O "SUBSPACE" é um fenômeno que ocorre algumas vezes com o bottom durante uma cena BDSM. É quando, naquele momento, por alguma questão de estresse físico, emocional, desequilíbrio mental, cansaço ou gatilhos ativados durante a cena que podem afetar o psicológico. E por alguma razão, o cérebro começa a trabalhar e atuar no sentido de autopreservação do corpo humano. É onde ele vai descarregar substâncias químicas no organismo, como dopamina, noradrenalina, acetilcolina, serotonina, endorfina. Todas essas substâncias são neurotransmissores.
Primeiro, vou explicar o que são neurotransmissores
Neurotransmissores são substâncias químicas que fazem a conexão entre os neurônios. Existem duas classes de neurotransmissores: a classe dos excitatórios e a classe dos inibitórios. Os excitatórios, no caso, estou falando especificamente da adrenalina. Adrenalina é um neurotransmissor excitatório porque ela excita os neurônios, ao contrário da endorfina que modula e controla a comunicação dos neurônios. A adrenalina desempenha um papel crucial no organismo, sendo liberada na corrente sanguínea em situações que exigem preparo para luta ou fuga, dependendo do contexto. Seu efeito é notável, aumentando a força muscular, aguçando reflexos, dilatando a pupila, induzindo sudorese e reduzindo a salivação. Essas respostas físicas são todas causadas pela ação da adrenalina, que coloca o corpo em posição de ataque ou defesa, potencializando as reações em situações de estresse.
Em contraste, a endorfina é conhecida como um hormônio do prazer e da dor. Este hormônio desempenha um papel interessante, atuando como um regulador da comunicação nervosa. Em momentos de relaxamento e prazer, a endorfina está em ação, proporcionando sensações agradáveis. No entanto, ela também atua como um amortecedor da dor, camuflando e minimizando a sensação de agressão ou desconforto. Essa dualidade justifica a designação de hormônio do prazer e da dor.
Durante a prática esportiva, a estimulação da quantidade de endorfinas no organismo é comum. Muitas pessoas experimentam uma sensação de bem-estar e prazer durante e após o exercício, devido à liberação de endorfinas.
Algumas pessoas podem até se tornar viciadas nessa sensação, levando-as a praticar esportes com intensidade excessiva. Essa reação pode ser comparada a um vício, já que a endorfina pode ter propriedades viciantes para algumas pessoas.
A endorfina é comumente referida como a "droga do prazer" e a "droga da dor". Em um exemplo prático, considere um lutador de MMA. Durante a luta, ele experimenta uma liberação simultânea de endorfina e adrenalina, pois esses dois hormônios são complementares. A quantidade desses hormônios despejada no organismo modifica sua atuação. No contexto de uma luta de MMA, o lutador recebe uma descarga de adrenalina, proporcionando reflexos rápidos e estimulando ação agressiva devido à situação de risco. Ao mesmo tempo, a endorfina atua camuflando a dor que ele possa estar sentindo naquele momento.
Outro exemplo seria um jogador de futebol durante uma partida. Enquanto está em campo, ele está ativo e aparentemente não sentindo dor. As dores resultantes de contusões, no entanto, tornam-se aparentes após o jogo, quando a liberação de endorfina diminui. Durante o jogo, o corpo aquecido do jogador mascara a dor, uma vez que o cérebro não a percebe imediatamente devido à ação da endorfina. A consciência da dor só se manifesta quando a endorfina não está mais em ação.
Pessoas que sofrem traumatismo ou amputação em um acidente muitas vezes recebem uma significativa descarga de endorfina, atuando como uma medida de autoproteção do organismo. Muitas delas podem não sentir dor imediatamente, experimentando-a minutos depois, enquanto outras podem sentir a dor, porém de forma minimizada. O papel da endorfina é camuflar a dor, atrasando a transmissão da informação da dor para o cérebro, destacando assim seu papel como um neurotransmissor modulador. Vale mencionar que a endorfina é produzida pela hipófise, enquanto a adrenalina é produzida pelas glândulas suprarrenais, mas ambas desempenham funções na comunicação com os neurônios.
