É muito comum nessa fábula sadomasoquista nos depararmos com a pitoresca figura do Dom Quixote. É aquela personagem que habita os mais diversos canais do meio, opinando sobre todos os assuntos, tentando mostrar conhecimento de causa, tentando cooptar, seduzir, trazer pessoas para aderir às suas idéias. De certa forma, é como se ele mesmo não acreditasse no que diz, necessita de reforço positivo.
Ele está sempre ali, à espreita, furtivamente atrás de uma oportunidade para puxar algum assunto polêmico, usa os conceitos tidos como “politicamente corretos” para amparar seu débil discurso. É o eterno indignado, o reformador do mundo, uma figura exótica que se vê como um “colaborador injustiçado”, esquecido, mas sempre lembrando a todos: Eu disse isso num outro momento!
Normalmente esses infelizes apregoam histórico anterior ao próprio BDSM, dizem-se praticantes há pelo menos ¼ de século.
São por eles mesmos vistos como a história ambulante, a enciclopédia não lida.
Essas curiosas criaturas gostam de apontar o “certo” e o “errado”; com seu frágil e hipócrita discurso definem o “bem” e o “mal”, o “bom” e o “ruim”, o “são” do “insano” e por aí viajam em suas sandices maniqueístas.
Obviamente toda essa suposta experiência de vida é embasada na teoria. Esses seres selenitas, por razões obvias, sempre estão solitários ou quando muito, relacionam-se de forma meteórica.
Feito um Dom Quixote tupiniquim, ele vai às armas, apela para o emocional de seus ouvintes e tenta atacar o Moinho. Muitas vezes sai das sombras algum Sancho Pança deslumbrado, daqueles que assim como o gado, acompanham a boiada e atendem a qualquer chamado.
Essa insatisfação aumenta na medida em que seu discurso não ecoa. Irrita-se, grita e busca elementos para reforçar sua argumentação. Invoca pessoas e situações passadas para ilustrar essa fábula.
Curiosamente, nosso quixotesco ser é engolido por seu próprio discurso, por sua intransigência e sua forma preconceituosa de não conseguir conviver com diferenças.
Tantas diferenças, aos seus olhos são perigosas, incomodam, mexem com seu interior. Sua auto estima fica em frangalhos. Sequer domina suas idéias... Quiçá suas emoções?!
Essas grotescas criaturas indefinidas assumem um papel que lhes é desconfortável, querem dominar, mas são frágeis, sensíveis e emocionais.
Pobre Quixote... Como sofre com tal destino.
Talvez sua saída fosse preocupar-se consigo mesmo, tentar ser feliz com suas fantasias ao invés de invejar a fantasia alheia.