O BDSM é uma prática consensual e deve ser prazerosa a ambos. Algumas pessoas confundem o sadomasoquismo erótico (praticado por BDSMistas) com violência doméstica. Isso é um grande equívoco. Existe toda uma filosofia envolvendo o BDSM que é contrária a qualquer tipo de conduta abusiva.
O que caracteriza o BDSM é a troca voluntária e erótica de poder. Uma de suas principais virtudes é a liberdade de escolha, onde cada um pode sair do relacionamento no momento em que julgar conveniente. Por outro lado, a violência doméstica se diferencia do BDSM por utilizar um padrão de intimidação, agressão e isolamento sem o consentimento do parceiro.
Um dos princípios mais enfatizados pela comunidade BDSMista é o respeito pela fantasia alheia.
Por esse motivo, existem as “negociações”, que no meio BDSM significam: acordar aquilo que cada um deseja que aconteça dentro de uma cena, evitando-se assim, dessa forma, qualquer tipo de conduta abusiva que substitua o prazer por um momento destrutivo.
Nessas negociações as fantasias de ambos devem ser discutidas. Deve-se definir o que dá prazer e o que deve ser deixado fora da relação. É importante que isso fique claro a ambos, para que a linha demarcatória jamais seja ultrapassada.
A negociação deve englobar tanto os limites físicos quanto os psicológicos. Ninguém pode submeter-se à humilhações se isso não fizer parte da fantasia e do prazer proposto. Determinadas pessoas podem sentir-se ofendidas com agressões verbais, atos degradantes e isso deve ser discutido à exaustão antes de um compromisso formal ou mesmo uma cena esporádica.
Muitos praticantes optam por redigir contratos de submissão, cujo objetivo é descrever aquilo que foi acordado na negociação. Evidentemente esses contratos não tem nenhum valor legal, servem apenas para lembrar a ambos o que querem ou não dentro da relação. Às vezes, depois de algum tempo, ficam dúvidas sobre o que foi combinado e esses contratos servem como um referencial. Isso não significa que não possam ser alterados a qualquer instante caso um dos lados sinta-se desconfortável ou arrependido com tal acordo, ou mesmo, para inclusão de novas diretrizes. Um contrato não é obrigatório na relação, é somente uma formalidade litúrgica, opcional, para praticantes que assim o queiram e jamais pode ser usado como ferramenta de coação se uma das partes envolvidas mudar de ideia.
E o que fazer se não houver entendimento? Adota-se a medida mais simples, o bom senso. Desfaz-se o acordo e cada um segue sua vida em busca de um parceiro que seja compatível com suas fantasias.
A relação Dominação/submissão só tem sentido se for uma fantasia vivida a dois.
Ninguém pode ser obrigado ou coagido a abrir mão de desejos ou prazeres. Não existe nenhuma regra no BDSM que obrigue um praticante a agir de modo servil no momento em que a relação deixou de ser prazerosa ou que force a continuidade da relação quando não há mais motivação para isso.
Naturalmente, em todo relacionamento, existem novidades, situações imprevistas não discutidas durante a jornada.
Um exemplo hipotético:
Depois de algum tempo de relacionamento o Dono decide ter uma nova escrava sem que isso tenha sido negociado anteriormente. Ou, mesmo que discutido, tenha havido uma mudança de opinião de sua parte (todos temos o direito de mudar de ideia).
O que deve prevalecer nessa situação é a racionalidade. Dialogar e renegociar para se chegar a um consenso. É direito do dono ter mais de uma escrava se isso fizer parte da fantasia dele, mas, também é seu direito não querer viver um relacionamento nesse formato se isso não lhe der prazer.
Ele ser seu dono não lhe obriga a participar ou viver algo que não seja prazeroso. Ele, mesmo sendo Dono, não pode lhe impor nada que não faça parte da sua fantasia. O BDSM, como eu disse anteriormente, é consensual. Numa situação dessas, caso não exista acordo, você pode perfeitamente devolver a coleira e sair do relacionamento.
É preciso ficar claro que dentro do BDSM não pode haver nenhum tipo de violência ou agressão que fuja ao prazer proposto. Qualquer situação que vá contra a construção de um relacionamento saudável para suas fantasias, que você julgue violenta, que fira seus princípios morais ou éticos, deve ser abortada com uma conversa franca ou com o término da relação.
Tenha em mente que as atividades sadomasoquistas, no universo BDSM, só podem ser toleradas como um estímulo na satisfação sexual e psicológica de seus praticantes e sempre de maneira segura e consensual. Fora desse contexto, deixa de ser BDSM.