Nos impasses do tratamento analítico, na economia e erotização do sofrimento, nas devastações amorosas, consideramos que o masoquismo traduz um traço simbólico de estrutura, no vazio e na dor da qual padece o sujeito do desejo.
Freud encontra provas suficientes para concluir sobre a primazia da pulsão de morte no masoquismo. Em "Dostoievsky e o parricídio", ele destaca o temor ao pai, e afirma que "o destino, em última instância, não passa de uma projeção tardia do pai" e remonta a origem do "extraordinário sentimento de culpa e da conduta masoquista a um componente feminino especialmente intenso" (1974[ 1928], p. 214). Neste gozo de servidão, expressão do desejo de matar o pai, Freud destaca, ainda, o desejo de "ser" o pai. Assim, a identificação paterna, permitida pelo supereu como punição, pode ser expressa na frase citada por Freud: "Você queria matar seu pai, a fim de ser você mesmo o pai. Agora, você é o pai, mas um pai morto". Além disso, acrescenta: "... agora, seu pai está matando você" (Ibid.). Para Freud, "o sintoma da morte constitui uma satisfação, em fantasia, do desejo masculino e, ao mesmo tempo, uma satisfação masoquista. Ambos, o eu e o supereu, levam avante o papel do pai" (Ibid.).
E importante notar que, nos primórdios de sua abordagem psicanalítica pelo simbólico, Lacan destaca a função do pai morto como correlata àquela do significante (Lacan, 1998[ 1966], p. 319). Em uma espécie de monumento ao pai morto, "o passado se manifesta revertido em repetição" (Ibid.). E, portanto, como desejo de morte que o significante se afirma. A partir de seu seminário "O avesso da psicanálise", Lacan concebe o pai morto como equivalente ao gozo. A medida que o pai está morto, somente poderá funcionar como operador estrutural da defasagem entre o gozo esperado e o alcançado, por meio da criação repetitiva do traço simbólico.
Retornemos a Freud. Em 1920, em "Além do princípio do prazer", ele formaliza mais amplamente a morte, o masoquismo e a repetição, pela neurose traumática. No circuito pulsional regressivo provocado pelo "susto", destaca uma barreira ao percurso do desejo. O susto corresponde "ao estado em que alguém fica, quando entrou em perigo sem estar preparado para ele" (Freud, 1974[1920], p. 24). E este estado de desamparo do Outro que irá provocar a repetição da experiência traumática. Ele sublinha o "não" (que desenvolvemos em relação à negativa e ao recalque): "Talvez estejam mais interessadas em não pensar nisso" [nas lembranças do acidente traumático]. Finalizando este capítulo de "Além do princípio do prazer", Freud evoca a tragédia, que comove e não poupa os espectadores, colocando a céu aberto as mais penosas experiências e, assim, convoca-os a imergirem em uma abordagem econômica, cujo âmbito é o do além do princípio do prazer.
Na fantasia primitiva, ou tema originário, exemplificada em seu texto "Bate-se em uma criança", Freud ressitua a significação em nível do pai interditor, como aquele que também dá um "nome" ao que se repete. Lacan sugere o "pai dos nomes", como o que advém nos buracos e no indizível da "não-relação sexual". Em sua "ex-sistência", traduzem a ligação entre a castração e a interdição do incesto, com os traços que se extraviam com o objeto a (R.S.I., lição de 15/4/1975, inédito).
Neste sentido, ele esclarece que o simbólico abre um buraco ao colocar o objeto em uma exterioridade íntima ao corpo sexual, porque o que interessa ao corpo é o corpo como orifício, para que algo de gozo se produza em nível sexual.
Vamos nos permitir, agora, traduzir a identificação freudiana relativa ao "amor ao pai" como um limite ao aspecto infinito e constante do pulsional (Freud, 1974[1921], p. 136). Retomemos a descrição de Freud da identificação, primeiramente sob a forma original de laço amoroso e, posteriormente, sob a forma regressiva, para abordarmos o Édipo e a castração:
Um determinado ego percebeu uma analogia significante com outro sobre certo ponto, em nosso exemplo sobre a receptividade a uma emoção semelhante. Uma identificação é logo após construída sobre este ponto [...]. A identificação por meio do sintoma tornou-se assim o sinal de um ponto de coincidência entre os dois egos, sinal que tem de ser mantido reprimido. (Ibid.)
O Édipo nos ensina que o sujeito deve simbolizar a perda de gozo, acreditando poder recuperá-lo em objetos substitutos, em um dos quais erige a imagem de seu eu. Se o gozo é o que o sujeito perde ao falar - o sujeito padece do significante -, é porque dele está separado e por ele dividido. Neste momento de divisão, o sujeito inconsciente se depara com "um capítulo censurado de sua história". Para responder a este enigma da existência movido pelo desejo inconsciente, ele só tem como recurso o quadro da janela da fantasia, cenário aberto para o real, lugar do impossível de dizer. A medida que a fantasia sustenta o desejo, o neurótico poderá dar um nome de gozo ao atravessar os momentos de impasse de sua história, que a pulsão de morte faz repetir e retornar. São nestes pontos de impasse denotados pela castração que o gozo masoquista ressoa.
O destino é encarado por Freud como um substituto do agente parental. Ele escreve: "Se um homem é desafortunado, isso significa que não é mais amado por esse poder supremo, e, ameaçado por essa falta de amor, mais uma vez se curva ao representante paterno em seu supereu, representante que, em seus dias de boa sorte, estava pronto a desprezar" (1974[1930], p. 147).