Essa distinção entre os hormônios destaca que, embora endorfina e adrenalina sejam complementares, elas têm funções diferentes. Em uma cena BDSM, em devidas proporções e sem comparar com um acidente ou traumatismo, fala-se das descargas químicas que podem resultar em um "SUBSPACE". Essa experiência envolve diversas sensações, algumas por exemplo, de viagem fora do corpo, de droga, de desconexão e de prazer, sendo o papel principal desempenhado pela endorfina.
Durante esse momento, outros neurotransmissores também estão em ação, como dopamina e serotonina. É crucial notar que este coquetel de neurotransmissores não é uniforme e varia entre as pessoas. Dependendo de cada indivíduo, haverá uma descarga maior de um neurotransmissor em comparação com outro, contribuindo para a experiência única de cada pessoa. Assim, a sensação resultante pode variar, indo desde um extremo prazer até uma resposta menos intensa, dependendo da quantidade de neurotransmissor liberada na corrente sanguínea. Essa é a razão de você ouvir diversas narrativas, cada qual diferente da outra, de pessoas que passaram por esse processo.
Algumas pessoas podem confundir o efeito da adrenalina, presumindo que ela seja um analgésico, pois é encontrada em composições de alguns medicamentos. Entretanto, a adrenalina atua como vasoconstritor, o que significa que ela diminui o fluxo sanguíneo na região em que é aplicada, justificando sua presença em medicamentos, especialmente em combinação com analgésicos. Essa adição visa prolongar o tempo de resposta do analgésico na área afetada.
A presença de adrenalina em alguns medicamentos não é universal, uma vez que pessoas hipertensas podem ser suscetíveis a problemas relacionados à adrenalina. Não todos os medicamentos analgésicos, sejam cirúrgicos ou não, contêm adrenalina. Por exemplo, ao visitar um dentista qualificado, é comum que ele questione sobre problemas de hipertensão ou outros, pois a adrenalina pode desencadear problemas cardíacos em indivíduos hipertensos, ativando os batimentos cardíacos e colocando a pessoa em estado de alerta.
É importante entender que a adrenalina não é um analgésico por si só; ela age reduzindo o fluxo sanguíneo para prolongar a ação dos analgésicos. A precaução de profissionais ao questionar a aptidão do paciente para receber adrenalina é fundamental, pois essa substância não é indicada para todos, especialmente para aqueles com problemas cardíacos.
Enquanto a adrenalina desencadeia o estado de alerta e aceleração dos batimentos cardíacos, o neurotransmissor associado ao relaxamento, prazer e camuflagem da dor é a endorfina. Vale ressaltar que este é um tópico complexo e extenso, e outros neurotransmissores também desempenham papéis importantes nesse contexto. Essa explicação abordou superficialmente dois neurotransmissores devido a complexidade do tema. A endorfina e a adrenalina.
A questão de estar em "SUBSPACE" e não sentir dor imediatamente levanta preocupações válidas, e as respostas dependem de alguns fatores.
Primeiramente, se a pessoa em "SUBSPACE" não está sentindo a dor que normalmente sentiria, há o risco de ela não perceber que ultrapassou seus limites. As consequências podem surgir mais tarde, quando o efeito da endorfina diminuir. Isso cria a possibilidade de ultrapassar limites sem perceber no momento, o que pode resultar em desconforto ou lesões posteriores.
Por outro lado, se a prática no "SUBSPACE" respeitar os limites naturais do bottom, a experiência pode ser prazerosa e não necessariamente representar um risco. No entanto, o cuidado deve ser exercido para garantir que o TOP esteja ciente dos limites do bottom quando este estiver em "SUBSPACE". A comunicação e o consentimento contínuos são fundamentais para evitar ultrapassar limites não intencionais.
