Falar sobre relações virtuais é um assunto muito controverso. Alguns entendem que é apenas uma forma incompleta ou preliminar para um relacionamento BDSM, outros afirmam que é uma alternativa válida e que se pode ter um relacionamento prazeroso com castigos virtuais e psicológicos. Disponibilizo abaixo um texto sobre o tema para que você tire as suas próprias conclusões:


Relações via web

A experiência amorosa via web - world wide web (rede mundial de computadores) - acontece nos sites dedicados ao amor. Esses endereços virtuais possuem elementos multimídia que permitem o envio de imagens, anúncios à procura de parceiros virtuais ou reais, rápidos ou duradouros, ofertas de prostituição e diálogos on-line. Além dos sites há os grupos de discussão. Neles os próprios usuários estabelecem os temas para o debate. Em paralelo há oferecimento de encontros, bem como imagens eróticas. O e-mail também permite a relação direta, antes do primeiro contato pessoal.

Os programas de chat possibilitam que as pessoas dialoguem em tempo real, em canais específicos, com temas variados. Os diálogos podem ser abertos ou privados, ou seja, com todo o grupo vendo ou reservado aos interessados. Há opção de anonimato. Aqueles que possuem microfone e câmera podem estabelecer um diálogo audiovisual. No início da primeira década do terceiro milênio essa tecnologia de som e imagem ainda não é perfeita.

Outra variação de chat utiliza imagens ambientes com avatares. As salas são fotos de ambientes, com pessoas reais ou criadas, que dão a idéia de que o indivíduo ali está. Se é grupo, há várias imagens de pessoas ou suas representações. É possível botar qualquer foto de pessoa, coisa ou bicho, se comunicando entre si.

Os relacionamentos via web podem ser classificados nas seguintes categorias: relacionamentos reais e relacionamentos virtuais; e, em seguida, relacionamentos efêmeros ou instáveis e relacionamentos duradouros ou estáveis. Dessas duas categorias podemos inferir outras quatro: reais duradouras ou efêmeras; e virtuais duradouras ou efêmeras Explicando melhor: o usuário pode partir de um contato na Internet para um encontre real, de carne e osso, que pode visar apenas a um contato breve ou algo mais sério. A outra opção é que o relacionamento continue virtual, e neste caso ele poderá ser breve oi duradouro, assim como o real.

As relações, estabelecidas na rede de computadores (web), devem ser vistas como uma nova forma, completa, plena, de relacionamento, e não como algo inconcluso. Sua evolução para um encontro de carne e osso deve ser entendida como a derivação de um patamar a outro.

Conexões ardentes

Ao entrar na rede, a primeira transformação que se impõe é a mudança de percepção sobre aquilo que somos e aquilo que consideramos que não somos, é o que ensina o professor da UFRJ, Henrique Antoun, especialista em teoria da comunicação. Em sua percepção, as redes mantidas pelas novas tecnologias digitais (web e celulares) repartem as coisas de modo diferente daquele momento em que só existia o espaço real. Até agora todas as referências vinham da família, da escola ou do trabalho.

As redes alteraram essa percepção, colocando pessoas de diferentes territórios em contato. A cultura da auto-estima predomina. É preciso buscar aquilo que somos. Há uma separação entre o que é próprio e o que é acidental. Não é mais a natureza que vai dizer o que cada um é. Aquilo que se está disposto a realizar é que é determinante. O espaço concreto não pode se subdividir infinitamente. O espaço virtual se divide na velocidade de seu desejo e de seu afeto. Ele acompanha, porque é virtual. É possível fazer tudo ao mesmo tempo. Passa a ser normal dividir o espaço real da mesma forma.

Os lugares na internet não são secretos, mas convivem com suas funções. Qualquer usuário pode, por exemplo, entrar na sala de sexo; lá estão as pessoas com o mesmo interesse. Não há mais segredo. É o fim da disciplina. Segundo Henrique, o mundo virtual modela o real. Quebra qualquer tentativa de enquadramento tradicional. Dentro de um chat na web, qualquer um pode simular qualquer coisa. Pode ser hetero ou homo, macho ou fêmea, ativo ou passivo. É possível assumir diversas identidades, na forma de nicknames (apelidos) e abandoná-las sem culpa nem conseqüências. A simulação do mundo virtual permite, inclusive, que experimentemos para encontrar a configuração de personalidade que mais nos é adequada.

Virtual, coletivo e hedonista

Cresce uma tendência muito forte de coletivos e grupos terem mais importância do que qualquer outra coisa nas mídias virtuais, como os interessados em swing o sexo grupal. Há hedonismo na web. Todos querem o maior prazer que possam conseguir e ele deve estar de acordo com aquilo que cada um acha que é sua destinação. Mas, ao mesmo tempo, o usuário está em grupos como indivíduo e não em sua individualidade. O usuário quase sempre pertence a vários grupos dentro dos quais se realiza. Disso ninguém abre mão em favor de nenhuma atitude individual. Exigências de fidelidade ficam de fora. É muito mais um jogo coletivo.

