O artista americano Man Ray, mais conhecido por suas fotografias experimentais também enveredou pelas telas e pincéis.
Como não existe retrato autenticado de Sade, Man Ray inventou sua aparência livremente. O resultado costuma ser comparado à magem de André Breton quando velho.
O Marquês de Sade, que aparece como referência na obra, teve diversos textos condenados durante o século XIX, mas encontrou novos leitores na vanguarda parisiente nas primeiras décadas do século XX. O Marquês escrevia sobre sexualidade e tinha preferências pelo sadomasoquismo. A obra apresentada é um reconhecimento da dívida de Man Ray com o famoso pornógrafo.
Como não existe retrato autenticado de Sade, Man Ray inventou sua aparência livremente. O resultado costuma ser comparado à magem de André Breton quando velho, mas, estranhamente, considerando o fascínio do pintor pelo Marquês, o retrato é impassível e zasio, sem referências eróticas ou de sadomasoquismo.
Apenas os lábios cheios e vermelhos de Sade têm um toque de sensualidade, enquanto o resto da imagem foi pintada como se fosse construída com blocos de pedra, fazendo eco com a fachada da Bastinha, onde Sade estebe preso por vários anos.
O marquês é pintado de perfil e de seu ombro sai um caminho que leva até a Bastinha. A obra parece conter uma referência à tumultuada tomada da fortaleza no ano de 1789 e à sua posterior demolição, na forma de pedras lançadas ao chão por guindastes de madeira.
Segundo o folclore local, O Marquês de Sade incitou os acontecimentos daquele verão gritando de sua janela que os prisioneiros encarcerados na fortaleza estavam sendo assassinados, fator que teria provocado a rebelião. Depois disso o marquês foi transferido para o asilo de doentes mentais de Charenton, na noite anterior à tomada da Bastilha.
5 detalhes de Retrato Imaginário do Marquês de Sade se destacam:
1. Rosto do marquês:
Apresentado como uma estátua, apenas os olhos injetados de sangue e os lábios vermelhos de Sade humanizam o rosto, que por sua vez aparece rachado e abatido, como o edifício. São exibidas marcas de bala na fronte do ícone, o que o torna histórico e devastado.
2. Direção do olhar:
Pela linha de visão de Sade, parece que ele não olha para a Bastilha, mas sim que o marquês dirige um olhar imparcial para o cpéu acima das torres da fortaleza.
3. Bandeira da França:
Embora não esteja na pintura de maneira efetiva, o azul dos olhos de Sade contrasta com o branco tingido de sangue, evocando a bandeira tricolor da França e atraindo o olhar do espectador para o centro da composição.
4. Repetição de vermelho:
O vermelho do olho se repete nos lábios de Sade e na roda da carruagem, além do muro da fortaleza, ao fundo. Essa repetição guia o olhar do observador pelo plano da imagem.
5. Sensação de distanciamento:
As linhas quebradas dos guindastes de madeira colocam a área fora de foco, criando assim uma sensação de distanciamento do observador.
Ficha Técnica - Retrato Imaginário do Marquês de Sade:
Autor: Man Ray
Localização: Coleção particular
Ano: 1938
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 60cm x 50cm
Movimento: Surrealismo