O risco associado ao "SUBSPACE" reside no fato de que o bottom pode estar tão imerso na sensação prazerosa que não percebe que seus limites estão sendo ultrapassados. Isso pode tornar difícil ou até impossível usar a safeword (palavra de segurança) para interromper a cena. Portanto, é crucial que o TOP esteja atento aos sinais e mantenha uma abordagem moderada para evitar efeitos colaterais indesejados.
Compreender o "SUBSPACE" é essencial para garantir que a prática esteja alinhada com os princípios do SSC (Seguro, Sadio e Consensual) minimizando os riscos potenciais associados a essa experiência intensa.
No momento em que o bottom está em "SUBSPACE", ele está em um estado alterado e fora de seu estado normal. Embora o SSC (Seguro, Sadio e Consensual) seja fundamental, a segurança também implica reconhecer e respeitar o estado emocional e físico do parceiro.
É absolutamente razoável e, na verdade, responsável, interromper uma cena quando o parceiro está em "SUBSPACE". Mesmo que haja consensualidade, a segurança deve ser a principal prioridade. Ignorar o nível de entorpecimento associado ao "SUBSPACE" pode ser comparado a realizar uma cena com uma pessoa alcoolizada ou drogada, já que ela não está em seu estado normal.
Cada pessoa reage de maneira diferente ao "SUBSPACE", e o que pode ser confortável para alguns pode ser desconfortável ou até arriscado para outros.
O TOP reconhecer que o "SUBSPACE" é um estado alterado e que nem todas as pessoas reagem da mesma forma é essencial para manter uma prática segura e consensual no contexto BDSM.
Portanto, após as explicações acima e os motivos da experiência no "SUBSPACE", temos o breve resumo abaixo:
1. A adrenalina como hormônio excitatório: Essa substância desempenha um papel crucial no organismo, liberando-se na corrente sanguínea em momentos que exigem preparo para luta ou fuga. Seus efeitos notáveis incluem aumento da força muscular, aguçamento de reflexos, dilatação da pupila, indução de sudorese e redução da salivação. Essas respostas físicas, todas causadas pela ação da adrenalina, posicionam o corpo para ataque ou defesa, intensificando as reações em situações de estresse.
2. Endorfina como anestésico poderoso: A endorfina, liberada durante momentos de estresse, atua como um anestésico poderoso, proporcionando ao corpo uma resistência à dor aumentada. No contexto BDSM, isso pode resultar em uma pessoa ultrapassando seus limites sem perceber, pois a dor está temporariamente anestesiada.
3. Riscos de ultrapassar limites no "SUBSPACE": Se uma pessoa ultrapassa seus limites enquanto está em "SUBSPACE", as consequências podem vir mais tarde, quando o efeito da endorfina diminuir. O bottom pode estar sujeito a lesões sem perceber na hora, e é crucial que o TOP esteja atento aos sinais e reações do bottom.
4. Diferentes reações ao "SUBSPACE": Cada pessoa reage de maneira única ao "SUBSPACE", influenciada pela quantidade de neurotransmissores liberados, como serotonina, dopamina e acetilcolina. Alguns podem sentir uma sensação de estar fora do corpo, enquanto outros experimentam euforia. A compreensão dessas reações é fundamental para interromper a cena de forma adequada.
5. Importância de observar o comportamento: O TOP deve observar o comportamento do bottom durante o "SUBSPACE", prestando atenção a reações retardadas, desconexão com a realidade e outros sinais. Agir de forma abusiva ignorando essas reações pode resultar em riscos significativos.
6. Paralelo com substâncias psicoativas: Comparou-se a prática com uma pessoa em "SUBSPACE" à interação com alguém drogado ou embriagado. As reações podem ser mais lentas, e a pessoa pode não conseguir usar a palavra de segurança adequadamente.
7. Importância do conhecimento e sensibilidade: Ter um conhecimento aprofundado das reações individuais ao "SUBSPACE", assim como estar atento às nuances emocionais e físicas, é essencial para garantir uma prática segura, consensual e respeitosa no BDSM.