Alguns fazem do sadomasoquismo motivo de piada. Outros o têm como um estilo de vida. Com a divulgação crescente de tal prática, aumentou o interesse e o debate. Apesar disso, o tema ainda exprime uma carga pesada e pejorativa, trazendo embutida uma idéia de crueldade e violência.
Porém, é preciso reduzir os equívocos e pré-conceitos sobre esse assunto, tão polêmico, que já foi considerado por muito tempo como doença mental. Por conta disso, algumas pessoas sentem medo de aceitar essa realidade, e de se verem como anormais. Mas, a prática do sadomasoquismo é um reconhecimento daquilo que já existe na sexualidade dos praticantes, em que a linha entre prazer e dor é bem tênue.
O termo sadismo (obtenção do prazer pela idéia de domínio, imposição do sofrimento físico e moral alheio) é derivado do Marquês de Sade, escritor e filósofo francês, que dedicou sua obra aos assuntos sexuais brutais. Já, a expressão masoquismo (tendência oposta, pela qual se busca aobtenção do prazer, ao ser vítima do domínio, ou de atos de crueldade, de humilhação, de sofrimento físico ou moral) tem inspiração no nome Leopold von Sacher-Masoch, que baseou o seu trabalho em tal comportamento.
O sadomasoquismo é uma relação entre essas tendências opostas, que representa uma prática sexual, na qual a obtenção do prazer acontece pelo ato de infligir ou sofrer dor, humilhação (verbal ou moral), ou mesmo pela dominação psíquica. Porém, é mais do que exercer uma relação de poder, é um complemento do fetiche, com regras e códigos próprios em que, não necessariamente, é preciso que a mesma pessoa possua as duas tendências.
Os praticantes são divididos em mestres e escravos. Os primeiros ocupam o papel ativo, e dedicam-se a explorar a dor e o prazer de seu escravo que, por sua vez, deve proporcionar o máximo de prazer atráves de sua dor. Ou seja, o mestre é o dominador que comanda e impõe respeito, enquanto o escravo é o submisso que aceita as ordens de forma passiva. Um único mestre pode ter vários escravos, enquanto o escravo precisa ser fiel ao seu mestre. Há uma relação de confiança entre mestre e escravo, numa violência consentida em que se acordam o que será feito. Por isso, pode-se dizer que tal prática é segura, já que os riscos de acidentes diminuem com o uso de determinadas regras.
São várias as classificações dentro do sadomasoquismo que servem para determinar a forma e o grau. Leve ou pesado é algo muito subjetivo, assim como o julgamento do que é certo ou errado. É preciso deixar claro que a forma de alcançar o prazer só pode ser definida pelos envolvidos, e tudo o que se pretende fazer é um consenso; caso contrário, seria caracterizado um abuso. Chicote, roupas de couro e máscaras são usados como acessórios. Coleiras e correntes também podem ser usadas, assim como aparelhos de tortura. Mas, é preciso separar a crueldade pura e simples do sadismo. A tortura quando é feita sem consentimento é uma agressão, e isso não ocorre entre os praticantes do sadomasoquismo. Quando a relação procura pela destruição, podemos dizer que esse é um indício de uma patologia ou mesmo de tendências suicidas.
A tortura que acontece entre os praticantes do sadomasoquismo é feita com a aprovação do parceiro, revelando uma prática sexual segura e que pode ocorrer com casais monogâmicos e estáveis, inclusive. Mas, como tudo na vida, há um limite em tal prática e ela está em ações que ofereçam riscos ou produzam lesões permanentes. De resto, aquilo que se faz entre quatro paredes, e com o consentimento dos participantes, é de interesse deles.
O principal é que os praticantes sintam-se livres para fantasiarem e realizarem seus desejos, consensualmente, de forma segura e sadia, para que o sadomasoquismo não seja uma sessão de tortura livre. É preciso estarem atentos à segurança própria e a do parceiro, para que seja possível a garantia da realização dos desejos, de forma equilibrada, tanto emocional quanto psicologicamente. Respeitar os limites é fundamental para que tal prática faça parte da sexualidade do casal. Tal limite pode ser conseguido através de palavras- chave de segurança. Isso ocorre quando, conforme previamente combinado, a pessoa pronuncia uma palavra forte e fora do contexto.