Dominação é a capacidade de fazer o outro agir da maneira que você quer.
Eu vejo dois tipos de dominação muito freqüentes dentro do SM, a “consentida” (que é regida pelo São Seguro e Consensual, onde todas as limitações são respeitadas) e a velada (que na maior parte das vezes não é a politicamente correta).
A “consentida” é aquela que é acordada antes do jogo. Está absolutamente dentro do consensual, é a dominação existente na cena e está sujeita a interrupção no momento em que a parte submissa solicita a palavra de segurança. Esse tipo de dominação é mais teatralizado.
O papel dominante começa e termina dentro da cena BDSM, visa apenas à satisfação de ambos naquele momento. Cada qual sabe onde começa e termina o jogo.
Nesse modelo de dominação, fica implícito que o poder está nas mãos do submisso embora a representação mostre o contrário. É um jogo com regras claras, em que o Dominador está subordinado às mesmas, cabendo a submissa evoluí-lo ou encerrá-lo no momento que achar conveniente. É uma relação combinada, em que as agressões físicas e humilhações psicológicas são preestabelecidas e devidamente respeitadas quando a palavra de segurança é evocada.
Qualquer deslize nesse quesito compromete a natureza moral do Dominador diante da proposta inicial.
Já a dominação “velada” é quase invisível, ela não passa necessariamente por acordos ou consensualidade explícita, ela é exercida de forma psicológica através de mecanismos de manipulação, sedução ou métodos às vezes questionáveis. Não existem regras claras, mas um jogo coercivo de caráter emocional.
Esse tipo de atitude dá realmente o poder a quem o utiliza. Não existe total dominação sem que ela passe pela tibieza da alma de quem se submete, a entrega irrestrita percorre esses caminhos, tal qual o romance História de Ó, em que a personagem submete-se a todo tipo de degradação e sevícias por amor ao parceiro e não propriamente pelo prazer implícito no ato masoquista.
Essa forma de ação tem um fim, o Dominador conquista uma dominação ilimitada quando o lado mais forte envolve emocionalmente o mais fraco, ele realmente tem a submissa em suas mãos de forma plena e absoluta.
Evidentemente, de certa maneira, burla-se aí o SSC, pois uma entrega passional passa definitivamente para o outro qualquer tipo de controle sobre a própria vida e, nessas condições, admite-se tudo por paixão, amor ou dependência afetiva pelo parceiro.
Cabe aos envolvidos ter sempre uma visão clara do prazer que buscam, pois essa encruzilhada existe e muitas vezes o sabor do mel confunde-se o sabor do fel.