Elisa sempre foi uma mulher bem-sucedida e independente. Teve uma infância tranquila e nunca sofreu nenhum tipo de trauma sexual. Mas descobriu as delícias de ser submissa no sexo com Alex, um homem atraente e adepto do BDSM, prática que mistura bondage, dominação, sadismo e masoquismo. Ao lado dele, colocou em ação seu lado mais sombrio – e muito prazeroso. Apesar de amar o marido, ela se mantém como escrava sexual.

eu leitora

“Conheci o Alex em uma sala de bate-papo na internet, em 2005. Morávamos na mesma cidade, tínhamos 26 anos e naquele momento nosso foco total era na carreira. Ele era executivo do mercado financeiro e eu, relações-públicas em uma multinacional. Havíamos acabado de terminar namoros e estávamos 100% envolvidos com trabalhos que amávamos. Em nosso primeiro encontro, apesar de ter rolado apenas um beijo, o Alex disse que eu nunca mais seria a mesma. De alguma forma, sabia que ele estava certo, mas não imaginava que essa mudança seria tão grande. Nenhum de nós imaginava.

Ele era um moreno alto, interessante, mas não do tipo irresistível. Gostava de conversar sobre esportes e política. Passávamos horas trocando ideias e ele sempre comentava como nossa química era boa. Mas sempre continha suas emoções, controlava totalmente seus sentimentos e, descobri depois, para sempre seria assim.

Tivemos um caso por alguns meses e o sexo era intenso. Ele sabia me dominar na cama e parecia ter o controle exato do meu orgasmo. Estranhamente, tornei-me dependente dele, queria estar junto o tempo todo e isso o afastou. Desde o início de nossa relação, ele deixou claro: nada de compromisso sério.

Meses se passaram após esse afastamento e eu não conseguia tirá-lo da cabeça. Tinha sonhos eróticos com o Alex e acordava excitada. Nessas transas imaginárias, eu aparecia sempre dominada, entregue às vontades dele. Depois de ficar obcecada por semanas seguidas com essas fantasias, decidi pesquisar mais sobre dominação sexual. Já tinha ouvido falar algo sobre taras ‘sadomasô’, mas sabia muito pouco a respeito delas.

Na internet, descobri muitas páginas sobre o tema e, inclusive, o termo correto para definir a prática: BDSM, sigla para bondage, dominação, submissão, sadismo e masoquismo. Passei a entrar em grupos online que postavam fotosde mulheres amarradas e homens sendo chicoteados por suas amantes. Fiquei impressionada com um vídeo que mostrava uma garota sendo pisoteada por um homem, que perguntava: ‘A quem você pertence?’, e ela respondia, resignadamente: ‘A você!’.

Quanto mais aumentava minha curiosidade, mais assustada eu ficava comigo mesma. Achava tudo meio doentio, não era possível eu estar com tesão naquilo. Logo eu, que fui sempre tão fiel às minhas convicções feministas... Como poderia permitir (e ainda gostar) que um homem me batesse?

No entanto, não conseguia resistir àquele mundo obscuro e continuei pesquisando. Bastaram mais alguns cliques para que eu chegasse à resposta definitiva.

Encontrei um perfil do Alex em uma página sobre o BDSM. Fiquei chocada, mas, de certa forma, aliviada por descobrir ali a chave para todo aquele interesse repentino: meu ex. Tomei coragem e enviei uma mensagem para ele em sua página. ‘Não conhecia esse seu lado. Beijos.’

Ele respondeu de forma completamente natural. Contou as novidades sobre sua vida desde nosso término. Que havia começado a praticar triatlo e até participado de um torneio de ironman. Respondi que também estava em uma nova fase, tinha pedido demissão para abrir minha empresa. Sobre aquela bizarrice sexual em que ele estava metido, nenhuma palavra.

Continuamos a trocar mensagens e o ‘assunto tabu’ entrou lentamente em nossas conversas. Eram e-mails ou telefonemas nos quais ele me contava suas aventuras no BDSM. Meu interesse e o meu tesão só cresciam. Ele me mandava fotos, vídeos e até artigos científicos sobre o tema. Com o Alex, aprendi que BDSM é muito mais que sexo violento.Em uma relação dominador-submisso, a confiança mútua é essencial. O dominador – ou o ‘Dom’ – temo poder, mas ele só pode ir até onde o submisso – ou ‘Sub’ – permitir. Não há abuso, é tudo consensual.

Em um de seus e-mails, Alex me escreveu: ‘O que você sentiria se eu te desse uma surra de cinto?’. Um ano havia se passado desde o nosso primeiro encontro e não nos víamos havia meses. Resolvi dar uma chance para esse vale-tudo sexual que ele estava me propondo.

No meu apartamento, sentamos na sala, um de frente para o outro. Eu estava excitada, mas também nervosa. Nunca tinha gostado de sentir dor, me afligia pensar no que ele havia planejado.

Então o Alex se levantou, me puxou pelos cabelos e me colocou de joelhos. Mandou eu fazer sexo oral nele. Percebi que não seria a qualidade da minha performance o principal ingrediente daquele jogo. O que ele queria era tirar a prova de que eu seria obediente. E eu fui. Ele tirou o cinto e começou a me bater. Sentia os vergões se formando em minhas costas e coxas. Apesar da dor, me sentia totalmente ligada a ele. Estava adorando!

