Um assunto muito discutido é a união da comunidade BDSM, que a meu ver é algo utópico num curto espaço de tempo.
É preciso que se leve em consideração a enorme diversidade de vertentes que se abriga sob esse acrônimo BDSM.
Para quem se aventura nesse meio, a princípio, encontrar uma comunidade é achar uma bóia no oceano, interage-se com o “meio”, trocam-se experiências, mas após certo tempo aparecem as diferenças, as contradições e principalmente a maneira como se interpreta o significado dessas siglas (BDSM).
Isso é conceitual e cada um de nós faz uma leitura específica, principalmente quando diz respeito às emoções e os sentimentos envolvidos nessa relação. Nesse momento em certas situações acontecem rupturas com o grupo quando os conceitos divergem.
A questão da liderança é a meu ver é um grande problema num universo de dominação e submissão. É muito difícil alguém que tenha essa posição de poder enraizado, submeter-se a algum tipo de hierarquia. Isso envolve manifestações delicadas como status, vaidades, posturas e valores ideológicos. É perceptível que esses egos inflados promovem discussões acaloradas por razões mínimas, e o “jogo do poder” sempre se manifesta das mais diversas formas. Tal situação faz com que a comunidade seja pulverizada, fragmentada, criando subgrupos ou dissidências difíceis de administrar num universo tão pequeno.
Os meios de comunicação de massa que vejo nesse cenário restringem-se a alguns grupos de discussão, comunidades virtuais muitas vezes questionáveis e poucas salas de bate papo, onde somente uma garimpagem perseverante produz algum retorno. Existe ainda o fator da distribuição geográfica que torna a formação física de grupos com algum tipo de identidade quase inviável. Todos esses itens acima são complicadores para o fortalecimento de uma entidade sólida.
s encontros que observo nesse meio, quase sempre são formados por grupos heterogêneos, que se confraternizam, mas não criam uma identidade própria.
A tentativa dos donos de listas e comunidades de liderarem seus grupos sempre esbarra nessa impossibilidade de fazer seus membros se submeterem às suas regras. Não é difícil mensurar isso quando observo a quantidade de membros nesses grupos e analiso o baixo volume de mensagens trocadas. Na maioria se resumem a fotos ou quaisquer outros tipos de afago. Duvido que essa maioria silenciosa nada tenha a dizer. Pelo contrário, poupam-se de virar vidraça, coisa bem corriqueira nesse ambiente.
Temas sérios ou instigantes acabam sendo queimados na fogueira das vaidades instituída e viciada e quando não caem para o lado das ofensas pessoais terminam com o afastamento daqueles que teriam algo a acrescentar.
Involuntariamente os grupos geram dentro de si subgrupos que não discutem idéias, mas motivam-se para defender o ponto de vista de alguém que seja interessante ter como aliado ou atacar desafetos de forma velada.
Quando alguém com suposto “status” ou “poder” posiciona-se, o que se nota é o séqüito de bajuladores endossando o que sequer entenderam.
Considerando que esses são os canais de comunicação que a comunidade possui e são tratados dessa forma, é compreensível que isso acabe levando para a formação de pequenos núcleos fechados com um diminuto número de integrantes, deixando uma legião de novatos sem nenhum referencial positivo criando suas próprias regras, pois os que seriam os agentes catalisadores e formadores de opinião estão saindo de cena.
Esse novo padrão de comportamento não se alinha com os grupos existentes, a falta de vínculo com antigos valores fica latente e os novos modelos instituídos causam desconforto ao ”Statu Quo”.
Talvez com o passar do tempo esses subgrupos possam em algum momento se alinhar em um objetivo comum possibilitando a criação de um mecanismo centralizador e normatizador do BDSM nacional semelhante ao processo de coalizão americana.
Antes que isso aconteça, muita água terá de passar debaixo dessa ponte.