Por meio da castração, conjuga-se o desejo à lei paterna, instaurando a marca simbólica do gozo por um interdito. Quando o desejo retorna sob a forma de um enigma que contém a pergunta: "O que o Outro quer de mim? A perda? A morte?", este enigma, exemplificado pelo trágico Édipo, edifica a estratégia do desejo sustentada na fantasia como resposta.
Quando o desejo da mãe é interditado pela lei, o mandamento paterno, o Nome-do-Pai, como potência de criação e um dos nomes da positivação do Um repetitivo e divisor, enlaça gozo e corpo, instaurando a estrutura edípica do desejo. Estes rastros, que o complexo de Édipo e a castração inserem na estrutura da fantasia fundamental, são os únicos signos indicativos da trágica história do desejo.
O masoquismo permitiu a Freud abordar, depois de 1923, a primazia do falo, e destacar, naquele mesmo ano, o estatuto do supereu. Esta noção lhe permite referir o supereu à incorporação do pai, sua ""herança arcaica". Para tanto, ele observa nas encenações uma obediência incondicional ao poder do Outro. Freud o compara: "A última figura na série iniciada com os pais é o poder sombrio do destino, que apenas poucos dentre nós são capazes de encarar como impessoal" (Freud, 1974(1924] p. 209). Além de considerar a relação do supereu à herança paterna e ao destino, Freud invoca os enig-mas e o poder sombrio desta figura "suprema".
Freud desenvolve, em "Por que a guerra?" (1933) e em "O mal-estar na civilização" (1930), como a civilização educa o homem para a posição sacrificial, cuja renúncia pulsional lhe é imposta para alcançar um pouco de "suscetibilidade à cultura". A renúncia pulsional e o sacrifício pulsional daí decorrente, por sua vez, nutrem o supereu. No entanto, por mais glutão que possa ser este, ele deixa um resto que é, em suma, correlato ao próprio sacrifício a ser recuperável pela linguagem. A renúncia inerente "ao medo do supereu não basta, pois o desejo persiste e não pode ser escondido do supereu" (Freud, 1974 [1930], p. 151). Esta persistência do desejo invoca, no supereu, o comando e a exigência do gozo que o masoquismo primordial, relativo à pulsão de morte, insiste em perpetuar.
Expressão de uma "atividade muda e sinistra", exercendo-se sob o postulado da pulsão de morte, tanto em seu aspecto de "restaurar um estado anterior e inanimado pela repetição", como em seu aspecto de silêncio pulsional, o masoquismo é relativo ao supereu. Freud diz:
Enquanto tudo corre bem com um homem, a sua consciência é lenitiva e permite que o eu faça todo tipo de coisas; entretanto, quando o infortúnio lhe sobrevém, ele busca sua alma, reconhece sua pecaminosidade, eleva as exigências de sua consciência, impõe-se abstinência e se castiga com penitências. (Ibid., p. 147)
O que suporta a consciência moral, no masoquismo, é o supereu referido ao gozo da pulsão, da qual apenas ressoa o signo da culpa e sua insistência na "necessidade de punição". Inicialmente definido como instância punitiva e restritiva (em decorrência das renúncias impostas pelo Édipo), o supereu será, posteriormente, considerado o que advém dessa instância, insuficiente para "domar a Coisa indomável". Esta Coisa emerge do "subterrâneo psíquico" sob a exigência de uma exigência pulsional insistente desde um além do Édipo: Goza!
Correlato a um rastro pulsional não civilizado pela linguagem, o supereu não legisla, mas vocifera a premência pulsional, em uma lei insensata. O supereu se torna expressão de uma ordem impossível de satisfazer e que sinaliza um infinito pulsional, não barrado pela castração. O supereu aparece como uma instância que, longe de proibir o gozo, na realidade ordena-o, sob a forma de um imperativo que podemos traduzir por "goza de seu destino!".
Condenado, assim, aos conflitos decorrentes da renúncia pulsional, somente resta ao falante investir em um objeto de valor de gozo equivalente ao que foi perdido. Resta-lhe substituí-lo por outro de valor equivalente, lá onde o desejo inscreveu suas marcas instauradas pelo "horror da castração". Este é o sentido dado por Freud ao mito edípico que une o desejo à lei de interdição do incesto.
Após ter abordado o corpo em relação ao real e ao simbólico, interessa-nos tratá-lo em relação à imagem. O corpo que goza somente é apreendido como imagem com a ajuda das palavras ou significantes ao se esboçar a perda que chamamos castração. Neste ponto de repetição de gozo, ou seja, no traço e na letra de gozo - o objeto a, o aparelho pulsional encontra um limite. Pela castração, o corpo se corporifica, ou corpo-reifica, tomando a Coisa, equivalente à palavra latina res, no encontro com as palavras, ou seja, o corpo é marcado no traçado da pulsão pelo representante pulsional, equivalente ao traço unário, que Lacan nomeia einziger Zug (1988, p. 139).
Lacan destaca o circuito da pulsão indo ao campo do Outro, retornando e contornando as bordas erogenizadas do corpo. Ir ao campo do Outro, demandar ao outro aquilo que o sujeito imagina ser seu objeto de satisfação, já havia permitido a Freud trabalhar os objetos de desejo, desenhados e recortados pelo cortes da pulsão.