Freqüentemente leio mensagens de BDSMistas com o dedo em riste apontando cicrano ou beltrano como Baunilha apimentado. Falam sobre qualquer assunto e pronto! Encaixam o sexo apimentado como se fosse o armagedon.
Realmente eu não compreendo esse tipo de visão, não vejo como se pode deserotizar algo que Sade e Masoch sempre pregaram em suas literaturas (coisa que muitos que se dizem entendidos no assunto nunca leram). Parto do pressuposto que os pilares do SM se baseiam também nos dois. Essa questão toda é muito conceitual, não existe a tal tábua do BDSM com os dez mandamentos, existem adaptações que fazemos para tentar nos aproximar ao máximo do que é praticado lá fora.
Difícil uma forma de mensurar a equivalência entre um tapa e uma seqüência de chicotadas em pessoas diferentes. Para alguns, um tapa tem o mesmo efeito que uma sessão de spanking tem para outros. O que nos une é a discriminação social que sofremos por conta das práticas diferentes que exercemos, isso nos torna de certa forma iguais, mas quando começamos a esmiuçar essa igualdade, percebemos a gama de diferenças existentes dentro de um grupo.
Não há uma cartilha que deva ser seguida à risca, não somos como os “goreanos” que tem uma literatura à mão para dirimir dúvidas. No meu modo de ver, é uma grande utopia querer moldar essas relações, pois quem o faz, sempre tende a defender seu ponto de vista.
Pessoas são diferentes com necessidades diferentes e só se relacionarão bem quando o outro lado satisfizer essas expectativas.
Cada qual norteia e regula seu relacionamento de acordo com suas possibilidades. A sensação que tenho é como se esse dedo em riste quisesse nos dizer: “faça como eu faço para que eu me sinta melhor”, vejo isso mais como uma questão de insegurança do que qualquer outra coisa. Não aceito essa prepotência de alguns que querem impor suas regras e normas do que pode ou deve ser praticado. Eu sou sádico, gosto de impingir dor em quem me serve, mas nem por isso deixo de respeitar quem pratica um SM light com maiores doses de erotismo. Até mesmo porque o Marquês era um libertino, isso é fato. O SM que praticamos é o SM erótico, porque se quisermos levar a coisa a ferro e fogo, melhor agir como Sade colocou em 120 dias de Sodoma.
Fica a impressão de que essas pessoas não se relacionam sexualmente com suas peças, e se não o fazem, é uma opção, mas isso não lhes dá poderes para exercer esse tipo de julgamento.
Pelo andar da carruagem, logo teremos vestibular para saber quem pode praticar SM. Quem sabe em curto espaço de tempo, Dominadores e escravas com certificado ISO de qualidade.
O que fica de fato é a constatação de que poucos conhecem realmente as bases daquilo que pregam, não vêem é que debaixo desse guarda-chuvas (BDSM) existe uma quantidade enorme de vertentes, cada qual com seus subgrupos e peculiaridades.