Sexo na web

O sexo na web não é masturbação, porque nele interagimos com o outro. A regra que se estabelece é: não importa o que a família, a cultura e a natureza fizeram com você. A partir de seu desejo, tudo pode ser refeito. A tecnologia promete isso. Naquele momento, o mundo cibernético e o mundo real são um só. O bem-estar afetivo pode ser conseguido na web, por qualquer um. Ele não precisa mais estar coincidindo com o mundo físico.

Márcio Souza Gonçalves, professor de teoria da comunicação, da Uerj, defende a idéia de que não é possível julgar negativamente os relacionamentos virtuais em favor dos reais, porque nos dois casos estamos diante de processos culturais e sociais de construção de uma experiência que nunca é natural. A análise da história do amor revela que os comportamentos amorosos humanos, as representações ligadas a eles e as sensibilidades que os sustentam são extremamente variados, sendo impossível encontrar uma forma universal de amor. Grandes diferenças distinguem o amor vivido na Grécia Antiga, na Idade Média e na modernidade.

Na pesquisa de Márcio, inúmeros relatos indicam que as sensações físicas experimentadas são tão reais quanto as de um relacionamento não-virtual. "A ausência do encontro face a face e de contato físico não implica a exclusão radical do corpo: ainda que, não tendo acesso ao corpo do parceiro, cada um dos envolvidos tem um corpo que sente, sofre, se emociona e goza", diz ele.

O que o autor sustenta, em resumo, é que os amores virtuais não devem ser entendidos como amores incompletos, artificiais, desviantes, menores, e sim como amores plenos, ainda que de um tipo novo e estranho. A história do amor é a de uma sucessão de artifícios e neste momento estamos diante de mais um, tão artificial quanto todos os outros.

Operando em trânsito

Há todo tipo de sexo na web. Os já conhecidos e outros que estão em uso no norte da Europa, via celular ou rede sem fio, para quem vive em trânsito. É um misto de web e real, que opera em espaço híbrido. São serviços para quem viaja muito e fica no máximo uma ou duas semanas em cada lugar.

No passado recente, um viajante dessa categoria estava reduzido a espaços e tempos mortos. Eles costumam evitar relações com a própria equipe, que é trabalho, e se restringem à prostituição. Hoje, com o celular ligado à web, esse ser em movimento pode conectar os grupos do lugar onde ele está e reproduzir todos os contatos de uma vida normal.

São empresas, como a Lovecat (Ducon), em que se criam perfis, recebe-se um nickname e se expõem os gostos: comida, recreação, sexo, temas de conversa etc. via celular (short messages). O viajante é avisado das pessoas naquela região que têm afinidades com ele e onde encontrá-las.

Cybersex

Um homem de 80 anos manteve um longo caso amoroso com outro homem de Nova Jersey que, por sua vez, fingia ser uma menina do Tennessee, Estados Unidos. A história engraçada é contada por Sherry Turkle, professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Ela acredita que problemas sérios poderiam ocorrer a partir dessa situação. "E se em lugar do octogenário houvesse um menor brincalhão? Estaríamos falando sobre aliciamento", pergunta Turkle. "E o homem de Nova Jersey, como se sentiria, ciente de que mantivera contatos sexuais com um adolescente?"

Turkle, autora de Life on the Screen (A vida na tela: Identidade na web), estuda as nuances da interatividade erótica e romântica on-line. Ela pesquisa também os fenômenos cybersex e cybermasturbation, que são conhecidos como minissexo. "Estes atos podem, rapidamente, se transformar em experiências de intimidade compartilhada com outro ser humano. Há algo a estudar aí", diz Turkle.

A forma de lidar com crianças e adolescentes na web é uma das preocupações dessa cientista. "Agora, eu penso que as crianças começarão na web da mesma maneira que nós mesmos, quando menores, tínhamos em mãos a Penthouse e a Playboy. Elas precisam saber onde deixa de ser uma curiosidade e passa a ser uma transgressão. Eu não penso que deva haver uma barreira total. Há mais sentido em dividir o mundo da web entre lugares onde as crianças podem estar e onde elas não devem." Sherry distingue as culturas da simulação e da estimulação, embora elas se confundam on-line. Há um grau de erotismo na web, em que simular passa a ser o grande estímulo.

Sexo on-line: dados

A pesquisa realizada por uma rede de notícias americana, MSNBC, com 38 mil usuários da web, concluiu que 10% deles estavam viciados em sexo on-line, ou seja, passam 15% de seu tempo na rede em atividade sexual.

Estima-se que 64% de todos os sites sejam de conteúdo sexual. Estudos da revista Fortune levantaram dados de que funcionários das 500 maiores empresas norte-americanas passavam a maior parte de seu tempo no trabalho em sites de sexo. Houve demissões. Quanto aos relacionamentos via web, a American Psychological Association levantou que 60% dos usuários entrevistados mentem a idade, 30% troca a etnia e um grande número muda de sexo. Vinte e quatro por cento dos usuários de Viagra o utilizam para masturbação on-line.

Por fim, o reconhecimento de que começamos a viver a era do sexo incorpóreo é a escolha de Aki Ross, atriz virtual do filme e do jogo Final Fantasy, para a capa da revista Máxim, na edição especial "Maiores estrelas em ascensão". O primeiro símbolo sexual virtual do terceiro milênio.