A prática do casal, destacam especialistas, tem de partir inicialmente do consentimento e da busca pelo prazer mútuo. Mulheres têm de estar atentas para não se sujeitarem a casos de violência, alerta defensora pública.

Muitas vezes tratado como tabu, o sadomasoquismo é uma das tramas do livro Cinquenta Tons de Cinza, lançado este ano como filme, e alerta para o risco da violência doméstica contra a mulher. O que pode, para alguns casais, ficar apenas na casa da fantasia, pode, para outros, se mostrar um risco. Quando o consentimento ultrapassa os limites da vontade, a prática, que deveria se ater ao prazer mútuo, passa à tipificação do crime. E a situação pode ser comum, alerta a defensora pública Elizabeth Chagas, membro do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da Defensoria Pública do Estado do Ceará (Nudem).

Nos moldes de uma relação machista e de servidão, a mulher pode, inconscientemente, se obrigar a uma atitude que a violenta, explica a defensora. “A mulher se coloca nesse papel de submissa, e isso pode se reproduzir em muita violência”. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Olinda Braga cita que há casos em que o marido, na realização do desejo, ultrapassa os pontos extremos colocados pela parceira. “E isso foi o momento da separação. São os sujeitos envolvidos que definem o limite”. Outra, ele aponta, colocava a situação a que se submetia a contragosto como “o jeito dele de me amar”.

Numa situação de violência doméstica, segundo José Olinda, podem ser identificado traços de uma relação sadomasoquista. “O sadomasoquismo acontece em outros ambientes que não só o sexo. Não se pode não imaginar que, quando o indivíduo apanha, não há o gozo, e o outro, quando bate, também não há”. De acordo com o grau, a prática, ressalta o professor, pode ser caracterizada dentro da normalidade. “Quando atenta contra a dignidade do outro é que é considerado anormal”. A fixação em uma prática extrema - e o condicionamento do prazer a somente isso - é que pode ser considerado uma psicopatologia, explica.

A prática

Por mais que o sadomasoquismo possa parecer “pouco convencional”, ressalta o professor, a prática pode ser considerada comum dependendo da gradação - ele existe desde uma prática no âmbito da fantasia até um extremo em que há sofrimento grave. “Isso é praticado por pessoas normais dentro do cotidiano, nas nossas casas, até por nós mesmos, e não são pessoas doentes”.

O consentimento é a chave para a realização do sadomasoquismo, ressalta Olinda, mas não só ele. “Foge do limite também quando atenta contra a vida, a liberdade e a integridade da pessoa”. Mesmo que as pessoas envolvidas estejam de acordo com a realização, ele pode ultrapassar um “limite moral aceitável”. Os limites recaem, também, no modo como cada indivíduo compreende e significa a relação.

 

Saiba mais

Bondage

Imobilização do parceiro com estilos de amarrações. Há técnicas de restrição de sentidos (venda nos olhos).

Disciplina

Consiste em obrigar ou treinar o parceiro a adotar condutas em decorrência de uma teimosia proposital.

Dominação e submissão

Dominante e submisso estabelecem o fetiche pelo prazer de servir o outro.

Sadomasoquismo

Prazer decorrente do sofrimento do outro, e o masoquismo é o contrário: o gosto de sentir a dor - no âmbito físico ou psíquico.

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