Quando o Alex foi embora, chorei. Aquela brutalidade fez com que eu me sentisse humilhada.Mas também estava morrendo de tesão, e permiti que outras sessões de tortura semelhantes viessem. Essa situação ambígua, no entanto, fez com que eu decidisse dar um basta depois de algumas semanas. Estava assustada. Não com as dores que sentia depois de apanhar do Alex, mas pela forma como eu gostava de me sentir dominada por ele.

Dois anos se passaram, eu casei com outro homem, o Paulo, que não tinha nada a ver com BDSM. Tínhamos acabado de voltar de uma viagem ótima, estávamos reformando nossa casa, tudo estava bem. Mas eu sempre pensava no Alex. E, um dia, ele reapareceu. Mandou uma mensagem contando que havia se casado, fora promovido no trabalho, iria morar em outra cidade. Queria se despedir de mime propôs um drinque.

Aceitei o convite e fui honesta com meu marido. Contei que precisava reencontrar um ex, porque as coisas tinham ficado mal resolvidas. Não entrei em detalhes sobre o tipo de relação que tinha com o Alex, mas, como sempre fomos francos um com o outro, o Paulo permitiu que eu fosse.

Assim que revi o Alex, percebi que aquela conexão sombria que tínhamos estava intacta. No bar, ele me viu de longe, andou até mim, me beijou sem hesitar e me levou para o carro. Então mandou que eu tirasse as calças. Obedeci na mesma hora. Éramos nós dois de novo. Transamos ali mesmo. Ele partiu na manhã seguinte.

Sete horas de distância nos separavam, mas seguimos com nosso caso. Ele conseguia me manter como sua escrava apesar dos 500 quilômetros de distância: por email, Skype, torpedos. Sim, porque o BDSM é muito mais que sexo. Alex continua sendo meu Dom de longe, mais concentrado em me controlar psicologicamente. Eu mando um torpedo perguntando se posso ir à academia e é ele quem vai dizer se posso ir ou não. Por Skype, ele consegue me fazer chegar ao orgasmo ou simplesmente interromper quando estou quase lá.

Nós sabemos que essa relação não é justa com nossos parceiros. Eu, felizmente, sou capaz de falar abertamente com meu marido. Depois desse primeiro reencontro com o Alex, fizemos terapia de casal e o Paulo aceitou a ideia de que nosso casamento fosse aberto. Foi difícil, mas ele entendeu a natureza da outra relação. Eu amo o Paulo, adoro fazer sexo com ele, mas de uma forma bem diferente. Meu marido é a luz da minha vida, o Alex é a treva.

Para ele é complicado. Sua mulher não faz ideia desse seu lado negro. Outro dia, peguei um avião e fui encontrá-lo. A mulher tinha viajado e seria um fim de semana só para nós dois. Quando o recebi no quarto do hotel em que estava hospedada, o Alex foi logo mandando que eu ficasse de joelhos. Tirou o cinto e me bateu.
Nós temos um código de segurança, uma palavra a que eu devo recorrer caso não esteja suportando a tortura. Nunca a usei. Em um relacionamento Dom-Sub, é preciso
estabelecer uma forma profunda de confiança que raramente é explorada entre as pessoas.Um Dom é viciado em alguém disposto a se entregar totalmente a ele. O Sub é obcecado com a rendição, e não é por ser uma pessoa fraca. Estamos dispostos a chegar a um ponto em que ninguém é capaz. A dor física é só uma pequena parte – o importante é sobreviver a ela. Sei que pode soar estranho, mas sinto que, como posso vencer a dor, sou capaz de fazer qualquer coisa.

Por quatro anos, nunca contei a ninguém sobre o Alex. Não queria ser julgada, nem expor meu marido. Um dia resolvi me abrir com a minha melhor amiga. Deixei que ela lesse algumas mensagens do Alex, nas quais decidia a roupa que eu deveria usar no trabalho e as proibições que fazia em minha rotina. Ela ficou escandalizada, não entendia como eu aceitava ser dominada assim e me disse que o Alex era um agressor que deveria ser denunciado à polícia. Tentei explicar que, em sua vida normal, ele seria incapaz de bater em uma mulher e que, inclusive, fazia doações a uma entidade que atua contra a violência doméstica. Mas foi em vão. Éramos amigas havia 18 anos, achei que poderia confiar nela. Em vez disso, ela disse que tinha nojo de mim. Não nos falamos há quase um ano.

Sou uma pessoa comum, mas com um segredo sujo. Tenho um casamento feliz há seis anos e um amante sadomasoquista. O Alex tornou-se um empresário rico e até conservador. Vive em uma casa enorme em um condomínio fechado, joga golfe, corre maratonas e é o marido perfeito para sua mulher. Sinto culpa por ela, mas assumo: sou egoísta e quero preservar minha relação como Alex.

As pessoas acham que ser um Dom ou um Sub é coisa de gente problemática, que sofreu abuso na infância. Que bobagem! Subs não são capachos. Tenho dois funcionários e sou uma chefe bem mandona.

É difícil imaginar minha vida sem o Alex. A distância é um problema, então me apego aos momentos que passamos juntos. Ultimamente, me excito ao lembrar de nosso último encontro. Eu me atrasei e meu Dom me beliscou com tanta força que quase gritei de dor. ‘Você vai pagar caro por ter me feito esperar.’ ‘Faça o que quiser’, respondi. E, naquele dia, eu não queria que ele pegasse leve.”

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