Muito se fala sobre o aprendizado de técnicas e teorização de práticas, mas algo que deve ser a primeira lição no BDSM é o conceito ético.
Vejo como ética no BDSM o respeito à propriedade alheia. O entendimento do simbolismo da coleira e seu significado é algo que deve ser respeitado de forma incondicional, em qualquer situação.
A compreensão desse respeito é o principio fundamental para se viver o BDSM de forma coletiva. É necessário ter em mente que nesse universo não é cabível qualquer tipo de preconceito. O fato de não gostar ou aprovar determinadas práticas, não legitima nenhum direito a alguém contestar ou interferir na relação alheia se as partes envolvidas estão plenamente satisfeitas com o formato em que vivem suas fantasias.
Infelizmente a falta de ética é como “Goiabada Cascão”, cada dia mais rara de encontrar. Lamentavelmente, uma parcela dessa safra de novos pseudo-dominadores preocupa-se demais com detalhes que não lhes dizem respeito, criticam preferências de outrem quando o mais próximo que chegaram do assunto foi através do “ouvi falar” ou “vi na net”. Sequer vivenciaram aquilo que elegeram como certo ou errado.
Alicerçam seus pontos de vista em teorias inconsistentes e resolvem brincar de “arbitrar” o certo ou errado; pensam que tem o direito à falta de educação para desqualificar aquilo que lhes foge à compreensão, às vezes por leviandade, outras por ignorância.
Precisam do apoio público para sentirem-se fortalecidos, situação muito peculiar em comunidades onde se esforçam para tentar criar constrangimentos às peças alheias apontando supostos abusos como forma de abrandar suas frustrações derivadas de suas limitações e inseguranças.
Crêem que esse comportamento inadequado, deselegante e hostil para com seus pares lhes trará algum tipo de notoriedade e reconhecimento público.
Entendo que aprender a ter um comportamento digno, agir como homem no sentido real da palavra, ter uma conduta digna de quem se propõe a educar e conduzir outrem é a primeira e mais importante lição a ser aprendida.
Essa atitude associada a um despreparo intelectual faz com que esses indivíduos ajam infantilmente, pensando estar no pátio do colégio fazendo “graça” para chamar a atenção das mocinhas deslumbradas.
Lamento ver esse comportamento numa comunidade onde um Dominador deveria ser visto como um modelo a ser seguido pela dignidade, honradez e caráter.
São adjetivos mínimos para se conquistar o respeito; qualidade obrigatória que antecede a aquisição de qualquer escrava.
Ironicamente modelos não se criam com facilidade. Determinadas pessoas tem traços psicológicos desagregadores e precisamos aprender a conviver em grupo com isso sem nos deixar contaminar.
Postura ética é a lição de casa que todos aqueles que se propõem viver nesse meio devem ter em mente.
O desrespeito a alguém de coleira não é apenas para a pessoa em questão, esse ato proposital, ou não proposital é uma afronta ao Proprietário da escrava.
Censuras, assédios, críticas ou observações indelicadas e principalmente em público, fere qualquer conceito ético numa comunidade BDSM.
A ética pressupõe a um Dominador legítimo levar suas possíveis diferenças com a escrava alheia diretamente ao Dono da mesma e, jamais, em tempo algum, usar desse artifício para joguinhos baratos de exibicionismo e vaidade, típico das personalidades fracas que tem necessidade de se fazer notar.
O que esses indivíduos não percebem é que essa linha de conduta nunca os tirará da condição marginal de aspirantes a Mestres, jamais serão reconhecidos como dignos e merecedores do título que se auto-intitulam e, por conseqüência, estarão sempre à sombra, atônitos e anônimos nesse cenário funesto.