ou psicológicos) que desobrigavam o uso da palavra de segurança... O objetivo original não foi uma forma e nem um ideal para se definir o SM, foi uma alternativa segura e um compromisso viável entre parceiros para definir um comportamento aceitável ou não no relacionamento.
A questão do SSC é muito relativa e não pode ser vista de uma maneira simplista ou generalizada, nem tudo o que é seguro para uns o será para outros e vice-versa...
Essa relatividade causa controvérsias e opiniões emocionais de ambos os lados, porém é uma situação que geralmente só o bom senso dos envolvidos pode equacionar.
O que muitas pessoas desconhecem é que em momento algum a GMSMA definiu ou limitou o SSC, houve um movimento no sentido de proporcionar o diálogo e oferecer alternativas seguras dentro desse ambiente, mesmo porque não é razoável tentar controlar as emoções alheias nos mais diferentes cenários e nas mais diversas vertentes, a ideia original consiste em oferecer escolhas, poder optar pelo bom e pelo ruim dentro das possibilidades de cada individuo e poder viver o SM dentro de um nível aceitável de risco.
O SSC por si só não é suficiente para livrar-lhe de uma situação de risco, mas é um ponto de partida para o estabelecimento de relações com um nível de segurança maior.
SSC significa São, Seguro e Consensual... Isso quer dizer que o BDSM VERDADEIRO prima por garantir essas três letrinhas.
1) São: A relação será sadia, não colocará em risco a saúde física e mental dos envolvidos.
2) Seguro: Serão tomados cuidados para que não ocorra riscos de acidentes graves!
3) Consensual: um acordo prévio entre as partes deverá definir o que pode e o que não pode ser feito, inclusive como poderá ser feito.
Normalmente quando falo de BDSM não falo o SSC, não que não o julgue importante, é que para mim, se não for SSC, pode ser qualquer coisa, menos BDSM.
BDSM é prazer... BDSM é magia... BDSM é o mundo mágico que nos transporta a este império dos sentidos.
BDSM é orgulho... Orgulho, que sente o Dono por seu escravo... Orgulho que sente a escrava por seu DONO... De orgulho que se quebra e sem embargo permanece, transformado em prazer.
BDSM é orgasmo... Orgasmo que se prolonga até o infinito, mental, sem pressa, não físico.
BDSM é a realidade, que supera a ficção, mas não a fantasia... BDSM é vida, pois o BDSM é uma oferenda ao viver, ao desfrutar.
BDSM não é violência e nem agressão... Por que não se trata de causar dor, que é muito fácil... Trata-se de causar Prazer.
BDSM é São, Seguro e consensual.
BDSM é uma forma de amor... A mais profunda maneira de amar... Um amor que sabe das diferenças, que sabe da alegria de ter o outro, e de ser do outro.
* Só vou te bater, porque te amo*... *Só vou te espancar porque te quero*... *Só vou te fazer sofrer porque te desejo*... *Porque sei que o amor é profundo e eterno, e rima perfeitamente com dor*... *Só vou te torturar porque sei que amar é sofrer, e fazer sofrer*!
Eu vejo poesia na dor, é belo provocar dor, mas é muito mais belo gozar com a dor... Gozar pelo ato de pertencer... E não há modo melhor de pertencer do que entregar para quem se ama a própria dor... O gozo é mais fundo, mais denso, porque vem da dor de pertencer... A melhor dor é a que te dá prazer... A melhor dor é a que teu DONO te dá de presente, com devoção... Porque te propiciar a melhor dor, é a melhor e a mais intensa maneira de te amar.
Essa forma toda torta de amor me emociona e me leva as lágrimas, porque é uma verdade absoluta sobre o BDSM... E não foi dita nem por Sade e nem por Masoch...
Essa verdade absoluta foi dita a muitos, muitos anos atrás pelo Carcereiro (um veterano praticante do BDSM)... E é o no que eu acredito!
Acredito também que a vida de cada um de nós é composta por uma sucessão ininterrupta de escolhas... Fazemos escolhas todo tempo, desde as mais simples e automáticas, até as mais complexas, elaboradas e planejadas... Quanto mais maduros e conscientes nos tornamos, melhores e mais acertadas são as nossas escolhas.
E com o BDSM não é diferente... Afinal de contas, o BDSM em nossas vidas é um jogo de risco, um grande e incontrolável risco.
Incontrolável porque jamais poderemos obter garantias ou certezas referentes ao que sentimos e muito menos ao que sentem por nós... E grande porque as emoções envolvidas nesse jogo são muito intensas, poderosas e profundas... Portanto, como diz o ditado, quanto mais alto, maior pode ser o tombo!
É num relacionamento íntimo e baseado num sentimento tão complexo quanto o BDSM é que temos a oportunidade de averiguar nossa maturidade.
Por isso mesmo, admiro e procuro aprender, a cada dia, com os corajosos, aqueles que se arriscam e que apostam o melhor de si num relacionamento, apesar das possíveis perdas.
Descubro a cada dia que BDSM é um dom que deve vir acompanhado de coragem, determinação e principalmente de ética.
No BDSM, mais que em qualquer lugar precisamos exercitar nossa honestidade e superar nossos instintos mais primitivos.
Quanto conseguimos ser verdadeiros com o outro e com a gente mesmo sem desrespeitar as pessoas?... Quanto conseguimos nos colocar no lugar delas e perceber a dimensão dos seus conflitos? ... Quanto somos capazes de resistir aos nossos impulsos em nome de algo superior, mais importante e mais maduro?
BDSM é, definitivamente, uma escolha que exige responsabilidade... É verdade que todos nós cometemos erros... Mas quando o BDSM é o elo que une pessoas, independentemente de sangue, família ou obrigações sociais, é preciso tomar muito cuidado, levar muito o outro em consideração para evitar estragos permanentes e quebras dolorosas demais.
O fato é que todos nós nos questionamos, em muitos momentos, se realmente vale a pena correr tantos riscos... Afinal não são os medos que mudam, mas as atitudes que cada um toma perante os medos.
Novamente voltamos ao ponto: A vida é feita de escolhas... Todos nós podemos julgar, criticar e ferir o outro... Mas também todos nós podemos não julgar, não criticar e não ferir o outro.
Cada qual com o seu melhor, nas suas possibilidades e na sua maturidade, consciente ou não de seus objetivos, faz as suas próprias escolhas... E depois, arca com as inevitáveis consequências destas.
Que você se empenhe em ser forte a fim de poder usufruir os ganhos do BDSM na sua vida e, sobretudo que saiba administrar as dolorosas perdas e frustrações...
Porque muito mais difícil do que sobreviver a críticas é ter força e coragem o suficiente para poder atravessar o mar de intempéries e chegar do outro lado inteiro e fazer com que suas escolhas sejam respeitadas, absolutamente verdadeiras e que, principalmente, te proporcione o prazer que você merece e tanto busca.
A REAL felicidade vai surgir quando se abre mão dessa necessidade da opinião alheia e quando o coração tiver um pouco mais de autonomia sobre nossas vidas, pois desde quando alguém nesse Universo, além de você, é capaz de decidir o que lhe faz mais feliz?!
O BDSM é um universo muito especial em que o olhar estético tem outros tons... Os padrões de beleza estão diretamente associados aos fetiches que praticamos e gostamos... Por isso respire fundo, dê uma 'banana' para quem te critica e seja feliz! :)
Um beijo especial,