É curiosa a incompreensão e a intolerância de muitas pessoas que habitam esse meio ao criticar imagens postadas em grupos de discussão quando essas não lhe agradam.
Falta a percepção de que vivemos em uma sub-cultura marginalizada justamente pela intolerância de condutas. Grupo de discussão BDSM é um lugar onde a liberdade de expressão comportamental deveria ter seu lugar garantido, onde imagens amadoras deveriam ser muito mais valorizadas pelo fato de serem protagonizadas por membros reais da comunidade, porém o que acontece é exatamente o inverso. A censura aparece na sua forma mais torpe; a da crítica travestida de virtudes, cultuando comportamentos politicamente corretos em defesa do bom gosto ou do bom senso. Mas bom gosto e bom senso de quem?
O paradoxo nisso tudo é que a crítica normalmente é vinda de indivíduos que supostamente vivem isso na prática, ou no mínimo tem conhecimento de que tais práticas são integrantes daquilo que se entende como sadomasoquismo.
Sinto um ranço em certos discursos que apregoam padrões de conduta, que induzem pessoas a agir de acordo com suas crenças do “certo e errado”. Usam velhas retóricas sobre o tão propagado “bom senso” como mecanismo de controle, definindo nesse contexto o que deve ser aceito como imagem sadomasoquista e o que deve ser execrado por não se encaixar ao que lhes incomoda.
Parece que estamos implantando o “Fashion Week” visual do sadomasoquismo, onde somente o belo(?) tem vez. Ou então aos velhos tempos da censura onde bancas de jornais que vendiam pornografia eram incendiadas. Por precaução, o extintor de incêndio está ao lado do micro.
Eu não gosto de imagens comerciais, embora sejam de uma plasticidade incomum, são construções falsas, não correspondem à realidade de uma relação SM, mas nem por isso as condeno. Há quem se identifique com elas e as aprecia. Há quem use isso como um referencial. Ótimo! Mas que respeitem também o reverso da moeda. É preciso aprender nesse meio a conviver com outras vertentes e prazeres diferentes. Principalmente porque tudo dentro dessa sub-cultura é conceitual e de onde estou meu ponto de vista pode ser muito diferente do seu ao olharmos para o mesmo assunto.
Não aceito esse tipo de crítica, não me agrada a idéia de cerceamento para proteger olhares sensíveis e pudicos dentro de um grupo marginalizado por um comportamento alternativo. Estamos numa comunidade madura para questões dessa natureza e creio que, se é possível conviver com todo tipo de mensagens como poemas, afagos, piadas, vídeos e inúmeros temas que nada tem a ver com a discussão SM e mesmo assim caem em nossa caixa postal diariamente, qual o problema de se deletar as raras fotos ameaçadoras aos zelosos olhares indefesos?
Não faço defesa da pornografia gratuita, mas quando uma imagem explicita está dentro de um contexto sadomasoquista, erotizada ou não, ela tem todo o meu respeito, seja em que formato for. Temos livre arbítrio para escolher nossas preferências e não será uma imagem divulgada num espaço sadomasoquista que forjará o comportamento de alguém.
Prefiro mil vezes visualizar uma imagem pobre de recursos técnicos e rica em conteúdo real do que a artificialidade que salta aos olhos a todo momento.
Essa é uma forma destrutiva de se lidar com semelhantes que tem a veia narcisista aflorada. Afinal, essa exposição faz parte da natureza de muitos membros da comunidade BDSM, ou quem participa de plays parties está imune a isso? É obvio que quem se expõe o faz de forma prazerosa, até aquele que obedece cumprindo ordens está ali também pelo prazer implícito do momento.
Não vou entrar no aspecto psicológico da questão, porque teríamos que rever todos os lados da moeda antes de qualquer julgamento de valor e até onde sei, muito do que fazemos é rotulado pela psiquiatria como comportamento parafílico.
É uma refrega hipócrita que às vezes assola esse meio. Há que se louvar os que diante desse patrulhamento dão de ombros e continuam vivendo e divulgando seu modo de vida, em contra-partida, pessoas que poderiam contribuir nesse sentido, passam a analisar se vale à pena compartilhar com o grupo imagens genuinamente sadomasoquistas, sejam elas explicitas ou eróticas, que a rigor, serão vítimas desse tipo de olhar preconceituoso.
Todo material deveria ser bem-vindo, deveria servir de base para discussões ou aprendizado sobre a prática, mas nunca ser usado como pano de fundo para críticas preconceituosas.