A Arte de Falar Mal...
De quem vamos falar mal hoje?... Embora condenável essa é uma prática 'muito' comum no nosso meio... Em graus variados, sempre se fala mal de alguém... Nas mesas dos bares da vida é comum nos sentar e 'descer a lenha' em quem está ausente... Nas rodas de conversa com amigos sempre há fofoca e comentários maldosos.
Difícil é a gente ver uma roda de conversa onde predomine o elogio, pessoas falando bem de outras e se esquecendo de falar dos defeitos... Mas isso não tem graça, não fica interessante... Causa até certo mal-estar... Geralmente quando alguém faz um comentário elogioso, ele próprio ou alguém fala logo em seguida: "Ah, os fulanos são ótimos mesmo, mas também eles tem esse outro lado assim, e assim".
Nada mais gratificante para o maledicente do que mostrar que "os fulanos não são tão bons como se pensa"!
Maledicência é o ato de falar mal das pessoas... Definição bem amena para um dos maiores flagelos da Humanidade...
Mais terrível do que uma agressão física... Muito mais do que o corpo, fere a dignidade humana e destrói existências.
Mais insidiosa do que uma epidemia, na forma de boato - eu "ouvi dizer" - alastra-se como rastilho de pólvora!... É uma arma perigosa, porém é muito fácil usá-la: basta ter maldade no coração.
Tribunal corrupto, nele o réu está, invariavelmente, ausente... É acusado, julgado e condenado, sem direito de defesa, sem contestação, sem misericórdia.
Tão devastadora e, no entanto, não implica nenhum compromisso para quem a emprega... Jamais encontraremos o autor de um boato maldoso, de uma "fofoca" comprometedora... O maledicente sempre "vende" o que "comprou".
A maledicência tem sua origem, sem dúvida, no atraso moral da criatura humana... Intelectualmente, a Humanidade atingiu culminâncias...
Chegamos à Lua, desintegramos o átomo.
Moralmente, entretanto, somos subdesenvolvidos, quase tão agressivos e inconseqüentes como os habitantes das cavernas, e, se o verniz de civilidade nos impede de usar a clava, usamos a língua.
Porque o maledicente só desopila o baço quando, insatisfeito em arranhar uma reputação, busca destruir uma história... O caluniador crava as unhas na vida de pessoas que admira com ânsia de matar.
Porque o maledicente cria fakes e se infiltra em nossos perfis para ficar 'fuçando' a intimidade alheia para suscitar o que aos 'olhos dele' não presta.
Porque o maledicente se contenta em sussurrar meias verdades... Ele aumenta, nunca inventa... Sua especialidade é imaginar... Evita o risco da calúnia com vagas insinuações... Fantasia... E espalha como fato, o que suspeita.
Por que o maledicente precisa de cúmplices... Ele só age em quadrilha... Amparado por gente de coração diminuto, espalha o vírus da notícia imprecisa... Basta esperar que a informação suspeita se espalhe pela boca rancorosa de simplórios... A maquinação da maldade não carece de sua supervisão... E o que não falta é gente baixa... Sobra quem se deleita com essas pobrezas de espírito... Ele se delicia em saber que outros terminaram o serviço sujo que ele só começou.
Porque o maledicente é dono de uma perfídia maldosa... Ele é mestre nas perguntas capciosas... Sua intenção é ouvir o segredo e deixar pontos de interrogação no ar: "Será?"; "Foi assim mesmo?" Para isso, oscila sordidamente entre a piedade e a detração... Se não consegue destruir a história da pessoa, o caluniador questiona as intenções... Gosta de fazer juízo de valores porque a subjetividade é frágil... Vale-se de seus esgotos interiores para julgar e sentenciar.
Porque o maledicente nunca quer ser justo... Sua verdade nasce da sua antipatia, quanto mais insatisfeita com o seu desafeto, mais se acentua essa tendência e isso ocorre por um fato muito simples: quando se fala mal de alguém surge à falsa sensação de que se é melhor que o outro, dá um sentimento temporário de superioridade... Nada mais é que uma necessidade de se elevar e isso é feito à custa do rebaixamento alheio.
O prazer de falar mal de alguém existe porque equilibra o mal-estar que a pessoa sente diante da alegria, do sucesso ou da competência do outro...
Admitem hoje os psicólogos que tendemos a identificar com facilidade nos outros o que existe em abundância em nós... O mal que vemos em outrem é algo do mal que mora em nosso coração.
O maldizente fatalmente será vítima da maledicência, quer porque onde estiver criará ambiente propício à disseminação de seu veneno, quer porque a Vida o situará, infalivelmente, numa posição que o sujeitará a críticas e comentários desairosos, a fim de que aprenda a respeitar o próximo.
Deixando bem claro que a ninguém compete o direito de julgar... Recomenda-se que, antes de 'procurar' ciscos nos olhos dos outros, 'tratemos de remover' a lasca de madeira que repousa tranqüila, no nosso.
Portanto, não concordamos com o tal "falem mal, mas falem de nós"... Preferimos que nos esqueçam... Até porque, quem se importa conosco de verdade - "fala para nós, não de nós"!