Muitas pessoas pregam muito isso com uma ênfase e uma determinação que impressiona quem entra no universo BDSM. Porém, tenho uma opinião diferente.
Eu olho muito para a questão evolutiva nesse processo, levamos milhões de anos para chegarmos ao Homo Sapiens, passamos por todo um período mutante na questão biológica e de repente a humanidade teve um crescimento intelectual fantástico, em apenas 3000 anos saímos das tribos e chegamos ao espaço. Sob o ponto de vista evolutivo das espécies esse espaço temporal é um grão de areia.
Desenvolvemos-nos intelectualmente, mas biologicamente não acompanhamos essa mudança na mesma velocidade, ainda temos nossos instintos primais que estão sempre latentes. A mulher de hoje ainda tem dentro de si a fêmea primitiva e por mais que queira sublimar isso, num dado momento, ela reaparece.
Nossos instintos primais são regulados por leis que nos fazem agir de acordo com as necessidades do homem moderno, mas em determinadas circunstâncias somos remetidos ao comportamento do tempo das cavernas. Você quer, você toma, você estupra e você mata. Isso sempre foi característico do animal humano que hoje vive sob pressão para sublimar esses sentimentos e adaptar-se ao habitat moderno. De um lado nossa evolução intelectual criou leis que controlam e inibem essas emoções, mas nosso lado biológico é passível de recaídas diante de condições específicas. Por mais que se tente obter essa igualdade entre homens e mulheres nos dias de hoje, acabamos por ver sempre um dos lados frustrados com esse relacionamento.
No meu modo de ver, isso acontece porque somos diferentes nas reações instintivas e sempre acabamos evocando comportamentos de nossos antepassados.
O sexo relaciona-se à autoridade e não a reprodução, a compreensão disso implica em reconhecer os papéis principais da fêmea e do macho. Embora o ato aponte para uma participação conjunta, é justo afirmar que para a fêmea o papel é essencialmente submisso, enquanto que para o macho é essencialmente agressivo. Isso não se deve à força masculina e sim à natureza do ato sexual. É o macho que cobre a fêmea, é ele quem invade, penetra e não o contrário.
É nessa questão que baseio meu ponto de vista. Eu até acredito em Supremacia Feminina como um jogo de salão, como um passatempo, uma diversão. Mas numa relação emocional entre um homem e uma mulher, é muito óbvio que aparece o lado feminino, a sublimação e a entrega que é inerente à sua natureza. Falo de uma mulher comum, sem questões psicológicas mal resolvidas e sem a visão rancorosa que normalmente tem as pessoas que saem de uma relação beligerante. Também excluo as homossexuais, pois aí realmente as coisas têm de ser vistas por um outro enfoque e até justifica-se o desprezo pela imagem masculina.
Dentro desse arquétipo usual de “Rainhas” que observamos no universo sadomasoquista, nos deparamos com a literatura de Masoch. Quem teve a oportunidade de ler “Vênus das Peles” saberá do que estou falando. É o típico caso da mulher forjada pelo escravo que fantasiava uma Rainha e manipulando sua amada conseguiu o intento. Mas num dado momento, ela apaixona-se por outro homem e os papéis mudam. A tal ponto do escravo ser repassado, desfazendo-se assim seu castelo de cartas.
Hoje em dia, o que se pode observar não é propriamente uma dominação e sim uma entrega voluntária de indivíduos disputando uma Rainha e repetindo o mesmo padrão tão bem colocado por Masoch.
Sob o ponto de vista feminino de uma mulher de meia idade, é até aceitável esse tipo de situação, pois o assédio existente nesse papel seguramente não se repete fora dele por razões obvias. Mas por outro lado, raramente ouve-se falar de relacionamentos sexuais intensos entre esses pares por uma razão muito simples. Uma mulher não respeita como companheiro um homem que rasteja, que se submete a humilhações e que tem a auto-estima no chão.
Não é o arquétipo ideal, o que no fundo elas buscam é um companheiro forte, que as proteja e cuide, que saiba ser gentil, mas que também seja enérgico quando necessário e que lhes dê segurança emocional.
Muitas acabam sofrendo por terem incorporado de tal forma esse modelo, que resistem aos seus mais puros sentimentos primitivos para manter um suposto direito de igualdade que nada lhes trás de gratificante. Vivem em função de uma imagem e do medo de perder a auto-estima ou às vezes vêem a entrega como uma derrota para o sexo oposto, como se isso fosse uma competição.
É o espólio da emancipação feminina, essa é a verdadeira herança dos movimentos feministas.